Bang Bang Bauru: mortes e feridos a tiro com revólver ‘disparam’ na comunidade

 

Você notou que o noticiário em Bauru acumula uma série de ocorrências de assassinatos com uso de arma de fogo em finais de semana, sobretudo na região Noroeste? Ou considera que, sem juízo de valor ou outra razão, os registros correspondem à “rotina” de violência urbana?

O CONTRAPONTO levantou os dados oficiais até setembro e todos os casos noticiados de mortes ou ferimentos (por tiro de revólver), a maioria na região Noroeste, onde estão bairros com conhecidos guetos de tráfico de droga, como Santa Edwirges, Parque Jaraguá e Fortunato Rocha Lima.

Entretanto, embora a relação entre assassinatos a tiro, sobretudo com uso de revólver, e a geografia urbana tenha como componente mais comum o tráfico, os registros indicam que a escalada da violência não está associada somente a esta “motivação”. O CONTRAPONTO fez um recorte, amostragem, e observa, para reflexão, que nos últimos 30 dias, praticamente em todo final de semana, a Polícia Militar teve de atuar com ação repressiva, ou preventiva, em ocorrências graves, com inúmeros óbitos. Em vários casos, tirar a vida de alguém também esteve relacionado com indicação de motivação banal, fútil.

Conforme os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SAP), de janeiro a setembro de 2023, o número de assassinatos em Bauru já havia superado ao ano anterior, com 24 mortes, contra 22. Mas os casos continuaram no noticiário local. Veja a seguir, em amostragem de mortes e ferimentos com uso de arma de fogo, a descrição objetiva, sintética, dos últimos 30 dias – noticiados entre 12 de novembro e ontem (12/12/2023).

Observação – como estampado em nossas edições eletrônicas, produzimos reportagem setorizada, ao redor de temas estruturais, com ênfase para vetores da gestão pública. Também por isso, o CONTRAPONTO não faz cobertura diária dos registros policiais (papel já bem desempenhado por outros meios). O tema violência, – convivência comunitária e índices de segurança pública -, entretanto, está no nosso radar.

As descrições a seguir estão baseadas nos registros policiais. Há na periferia, reação de moradores em relação a ação policial e o aumento das mortes em confronto. Nesta matéria, não centramos neste aspecto. A amostragem chama a atenção para o aumento de casos graves de violência urbana com uso de revólver por jovens. Considerar isso “normal” já seria erro muito grave:

BAURU (A) BALA

O noticiário local traz uma sequência de crimes com uso de arma de fogo nas últimas semanas, a maioria com indicação da ocorrência na madrugada e, sobretudo, em finais de semana.

13/11/2023 Vila Dutra/Roosevelt – equipes da PM partem, na madrugada, em busca de suspeitos pelo roubo de uma moto de um casal próximo do Pq. Rossovelt. O dono da moto foi recebido a coronhadas na cabeça por dois sujeitos. Em outro chamado ao 190, a Força Tática é acionada para localizar outros dois bandidos que levaram um Corsa prata de outro bauruense, que também levou coronhadas na cabeça dos bandidos.

 Na patrulha, a equipe de policiais localiza o Corsa na região da Vila Dutra. Na tentativa de abordagem, os policiais descrevem que foram recebidos a bala. Revidam. Morrem um jovem de 21 anos (portando um revólver 38 e uma garrucha, no carro) e um de 20 anos (também com um 38). A moto, do outro roubo, é localizada pela Polícia no Parque Jaraguá, na madrugada.

Este caso demarcou a sexta morte, até então, de ocorrência onde a forca de segurança aponta na  descrição ação de confronto de pessoas com a Polícia Militar em 2023.

23/11/2023 Fortunato Rocha Lima – uma mulher de 22 anos conta à Polícia que estava na rua, por volta das 22h45, quando levou 3 tiros. Um atingiu a barriga e outros 2 a coxa direita. Ela sobreviveu. Motivo? Sem identificação.

