Não é simples, nem tecnicamente completo, comparar dados e resultados da gestão Covid-19 entre cidades. Há fatores singulares que os números não alcançam. Todavia, o CONTRAPONTO levantou para você informações oficiais, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) sobre recursos disponíveis, leitos hospitalares ofertados, despesa específica com a pandemia, exames realizados, número de óbitos…. Sobre a variante do vírus, será divulgado nesta semana que ela circula em Bauru, com os três primeiros casos confirmados pelo Estado, em sequenciamento genético realizado pelo Laboratório Especializado do Instituto Adolfo Lutz. Outras mutações estão em cidades da região. (leia abaixo).
Antes, falemos do comparativo do Tribunal de Contas.
Os dados estão no portal do TCE Paulista e contemplam 2020, o ano sanitário que entra para a história em razão do combate à pandemia do coronavírus. Para tanto, separamos os dados de 3 cidades do mesmo porte populacional. Bauru, Franca e Piracicaba têm características estruturais singulares, claro, mas a população e o total de leitos UTI oferecidos por essas cidades na pandemia são próximos.
Nem por isso (veja o quadro obtido a partir da compilação oficial feita pelo TCE SP) a gestão Covid deixa de apresentar resultados diferentes.
Veja no comparativo que Bauru ofertou total de leitos públicos para internação de casos graves próximo de Piracicaba (58) e Franca (48) até o final do ano. Através do Hospital Estadual (HE), referência para coronavírus na região, aqui fechamos 2020 com 50 UTIs. (Bauru já chegou a ter 56 vagas no topo da pandemia).
Contudo, a região dá cobertura a 38 cidades na divisão realizada pelo governo do Estado, contra apenas 22 cidades para Franca e 25 cidades para Piracicaba. Ou seja, o comparativo do TCE não divide o número de UTIs pela população atendida em todas as cidades.
As duas cidades também contaram com mais recursos federais do que aqui. Baseado no indicador oficial (IBGE), com 353.187 habitantes, Franca teve repasse de R$ 36,84 milhões para custeio apenas da Covid no ano passado. Piracicaba tem 404.142 moradores, e recebeu R$ 33,52 milhões. Mas Bauru, com seus 376.818 habitantes, obteve R$ 24,26 milhões.
Apesar disso, os dados do TCE mostram que Bauru teve bem menos óbitos, 1,44% da população (com 299 registros em 2020), contra 1,86% de Piracicaba (com 415 registros) e os 2,09% de Franca (224).
Mas 2021 tem sido mais perigoso (pra Covid) em Bauru) do que nessas cidades. Bauru já fechou janeiro com 356 óbitos (57 em apenas 1 mês), contra 266 de Franca (42 a mais) e 471 de Piracicaba (56). Proporcionalmente, as mortes afetam mais Bauru neste início de ano.
Franca, no Norte do Estado testou muito menos do que as duas cidades, no comparativo. Ainda assim, as três testaram muito pouco (levando-se em conta que testagem em massa é uma das prioridades apontadas por especialistas na gestão da pandemia).
Franca também teve, por um bom período, muito menor percentual de ocupação de UTI e a metade do total de registro oficial de casos Covid, na comparação. Aqui vale lembrar que, de qualquer forma, o total de casos é muito inferior à realidade. A sub notificação é muito alta em todos os lugares.
Uma situação ruim, para Bauru, neste momento, é que Piracicaba, conforme o TCE, já conseguiu aumentar o número de UTIs para substanciais 119 leitos. Bauru continua com seus 50 leitos no HE, atraso na ampliação de vagas adicionais pelo Estado e lotação, há pelo menos 4 semanas, muito próxima de 100%.
Aqui vale parêntese. Piracicaba tem gestão municipal de leitos. A cidade inseriu mais UTIs.
BAURU
O dado do TCE desconsidera leitos da região, embora cite que a cidade-polo atende outros municípios. Nesse caso, Bauru tem 50 UTIs no HE, com 20 em Jaú, 10 em Lins e 8 em Promissão. Ainda assim, tem oferta menor de leitos do que Piracicaba.
Os 10 leitos ÚTI Covid do HE só estarão recebendo pacientes entre os dias 15 e 20 de março. O Estado atrasou a medida, mesmo com sentença judicial e sendo o custeio dessas 10 UTIs da Prefeitura, em ação judicial.
O exaustor do Predião na USP chega dia 12 de março. E as instalações de oxigênio estão sendo feitas agora no oitavo andar do prédio da USP.
VARIANTE EM BAURU
Vamos ao ponto: a mutação da Covid circula em Bauru!
Há preocupação, entre autoridades sanitárias, em relação à esperada presença de variante (mutação) da Covid no Interior. O que os especialistas indicam é que a transmissibilidade da nova cepa (de Manaus) é maior do que a “primeira versão”. É certo que o vírus com mutação já circula em Bauru e outras cidades da região.
A divulgação será nesta semana. Mas o Laboratório Especializado do Instituto Adolfo Lutz )LEIAL) concluiu na sexta-feira o sequencialmente genético de 50 amostras de Bauru entre pacientes infectados.
Portanto, daqui para frente, a gestão do número (maior ou menor) de mortes – e o limiar do caos (me perdoem, mais não vamos fugir da realidade física de lotação em UTIs) – está diretamente relacionado com o comportamento social (não aglomerar e manter higiene severa).
Com maior transmissibilidade, as cidades onde a mutação já se faz presente trazem mais internações de casos graves POR MAIS TEMPO do que antes (pacientes que permaneciam 15 dias em UTI agora ficam 30,40 dias) mesmo com total menor de pacientes do que a fase aguda, de 2020.
Depois de Jaú e Araraquara, era dado como certa a presença da mutação em outras cidades do Interior paulista. O governo estadual sabe que a variante do vírus está no Interior.
A Prefeitura disse que ainda não foi informada. O governo estadual está avaliando como agir nessa situação. Não há leitos UTI públicos em Bauru.
A questão, portanto, não é ser contra ou a favor de restrições – mas de falta de leito para internação. A prefeitura abriu, há poucos dias, edital para comprar diárias de internação da rede particular.
Mas o aumento da demanda e o tempo bem maior de permanência de pacientes graves Covid em UTI tornam incerta essa contratação, mesmo com mais de R$ 17 milhões bloqueados em juízo em ação do MP.
Por fim, a Secretaria de Finanças informou em audiência pública que restam não mais que R$ 1 milhão da verba Covid federal no caixa para sustentar despesas sem recorrer ao orçamento próprio, neste momento.
Sim, mais leitos são necessários. Mas ao mesmo tempo, é importante perceber que há um limite de recursos humanos e materiais. Até para a rede privada. Por isso, prevenir continua sendo o melhor remédio. Só as medidas de restrição da circulação de pessoas podem fazer a transmissão diminuir. O que é muito desejável para diminuir casos, óbitos e o potencial para novas e mais agressivas variantes.