Está estável o número de “casos” novos de Covid-19 em Bauru. E a tendência é de queda na transmissão. A avaliação é consenso entre técnicos da Secretaria Municipal de Saúde. Hoje, a equipe Covid do Município emitiu nota técnica para pontuar que a inclusão de 623 registros na segunda-feira não reflete aumento de casos.
Como informando ontem pelo CONTRAPONTO, na coluna Candeeiro. a realização de testes em massa dirigidos (como em centros de idosos e, sobretudo, no sistema penitenciário em Bauru – onde a população carcerária passa de 8.000 detentos) “elevou” o contingente (numérico) dos boletins diários.
Entretanto, isso não representa aumento na média de novos casos. É que, conforme explicado pela Diretoria de Saúde Coletiva de Bauru, o Instituto Butantan, de São Paulo, inclui no sistema geral os “novos” registros. Mas os dados, a esta altura da pandemia, representam, em sua boa parte, transmissão de coronavírus de outros períodos.
No sistema penitenciário essa realidade é ainda mais presente. Porque o governo do Estado não realizou testes periódicos, muito menos em massa, nos detentos. E com a ação, agora realizada pelo Instituto paulista, quem pegou Covid-19 em outro período entra para a estatística “DE UMA SÓ VEZ”, “contaminando” a análise pontual.
A média de casos em Bauru, que já girou em torno de 160 novos registros, na primeira semana de outubro, voltou a ficar em torno de 100 casos na última semana. Neste momento, a média está também neste patamar.
Além disso, conforme o diretor da Secretaria de Saúde, Luiz Cortez, a indicação é de tendência de queda no Rt (índice de retransmissão de uma pessoa infectada para outra). Quando o Rt está abaixo de um a pandemia vai, aos poucos, caindo naturalmente. Isso porque, objetivamente, os contaminados “novos” não mais retransmitem para mais de uma pessoas, como antes.
A Secretaria de Saúde já havia detectado que o inquérito sorológico do Butantan gera “incongruência” na avaliação a partir do “número cru” de registros. No final de setembro, em testagem também em outro setor do Complexo Penitenciário de Bauru, surgiram 450 casos em uma sexta-feira, no boletim diário. Mas pelo menos 250 eram de detentos. Visivelmente relativas a transmissões de outros períodos, mas que entraram agora na “estatística”.
EXEMPLO CASEIRO E OBSERVAÇÕES
Vamos dar dois exemplos de que, além das dificuldades apontadas, a gestão da doença é de difícil avaliação.
Caso 1: um casal notificou que um deles contraiu a doença em Brasília (onde trabalha). Mas, em função da pandemia, voltou para Bauru. Aqui, ao refazer o teste, teve o registro positivo confirmado. Pergunta: o caso foi contabilizado em duplicidade como positivo? Em Brasília e Bauru? Possivelmente sim, porque não há cruzamento no sistema nacional, nem estadual.
Caso 2: em outro casal, a esposa teve teste PCR (biologia molecular) confirmado em laboratório particular em Bauru. O isolamento foi cumprido, com o marido, em um sítio, na região de Ribeirão Preto. Lá, o marido e a esposa refizeram o teste. O resultado do exame no marido deu negativo! Isso apesar de conviverem juntos. E na esposa? Negativo. Indicação, neste caso, de “falso positivo”? (já que ela apresentou sintoma de febre e diária na fase inicial, quando seu exame apontou positivo?).
De outro lado, o sistema de Saúde em todos os níveis ainda está aprendendo com a doença e suas formas de controle. Além disso, há necessidade visível de ajustes no controle Covid, a partir de experiências ao longo da pandemia:
— os governos do Estado e Municipal não realizaram testes em massa sequenciais, periódicos. Ao contrário, o inquérito sorológico foi descartado no “meio do caminho”.
— o reflexo disso é que o que se sabe sobre a doença é o que se tem para os pacientes que foram ao sistema de Saúde.
— A Prefeitura optou por testes em drive thru, sem estratificação. Eles forneceram, em determinado período, apenas a informação pontual de que o vírus estava presente na comunidade. Mas sem a divisão territorial, por idade, sexo, a ferramenta não ajuda no “controle” de gestão ativa da doença.
— O inquérito realizado tanto com a Unesp-Botucatu e a Universidade de Pelotas (paga pelo Governo Federal) trouxeram resultados muito ruins (mostrando ineficácia do reagente utilizado).
— A Secretaria de Saúde desenvolveu ações em outras frentes para compensar as dificuldades com os testes rápidos, organizou sistemas de ação ativa na direção de contactantes e contratou mais testes. Mas é impossível a repetição periódica de testes e no volume desejado para que os técnicos possam ter dados mapeados com consistência a ponto de “interferir” no andamento da pandemia.
— com ao natural aumento de casos, a redução na lotação hospitalar de casos graves (o HE passou a teer ocupação de UTI menor do que 80% nos últimos dias), a tendência é de que a Covid-19 entre, de vez, em declínio em Bauru.
— Mas se a população afrouxar as regras de distanciamento, higiene e voltar a aglomerar, o percentual de moradores que não contraiu a doença vai ser contaminado e, com isso, os casos podem voltar a aumentar.
AVALIAÇÃO TÉCNICA DA SAÚDE
Abaixo segue a nota técnica emitida hoje pela equipe Covid da Secretaria Municipal de Saúde de Bauru:
“Com relação aos casos confirmados de Covid-19 divulgados no boletim do dia 19/10/2020, a Secretaria Municipal de Saúde por meio do Departamento de Saúde Coletiva, informa que após necessária análise, constatou-se que o abrupto aumento verificado naquele informativo se deve à notificação de casos positivos em inquérito sorológico realizado em parceria com o Instituto Butantan e que abrange diversos grupos populacionais e instituições entre eles: abrigos, unidades do sistema penitenciário entre outros.
Desta forma, 519 dos 623 casos divulgados, foram resultado desta ação e apenas 104 foram notificados pelas Unidades de Saúde de Bauru.
Reiteramos, contudo, que os números publicados necessitam ser interpretados de forma dinâmica, no decorrer do tempo, pela sua regularidade, constância e não de forma isolada”.