23/11/2023 Santa Edwirges – um rapaz de 18 anos relata que estava em um bar, às 22 horas, quando uma pessoa sacou uma arma e atirou. A cápsula parou abaixo da orelha do jovem. Motivo? Em apuração.

24/11/2023 Fortunato – Um jovem de 18 anos leva tiros de um homem que estava dentro de um carro. É sexta-feira à noite. Ele foi atingido, mas sobreviveu. Uma mesa de sinuca ao ar livre, na rua, ficou como “testemunha”… 

27/11/2023 Santa Edwirges – 23 horas. Dois homens são baleados, dentro de um bar. Segundo os registros, 3 homens desceram de um Ford Escort Azul e um deles disparou contra um moço. Ele foi atingido por tiros na nuca e nas costas. Mas está vivo. 

01/12/2023 Ouro Verde – uma professora que deixava a EMEI do bairro registra que ouviu três tiros, vindo dos arredores. Entrou correndo de volta à escola. Mais tarde, verificou que seu carro estava com furos (a bala) no vidro traseiro – que provavelmente também perfurou o encosto de cabeça do banco do passageiro.

01/12/2033 Jardim Ivone – um homem é atendido em Unidade de Saúde com ferimento por tiro na mão. Ele não soube informar, na ocasião, como isso lhe aconteceu…

03/12/2023 Leão XVIII – homem de 37 anos morre, baleado na noite de sábado. Algum tempo depois, um suspeito comparece à polícia se dizendo ameaçado de morte – como suposto autor do assassinato. Motivo: fútil, banal…

06/12/2023 Pq. Roosevelt – equipe da Polícia Militar conta que em patrulha pela região do tráfico reage a tiros recebidos de um suspeito que teria se negado a ordem de “parar” (para averiguação). O homem atira, leva bala dos policiais, e foge em direção a um matagal. 

12/12/2023 St Edwirges/Roosevelt – rapaz de 17 anos morre em descrição policial de ocorrência de troca de tiros com o 13º Batalhão de Ações Especiais (BAEP). O confronto ocorreu em patrulha à região da “Biqueira da cerca”, conhecido ponto de tráfico por lá. O adolescente portava uma pistola 9 mm, 321 porções de maconha e 614 eppendors de cocaína.  Moradores questionam a versão de revide.

VIOLÊNCIA URBANA

O que as descrições de violência urbana (com recorte apenas em uso de arma de fogo) dizem a você? Reflita, opine. O CONTRAPONTO chama a atenção para a necessidade da reflexão pela comunidade. E não apenas em relação a temas imediatos, de sua calçada. O que acontece ao redor lhe pertence, lhe afeta… muda o retrato, a sensação e o sentimento (de pertencimento ou não) em relação a sua comunidade.   

 Como sugestão, trazemos a seguir estudo que acaba de ser divulgado pelo Instituto Sou da Paz, um trabalho robusto, com diferentes indicadores sobre  violência urbana no País. Os gráficos e avaliações também disponibilizam informações sobre os Estados e Municípios. 

É um, entre vários, vetores… Acompanhe, aqui, no CONTRAPONTO, a segunda parte, nos próximos dias.

 

ESTUDO CHAMA ATENÇÃO PARA BAIXA RESOLUÇÃO DE HOMICÍDIOS NO PAÍS

 

O trabalho divulgado nesta semana aborda velhas pendências, feridas, em segurança pública, violência e impunidade no Brasil. Entre vários vetores possíveis para a problematização da violência, sugerimos um recente pra sua leitura (e reflexão).

O material do Instituto traz que “é preciso dirigir os esforços e os investimentos do sistema de justiça brasileiro para aumentar a investigação e esclarecimento dos crimes contra a vida em vez de lotar prisões de presos provisórios por crimes patrimoniais e por tráfico de drogas. Este é o alerta do Instituto Sou da Paz na nova edição da pesquisa “Onde Mora a Impunidade?”, que mostra que o Brasil piorou o esclarecimento de homicídios em 2020 e 2021. Em Bauru, os números são muito melhores. Acompanhe na Série dados regionalizados.

