Dados da fome: triplica consumo de carne na merenda escolar da Prefeitura

Dados do setor de merenda escolar da Prefeitura de Bauru

Os números falam por si! A fome enfrentada em todo o País por boa parte da população periférica em Bauru está, também, explícita através do aumento vertiginoso do consumo de alimentos na merenda escolar. A carência alimentar se confirma no aumento em mais de 3 vezes no consumo, por exemplo, de carne entre os 65 mil alunos atendidos pela Secretaria Municipal de Educação.

Para um País que atinge 33,1 milhões de cidadãos sem garantia de ao menos uma refeição diária, os dados da merenda escolar apresentados em audiência pública realizada nesta quarta-feira, na Câmara Municipal de Bauru, consolidam a tragédia social-econômica em curso. Presidente da Comissão de Educação, a vereadora Chiara Ranieri, reuniu educadores, gestores de entidades sociais, do setor privado, Conselhos Tutelares, para sensibilizar as direções de ensino do Município (e do Estado) da urgência de ação excepcional, já!

“Não dá para esperar. Nas escolas as crianças estão repetindo até 4,5 vezes a refeição porque para muitos é a única refeição do dia. Tem aluno que toma quatro copos de leite no intervalo. Não há condições de aprendizado sem alimentação mínima. A situação é ainda mais grave do que outros períodos enfrentados. É preciso uma reação urgente. Esses alunos não podem ficar sem alimentação nas férias de julho”, alertou Ranieri.

A amostragem apresentada pela diretora do setor de Merenda Escolar do Município, Franly Regina Craveiro, traz – com dados de consumo dos 6 principais alimentos no mês de maio passado – que o sumiço da carne na mesa do bauruense, por exemplo, está presente no aumento da ingestão de proteína bovina na merenda escolar em 300% na rede. É evidente que, além da desnutrição em curso, a carne é produto muito raro entre as famílias dos estudantes também em Bauru.

Mais que triplicou a utilização de frango na merenda escolar municipal (334%), na comparação entre maio de 2019 e o mesmo mês deste ano. Ainda que o número de alunos matriculados tenha registrado algum aumento desde antes da pandemia até aqui, os dados são alarmantes.

Infelizmente a Secretaria Municipal de Educação não informou o consumo total de janeiro a maio, antes e depois da pandemia (2019 x 2022) para ampliação da avaliação dos efeitos da fome entre milhares de famílias na cidade. A solicitação foi encaminhada à assessoria de imprensa da Prefeitura ainda em 13 de junho!

Os dados são ainda mais duros se considerarmos o contingente que não está frequentando escola. Somente no registro de alunos na fila, a espera de vagas no ensino infantil, a Educação contabiliza 585 estudantes, hoje. Para os profissionais do setor, este número é maior.

Apesar da ênfase por ação emergencial imediata, dadas as circunstâncias e a proximidade com as férias de julho, o governo municipal acordou, na audiência pública, que vai discutir alternativas (jurídicas e administrativas) para buscar compor ações: ou ampliação da oferta de merenda no período, ou a entrega de cestas básicas.

Recursos na Educação existem! E de forma abundante. Mas o governo mostrou receio em adotar ampliação da oferta de merenda ou algum atendimento especial aos estudantes (como nos 20 dias de férias de julho) e, depois, ver a medida classificada como de “assistência social” e não de regular uso de recursos vinculados da educação.

Chiara Ranieri disse que vai buscar posição do governo em encontro técnico previsto para esta sexta-feira. Já o líder da prefeita, vereador Júnior Rodrigues, disse que defendeu junto à prefeita Suéllen Rosim a realização de programa ou ação excepcional vinculando, por exemplo, reforço escolar e na alimentação, em razão das conhecidas defasagens no aprendizado e na situação nutricional dos estudantes, quadro agravado com a pandemia.

A posição burocrática da Sebes, através da secretária Ana Salles (que transformou a audiência em uma palestra longa, em power point com citações técnicas), recebeu críticas. Na prática de gestão, a Secretaria do Bem-Estar Social deixou de alcançar o volume já existente de assistência mínima através de cestas básicas (substituídas por apenas cerca de 1.800 cartões alimentação, contra um cadastro oficial de 12.519 famílias em estado de miséria em Bauru).

O tamanho da rede escolar com gestão pela Prefeitura é através de contratos com entidades

 

3 comentários em “Dados da fome: triplica consumo de carne na merenda escolar da Prefeitura”

  1. Dinheiro tem . Sem aprofundar no estudo , penso q uma comissão de técnicos ( médicos, nutricionistas , procuradores jurídicos , representante da Câmara e quem mais entendesse) poderia analisar a situação e dar parecer q confortasse a Prefeita em fornecer o alimento necessário , sem riscos .

  2. José Xaides de Sampaio Alves

    Excelente reflexão e posição jornalística sobre tema tão premente da fome das crianças e papel do poder público na educação.

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