Quem gosta de história da música brasileira deve ter ouvido, ou lido, sobre lendas. E homenagear Rita Lee – que nos deixou esta semana aos 75 anos vítima de câncer – é mergulhar na excentricidade.
E, não por acaso, a energia ao redor da rainha do rock com crítica social e ativismo guarda inúmeros ditos por ai. E documentários. Vídeos. Fomos atrás de alguns. Originais, por sinal!
Claro, a cidade de Mauro Rasi, Ozires Silva e do Rei Pelé (não esqueça, Edson Arantes do Nascimento é de Três Corações (MG), mas ‘Bilé’ surgiu perto da Estação)… coleciona inúmeras estórias. E muitas histórias também!
E pra referendar que contamos algo “baseado” em fato real, basta como aperitivo ouvir a própria Rita Lee no vídeo que roda na internet:
O disco é de 1972. O quarto dos excêntricos que integraram Os Mutantes. Rita Lee conta que o nome do álbum foi homenagem a Tim Maia. A história da gíria foi contada pela própria Rita em sua autobiografia, publicada em novembro de 2016. No capítulo “Recuerdos”, em que a artista cita memórias dos shows com Os Mutantes – onde foi vocalista entre 1966 e 1972 -, ela descreve a participação em festival em Bauru. Tudo “baseado”na fissura musical que também teve Tim Maia no palco.
Nelson Motta descreve o mesmo episódio em um de seus livros. Como contou Rita, Tim perguntou, no show, a seu modo como conseguiria um “bauret”…
CURTA METRAGEM
É evidente que o fato rendeu. E atravessou gerações. A contação desse barato musical está em “Baurets – A Estupefaciente Lenda do Síndico na Sem Limites”, produção audiovisual de Paulo Eduardo Tonon sobre Bauru.
No curta-metragem, músicos bauruenses tecem comentários sobre a lenda em torno de Tim Maia e o histórico show na cidade Sem Limites na década de 70.
A produção mistura informações oficiais (retiradas das biografias do Tim Maia, Rita Lee e Mutantes) com pitadas de bom humor, narradas por três personagens do rock bauruense: Aran Carriel (Autoboneco), David Calleja (Eclipse Oculto/ex-Baurets) e Luis Paulo Domingues (Obscuro Lavrador/Norman Bates e os Corações Alados). Tudo para alimentar o mito de que a gíria “Baurets” foi mesmo criada durante uma passagem de Tim Maia por aqui.
ALÉM DO SANDUÍCHE
Tonon comenta que outro objetivo do curta é mostrar que Bauru também está na linha da história do rock e da contracultura brasileira. “O fato da gíria ter sido utilizada no título de um dos discos mais importantes produzidos no país até hoje, o “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets”, de 1972, reforça isso”, observa.
“Infelizmente, o bauruense não conhece e não valoriza esse tipo de cultura. Ainda estamos limitados ao sanduíche Bauru. Também queria fazer uma homenagem a alguns amigos roqueiros da cidade e, além de todo mundo participar, eles ainda contribuíram muito com a proposta”, explica o autor.
O produtor conta que também utilizou a própria desinformação gerada pela internet como um elemento do trabalho. “Tinha saído uma reportagem com artistas da época e ninguém conseguia lembrar de fatos que comprovassem que o show do Tim Maia em Bauru realmente aconteceu. Isso também motivou certa confusão nos depoimentos que estão presentes no filme”, complementa Tonon.
O curta-metragem foi produzido para a integrar a “2˚ edição da Caminhada das Lendas Urbanas de Bauru” e financiado pelo edital Culturas Remotas de Secretaria Municipal de Cultura.
Outra curiosidade é que este edital não previa classificação indicativa das obras produzidas. “Eu só pude fazer esse projeto porque a inexperiência dos gestores da época abriu essa brecha. O filme passou só uma vez a meia-noite no YouTube e foi retirado do ar pela Secretaria de Cultura logo em seguida.
“Baseado” nisso, aliás, todos os editais da Prefeitura de Bauru estipulam desde então que os recursos públicos devem financiar apenas produtos de classificação livre”, finaliza o produtor.
Ou seja, pode ser baseado em fato real, mas não pode de baseado…
Ficha Técnica:
Título: Baurets – A Estupefaciente Lenda do Síndico na “Sem Limites”
Direção, edição e roteiro: Paulo Eduardo Tonon
Estrelando: Aran Carriel, David Calleja e Luis Paulo Domingues
Duração: 5 minutos
Cinegrafista: Lucas Melo
Trilha Sonora: Luis Paulo Domingues
Produção: Embarca Mídia
Lançamento: 30 de outubro de 2021.
LINK DO CURTA:
Fantástica matéria. Me tire uma dúvida. Esse show em Bauru em
que Tim cria esse termo foi, na verdade, no festival de Águas Claras, correto? Se foi isso, não tirando mérito algum do curta e de sua narrativa (vou ainda assistir), o fato se deu em Iacanga.
Muito bom