A entrevista do candidato a prefeito Luiz Carlos da Costa Valle (PSL) à rádio 96 FM/ Jornal da Cidade foi concedida pela vice em sua chapa, Gislaine Magrini (Podemos). Conforme Bruno Primo, advogado que integra a equipe da coordenação da campanha, os conteúdos apresentados pela vice representam, integralmente, a candidatura. Sendo assim, as respostas estão identificadas como Valle-Magrini.
Valle não participou diretamente da sabatina porque se recupera da Covid-19. Segundo a coordenação, se reuniu com Magrini e, juntos, repassaram os pontos principais de sua proposta. Sendo assim, dando sequência à contribuição do CONTRAPONTO ao debate eleitoral temático, segue, abaixo, o que a chapa Valle-Magrini respondeu ao ser questionada por Ricardo Bizarra (96 FM) e Thiago Navarro (JC).
Abaixo, a ilustração com a identificação dos três níveis de avaliação do CONTRAPONTO. Logo após as respostas, o CONTRAPONTO faz sua ponderação para o que foi respondido pela chapa, conforme aplicado aos demais candidatos:
- Por que querem comandar Bauru?
Valle-Magrini: “Por que assumir uma cidade que dizem está com muitos problemas? O Valle se afastou um período da política e, tanto ele quanto eu, começamos a ver perda de valores, família. E tomamos uma decisão, ou nós continuávamos talvez lá no sofá reclamando, ou nós saíamos e tentávamos resolver esse problema. A decisão que ele tomou veio de encontro ao projeto que eu tinha pra minha vida. Sair da zona de conforto e pensar em fazer algo para as pessoas. Amo pessoas e vejo no Valle isso, de amar pessoas também. É fazer Bauru crescer novamente e cuidar das pessoas“.
CONTRAPONTO: Resposta condiz com o mote da candidatura Valle-Magrini. A retórica e o conteúdo principal da campanha, até aqui, destacam “cuidar das pessoas”. A candidatura também adota tom conservador ao fazer menção a valores, como a família. O mesmo tom foi adotado pelo PSL.
- O plano de governo fala muito em auditorias, na Cohab, na Emdurb.
Valle-Magrini: “Desde que nós começamos a alinhar o que colocaríamos no plano de governo, o projeto inicial não é fazer só nesses dois lugares. O projeto é fazer auditorias em todos os contratos da prefeitura. Não dá para assumir uma casa sem saber o que tem dentro dela. Aqui temos os casos da Cohab e da Emdurb, É um projeto e é um objetivo.
Sabemos que tudo isso vai depender de como vão estar os contratos. O Valle diz isso, e eu apoio totalmente, de que nos primeiros meses essas auditorias aconteçam, nos seis primeiros meses. Também pretendemos rever contratos de aluguel e pensar na utilização da Estação Ferroviária, que precisa de uma destinação e colaborar na revitalização do Centro“
CONTRAPONTO (2): A ideia de fazer auditoria na Prefeitura já foi adotada por outros governos e os resultados, na prática, só surtiram algum efeito para os levantamentos específicos, como os contábeis. Até porque fazer auditoria em TODOS os contratos é algo bastante complexo e demanda muito mais tempo do que os seis meses apresentados.
Além disso, boa parte dos contratos da Prefeitura é permanente, contínuo, e outro tanto é renovado com período mais extenso do que o início da gestão, em janeiro de 2017. Ou seja, fazer auditoria em tudo requer avaliar a relação entre o “impacto eleitoral da medida” e a consequência fáctica sobre a realidade administrativa. A natureza da auditoria (contábil, jurídica, financeira, estrutural) também terá de ser dimensionada para que se tenha condição de saber o alcance da proposta. No ponto, a chapa tem pela frente o desafio de amadurecer o conteúdo e alcance de propostas, raciocínio que se encaixa para outras respostas dadas na entrevista.
- Cargos comissionados e indicação por partidos da Câmara
Valle-Magrini: “Nós não leiloamos cargo, nós não vendemos nada. Nossa cidade não está a venda. Nós não fizemos coligação pra isso. Nosso compromisso é cuidar do município, cuidar do cidadão bauruense. Por isso nós conseguimos coligar. Nós pensamos muito parecido. Estamos fazendo algo muito pé no chão. A gente vai ter que enxugar, vai ter que negociar, vai ter que rever contrato. Vamos ter de fazer um trabalho muito diferenciado, com muito pouco investimento, porque a gente não tem.
“Se alguém indica uma pessoa para um cargo, tem que ser avaliado se tem competência para assumir. Se ele não tiver o perfil, temos de ser transparentes e dizer. Para que não tenha um jogo de troca. Se ele (vereador) não vai votar algo do prefeito, acredito que ele também de justificar porque não votou. Essa barganha ideia de troca de cargos por apoio tem que acabar. Essa barganha é algo que tem de ser quebrado dentro da prefeitura. Esse diálogo entre Prefeitura e Câmara deve ser de respeito, com abertura para receber críticas e sugestões, tanto por parte do governo como dos vereadores”.