Apenas 35% , ou seja, 1 em cada 3, dos 40 mil homicídios dolosos no Brasil ocorridos em 2021 foram esclarecidos, é o que revela a sexta edição da pesquisa produzida pelo Instituto Sou da Paz. Em 2020, o número foi inferior, 33% dos casos foram esclarecidos.

O trabalho traz muitas informações. O farto material está disponível (a seguir).

Leia estudo completo da nova edição divulgada ontem: Sou da Paz – Brasil esclareceu apenas 1 em cada 3 homicídios nos últimos 7 anos; veja série histórica do estudo

DADOS

Os organizados mencionam que, para compor o estudo, foram solicitados aos Ministérios Públicos e aos Tribunais de Justiça de todos os estados, via Lei de Acesso à Informação, dados sobre as ocorrências de homicídio doloso que geraram denúncias criminais até um ano após a data do crime. Foram solicitados dados para calcular as taxas de esclarecimento para as mortes ocorridas em 2020 (e denunciadas até o final de 2021) e 2021 (denunciadas até o final de 2022).

O Instituto Sou da Paz calcula o índice desde 2017 e a série histórica dos últimos sete anos revela que não houve mudanças significativas nesse período e o índice de esclarecimento de homicídios teve pouca variação no país.

Resolução homicídios

“Um dos fatores que contribuem para a perpetuação dos homicídios no Brasil são as taxas de impunidade. Quando o estado não investiga de forma correta e não responsabiliza os autores, dá-se um recado de que esses crimes não são importantes. E isso é um incentivo para que a prática continue acontecendo”, analisa Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. “É importante que os homicídios sejam esclarecidos para que a população confie no sistema de justiça e segurança pública. Quando o estado não dá resposta, a sociedade perde a confiança nas instituições, lançando mão, muitas vezes, de formas não republicanas de resolução de conflitos”, diz.

… …

Ah! Você já ouviu, leu ou analisou sobre o Índice de Exposição a Crimes com Violência (IECV)? Vamos trazer os dados pra você! Até!

 

3 comentários em “Bang Bang Bauru: mortes e feridos a tiro com revólver ‘disparam’ na comunidade”

  1. Temos de ter cuidado com os dados do Sou da Paz, porque às vezes apresenta dados da média de indicadores criminais do país. E como temos indicadores muito ruins nas Regiões Norte e Nordeste, a média fica muito distante da média do Estado de São Paulo, e da Região de Bauru.
    Teríamos que saber qual é o imdicador de Bauru pra fazermos uma análise melhor. Senão corremos o risco de achar que a média do imdicador de mortes violência é a que temos aqui, quando na verdade o nosso é muito mais baixo.
    Outra análise importante é qual o tipo de homicídio que está sendo praticado em Bauru. Costumo classificar os homicídios em 3 tipos: o passional, o de gente envolvida com o crime (tráfico de drogas, por exemplo) e o de gente trabalhadora que morre na mão de criminosos.
    Como sabemos, este último tipo seria o pior de todos, mas é o mais raro.
    Sugiro que, daqui em diante, a ficha criminal das vítimas sejam divulgadas.

    1. Caro Serpa, obrigado pela contribuição. Os dados estão detalhados, incluindo separaçao por região. Portanto, já considetada a regionalização. Quanto a divulgação de ficha de cada um, o acesso é dificultado pela polícia. Nos casos de confronto em razão do tráfico, uma alternativa é a polícia trazer a informação junto a Nota Oficial.
      Não obstante, observamos que esta matéria 1 chama atenção para a presenca maciça de revólver nas mãos de jovens, uma preocupaçao adicional.na gestao de politicas sociais e de segurança pública.
      Abc

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