Se o DAE Bauru reduzisse pelo menos à metade sua perda em vazamentos e trocasse os cerca de 90 mil hidrômetros velhos teria condições de pagar uma nova Estação de Tratamento de Água modular (ETA) sem necessidade de financiamento. E ter esta condição está nas mãos da gestão do DAE! O saldo em conta corrente em 31/12/2021 da autarquia é algo espetacular: R$ 59,9 milhões. Vamos explicar esse dado, esmiuçar?
Mesmo sem repor inflação no fim do governo Gazzetta e tendo somente agora aplicado reposição tarifária, o DAE acumula saldo em conta corrente para o início deste ano em R$ 59,9 milhões. Descontado todos os compromissos já assumidos desta transferência de receitas para este ano, informados pela Diretoria Financeira, o DAE conta com pelo menos R$ 50 milhões “líquidos”.
O restos a pagar transferido para 2022, segundo a presidência, é de R$ 9,5 milhões, acumulados de 2017 a 2021. Portanto, a autarquia reúne condições excepcionais de caixa para cumprir todo o planejamento de obras firmado com o Ministério Público Estadual para o plano de abastecimento.
O PDA revisado pelo DAE projeta em torno de R$ 25 milhões de investimentos por ano para cumprir as obras de abastecimento. Ela inclui, nesta etapa, projeto executivo da nova ETA, setorização de rede em diferentes bairros, reservatórios e poços profundos. Em 2021, o órgão planejou 3 unidades de produção. O poço Praça Portugal está atuando apenas em horários de pico, com vazão em torno de 106 m3/h segundo o DAE. O perto do Shopping (Infante) aguarda cabo (que sumiu do almoxarifado durante transporte). O poço do Alto Paraíso será o terceiro.
O saldo “líquido” para o presidente Marcos Saraiva planejar suas ações sem endividamento é extraordinário. Representa em torno de 30% de toda a arrecadação da autarquia em todo o ano de 2021. No ano passado, o DAE conseguiu arrecadar R$ 149,2 milhões, contra R$ 145,7 milhões de 2020, início da pandemia.
O apontamento do saldo acumulado em caixa muito acima das expectativas foi uma variável levantada pelo CONTRAPONTO para discutir a necessidade de aplicação do reajuste na tarifa anunciado, no final de 2021, de 35%. Demonstramos que o DAE tem “bala na agulha”. E a prefeita Suéllen Rosim desistiu deste índice com efeitos desastrosos sobre o já apertado bolso do consumidor bauruense. Ficou a recomposição em 10,74% em dezembro passado.
O saldo do Fundo de Tratamento de Esgoto (FTE) fechou 2021 com R$ 174,3 milhões no caixa. Estes valores estão em aplicações financeiras. Com a obra da ETE Distrito parada, o DAE precisa informar em quais fundos está sendo mantida esta aplicação. Com inflação alta e taxa de juros (Selic) acima de dois dígitos (10,06% a última de 12 meses), há inúmeras opções no mercado de aplicações para o DAE fazer este bolo crescer ainda mais.
Além disso, a performance de caixa tende a melhorar. Porque, no pico da pandemia a inadimplência chegou a atingir 13%. Isso representa, conforme o DAE menos R$ 1,5 milhão no caixa todo mês. Com a retomada parcial das atividades de serviços e da economia, o índice de não pagadores das faturas de consumo foi a algo em torno de 7% (cerca de R$ 900 mil deixam de ser pagos todo mês).
A evolução na receita, mesmo sem reposição da inflação nos últimos anos sobre a tarifa, tem como subproduto a mudança na composição da vinculação do faturamento. Apenas 5% do que se arrecada vai para o FTE. Antes isso equivalia a 25% do que entra no caixa. A mudança em lei foi feita lá em 2019 exatamente para gerar caixa para o DAE enfrentar a carência por resolução na deficiência em abastecimento.
Mas veja, com perda física e em vazamentos nas ruas no patamar de quase 48% é evidente, claro, que o DAE estaria “inundado” em grana se conseguir fazer sua missão: fornecer água de boa qualidade e com menor desperdício em seu sistema. Só com a troca de hidrômetros já melhora (e muito) essa resposta. O DAE ainda está devendo os 5 mil hidrômetros da meta de 2021 e tem como obrigação (PDA) outros 30 mil medidores a instalar neste ano. Mesmo com água jorrando à vontade nas ruas, esta medida significa mais dinheiro em caixa…
Na semana passada, divulgamos que a presidência da autarquia quer empréstimo de R$ 100 milhões para fazer uma nova ETA (estação para tratar água) e nova captação no Batalha, 22 km abaixo da atual.
Precisa do empréstimo? Ou a reposição tarifária anual, a troca de hidrômetros e o plano de redução de vazamentos estrutura este investimento de porte por conta própria? Detalhe: pelos números do DAE, a cidade não precisa aumentar poços, mas estancar as perdas. O que se produz é suficiente para o consumo. Mas o “balde” do sistema tem muitos furos, desperdício nas ruas. Discuta isso com sua família, seus amigos. A participação coletiva nos grandes projetos da cidade é também sua obrigação!
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