Debate eleitoral de TV é um espetáculo que se dá bem quem tem bom domínio de tempo de fala, memória e raciocínio rápido para conteúdos diversos e sacadas de impulso (insight) tanto para desestabilizar o oponente quanto para se safar de pergunta indigesta. Mas com 10 participantes e respostas com apenas 45 segundos para temas abrangentes, não dá para esperar (nem exigir) de quem participa.
Assim foi o debate da TV Bandeirantes, na noite de quarta-feira, o único do primeiro turno programado até aqui para a eleição municipal de Bauru em 2020. No espetáculo do domínio da telinha, com a “gestão da pressão psicológica” para a realização ao VIVO, o candidato a reeleição Clodoaldo Gazzetta (PSDB) se saiu melhor.
Os adversários até tiveram lampejos de conteúdo, mas a inexperiência especificamente para discussão política frente a frente gerou escorregões em todos, mesmo com Suéllen Rosim (Patriota) – acostumada com a pressão de falas em tempos curtos (por ser apresentadora de TV). Raul Gonçalves (que já experimentou “treinos” de debates até o segundo turno na eleição de 2016, continua sem afinar a relação entre conteúdo-estratégia-tempo de fala.
A arte de falar na telinha em debate político-eleitoral exige treino, orientação profissional, dedicação e sangue frio. Nessa combinação (a despeito do conteúdo), Gazzetta se saiu melhor na noite do encontro da eleição 2020, no estúdio da TV Bandeirantes em Presidente Prudente.
Os adversários, no frigir dos ovos, erraram nas tentativas de abordagens de confronto (pareciam não ter treinado movimentos básicos). Um exemplo elementar: pergunta vem seguida de resposta, mas tem réplica e tréplica. Se o candidato alfineta, ou lança uma “isca” vazia, pode ficar em uma enrascada no “retorno”. E se não souber se virar “nos 45” (tempo para a resposta definida para o confronto), dança!
PÉROLAS E EMBATES
Vamos sintetizar pontos trazidos pelas candidaturas, de acordo com os principais perfis de cada um e o que foi possível “dizer” em três blocos.
A definição de apenas 45 segundos para a resposta inicial retirou qualquer possibilidade de entrar “na segunda linha” na abordagem dos temas. E este foi o segredo de Gazzetta. O candidato a reeleição soube alfinetar (quando pressionado), devolveu ironias, e, ainda, se manteve em sua estratégia visível de listar o que se programou para dizer.
Aliás, a resposta em apenas 45 segundos para temas abrangentes e a réplica em tempo ainda menor gerou ansiedade na maioria dos candidatos.
Mas o prefeito tirou proveito. Mesmo quando lançou afirmações de conteúdo frágil (ao mensurar unidades habitacionais que ainda estão no papel), o flanco não foi bem aproveitado pelos adversários. Ao contrário, a falta de traquejo dos adversários foi a tal ponto que o prefeito chegou a dizer, por exemplo, que foi seu governo (sic) quem denunciou o escândalo de corrupção na Cohab… (O escândalo estourou em seu governo!)
RESUMO DA ÓPERA:
Eduardo Avallone – não foi e nem explicou.
Joaquim Oliveira – achou uma desculpa pra não ir.
Sandro Bussola – atacou, por mais de uma vez, a falta de leitos de internação hospitalar em Bauru e insistiu na estratégia de dizer que Raul e Gazzetta (DEM e PSDB) são do mesmo balaio.
Gérson Pinheiro -a primeira vez em debate eleitoral de TV lhe custou embaraço em perguntas e respostas. Conseguiu dizer que é empresário e que a cidade precisa de gestor.
Rosana Polatto – como outros, mostrou nervosismo. A falta de consistência sobre temas ficou evidente. Repetiu a máxima de se propor a “ajudar as pessoas”.
Jorge Moura – tentou colar DEM e PSDB, assim como Bolsonaro e Dória, como produtos de um pacote só em Raul e Gazzetta. Raciocínio difícil de “pegar” para o grande público em 45 s.
Raul Gonçalves – leu perguntas básicas, teve dificuldade em construir raciocínio com começo, meio e fim, mesmo tendo vindo de outras experiências eleitorais.
Luiz Valle – não viu resposta com silogismo de Gazzetta no escândalo da Cohab e levou puxão de orelha do prefeito sobre gasto com aluguel (disse R$ 24 milhões, prefeito corrigiu para R$ 5 milhões – era só multiplicar por 4 anos).
Gazzetta – foi treinado para tempo de resposta, saídas pela tangente, réplica e na estratégia em tentar dizer que fez e que vai fazer. Seguiu à risca a linha escolhida para seu programa na TV.
Renata Ribeiro – se manteve fiel a sua missão de defender as bandeiras do PSOL, como inclusão, defesa do serviço público e os temas à esquerda.
Sérgio Alba – chegou a ter lampejos de algum conteúdo, mas se perdeu em várias ocasiões na construção do raciocínio em relação ao pequeno tempo para resposta ou réplica.
Suéllen Rosim – a demonstração de falta de domínio sobre temas locais prejudicou. Persistiu em frases de efeito. Dilema é não dar propostas objetivas. Não aproveitou erro de Gazzetta sobre habitação.
Excelente análise, parabéns..! Aos que achavam que seria fácil, mesmo com traquejos anteriores, acabaram ficando pelo caminho e nada apresentaram.
Assino em baixo seu comentário sobre todos, e admito.meu embaraço com o tempo pois não tinha marcador e isso me desconcentrou achei que poderia ter acertado.muito mais mas concordo com sua análise valeu!!!