CONTRAPONTO (2): Do ponto de vista da resposta prática, a representante da chapa respondeu o que se esperava, sem abrir mão do trivial inclusive. A questão é que o mundo real da política-partidária não é este. Magrini tem, ao lado, o ex-presidente da Câmara, Luiz Carlos Valle, para que, com base nos mandatos que exerceu, explique como funciona o jogo. Se a ação é romper com esse jogo, a chapa terá enormes dificuldades em atuar politicamente. Se a retórica em si tem sentido, é nossa obrigação dizer o óbvio: que o mundo real não é assim.
. Abastecimento de água
Valle-Magrini: “O problema da água não é de hoje. Essa situação existe há vários anos, como a crise em 2014. Naquela ocasião foi feito o Plano Diretor de Águas, parte do que está previsto deve ter sido implantado, mas muita coisa não. As coisas tinham há que ter acontecido. Nos últimos 12 anos tivemos prefeitos ambientalistas, mas não se pensou nesse assunto. Colocamos no nosso projeto identificar o que foi feito do Plano e buscar pessoas técnicas para realizar um estudo para ver o que pode ser feito em Bauru. O que colocamos no nosso governo também é a utilização consciente do uso da água, começando pelos prédios da Prefeitura, para dar exemplo, e dá para fazer já no começo do mandato, com treinamentos e conscientização em escolas, nos prédios da Prefeitura. Enfim, em todos os lugares”.
CONTRAPONTO (1): Em suma atualizar o Plano Diretor de Águas (PDA), já contratado, e aplicar o que não foi feito, por etapas. É importante frisar, entretanto, que a essência objetiva da resposta, no centro da questão, implica em assumir a necessidade de trocar hidrômetros (a maioria velhos). E isso, por consequência, significa aumentar a receita do DAE para sustentar o plano de investimentos estabelecido no PDA, que é lei municipal inclusive. Mas precisa ser cumprido.
. Utilizar a Estação Ferroviária como?
Valle-Magrini: “É pegar a proposta da Prefeitura de uso do lugar e ver como ela casa com o que nós estamos pensando para a Estação. Temos um projeto que ainda estamos organizando. Está sendo pensado sim, inclusive de levar algumas áreas pra lá. Isso é muito importante pra nossa cidade. A gente não pode perder essa história“.
CONTRAPONTO (2): A própria resposta da chapa vai na direção do “depende”. A candidatura reconhece a necessidade de utilização do espaço, ma ainda está formatando sua proposta. Ao concluir a proposta, é essencial informar o custo de reforma e revitalização do prédio e a origem orçamentária para isso. Além disso, abordar a Estação não só em relação ao prédio em si, mas seu entorno, bordar, pátio ferroviário (como unidade de mobilidade urbana e de opção de moradia no Centro), além da rota de turismo.
. Como gerar desenvolvimento e atração de emprego?
Valle-Magrini: “Sempre nos perguntamos porque Bauru não atrai empresas. Começamos a ver outros municípios em que a imagem da cidade é ‘vendida’ para os investidores, mostrando o que tem de bom. Esta no nosso plano de governo um consultor industrial. Na verdade essa pessoa vai ser responsável por buscar empresas. Vender Bauru. Ainda estamos realizando os estudos para ver o que nós vamos oferecer de incentivos fiscais para as empresas. Mas vender sim Bauru no sentido do que ela ainda tem a agregar, o quanto ela pode crescer, o quanto essa empresa vai ter de positivo por causa do lugar (onde) nós estamos localizados, a nossa logística. Nossa cidade está angustiada precisando de empregos“.
. CONTRAPONTO (2): Ter alguém com a missão específica de captar negócios para a cidade não é algo estranho até porque há estrutura em forma de secretaria para isso. Mas, em si, a resposta é simplista. O investidor qualificado, de porte, estuda em detalhes os mercados de consumo, matéria prima e de escoamento do que pretende produzir, vender. As cidades que organizarem seus parques industriais, derem segurança jurídica para a regulação de instalação e funcionamento e indicadores positivos em saneamento, abastecimento, IDH, logística e outros vetores da qualidade de vida (segurança, crime, meio ambiente), terão adiantado um bom caminho. No caminho inverso, nessa pesquisa os grandes grupos são experts em identificar. Ou seja, este tema envolve muitas frentes, conteúdos, vetores.
. E a proposta de parcerias para ações culturais, e se o setor privado não quiser?
Valle-Magrini: “O dinheiro público deve ser para a educação, saúde, nas prioridades. O local para a realização de eventos é responsabilidade da Prefeitura. Mas o local fica ocioso. E porque não essas pessoas utilizarem esse local para gerar recursos para bancar esses eventos maiores, como o Carnaval”.
CONTRAPONTO (2): A candidatura assume a posição de não utilizar recursos públicos para a realização de eventos. Embora não especificado pela chapa, a questão apontou Carnaval e também apoio a calendário religioso na cidade. Ficou em aberto saber se a posição contrária ao uso de verba pública no Carnaval, no Sambódromo, vale para calendários religiosos, a Feira da Expo e a Parada da Diversidade, entre outros.