
Bauru fecha mais um setembro ardendo em chamas. Da Zona Sul a Norte, queimadas sufocam e geram pânico aos moradores. As cenas repetem agosto e a escalada de fogo registrada nesses mesmos meses, nos últimos anos.
Mas o comando do governo, pesquisadores, fiscais da lei e organismos com poder de influência na cidade sabem o que precisa para sairmos dessa:
. plano de arborização com cronograma físico-financeiro de ações:
. contratação de fiscais e o fim da omissão que alimenta grileiros e especulação imobiliária;
. instalar barragens para reservar àgua natural e, ao mesmo tempo, coibir enchentes;
. implantar parques naturais em fundos de vale e corredores ecológicos;
. garantir regras de solo permeável e de proteção a àreas de proteção ambiental esssenciais;
. criar fundo municipal de combate a queimada, enchentes e para financiar ações estruturantes no setor;
. aperfeiçoar regras na revisão do Plano Diretor e Lei de Zoneamento;
. contratar projetos executivos para buscar fora verbas para as ações estruturantes;
. apostar em educação ambiental perene pela àgua, pela àrvore e contra as queimadas, dentro e fora das escolas, nos bairros e instituições;
. criar políticas de incentivo e aplicar direitos urbanísticos como transferência de construir (TDC)
Cru, mas fato: a cidade também sabe que boa parte dos atores sociais com poder de decisão, e pressão, atua no sentido inverso do que precisa ser feito.
As reuniões setoriais e audiências públicas da revisão do Plano Diretor (PD) e Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) acabam de escancarar a opção em curso pelo ambiente urbano àrido.
Não por outra razão, setembro se encerra para anunciar a primavera em Bauru com mais de 180 registros de queimadas urbanas. Dezenas de milhares de metro quadrado de àreas em lotes e glebas de mata arderam em chamas. Somente no Jd Colonial e Chácaras Odete foram condumidos 16 hectares de mata.
O cenário, igualmente reincidente, inclui racionamento de àgua e raras aplicações de sanções contra quem degradou ou criminalizou a cidadania.
A terça-feira (30/9) gerou desespero em moradores no Jardim Colonial, nos fundos do Parque Santa Terezinha e também próximo da região da Lagoa (seca) de Captação de àgua do Rio Batalha. O sítio da familia Mandalitti pegou fogo. Outros incêndios ocorreram por perto há poucas semanas. O espigão de glebas do Batalha recebeu “limpeza com fogo”, no mês passado, conforme a Defesa Civil.
A baixada da rodovia até Piratininga, após o MCMV Monte Verde, é palco de venda ilegal de lotes há anos. O Residencial Pamplona faturou milhões na borda do rio que agoniza. Sobrou o portal e restam assoreamento e litígios judiciais com fraude de registro do caso. Mas na outra margem é pior. Do lado do rio em Piratininga e Agudos, as ações de ocupações prejudiciais são piores. Afluentes ficam também fora de Bauru. A degradação é regra.
No Chácaras Odete, tanto atrás do Ceagesp quanto de frente para o Campus da Unesp, a vegetação de cerrado virou cinzas nesta terça-feira. O coordenador da Defesa Civil, Marcelo Ryal, apontara “mais de 60 mil m2 de mata destruídas pelo fogo, com vários focos formados, em diferentes localizações”. Isso apenas até a tarde desta terça-feira.
A ‘palhada’ de folhas e os galhos secos alimentaram novas frentes de fogo à noite. O helicóptero Àguia da Polícia Militar despejou a manhã toda sobre o fogo. No chão, o morador Cristiano contou uns 40 baldes d’àgua despejados em focos do lado de sua casa. O Chácaras Odete e Jd Colonial são “cercados” por mais de 400 mil m2 de mata – a chamada Floresta Urbana: que vai até o Ceagesp. A densa mata resiste ao “fogo de mercado”. O Município ainda pagou R$ 34 milhões por 90 mil m2 dessa vegetação. Governo Rodrigo Agostinho.
Ainda ali, nesta tarde, umas 4 casas acima, exatamente quando Cristiano usava o balde contra focos remanescentes de fogo, uma vizinha utilizava sua mangueira como “vassoura” para empurrar foligem e poeira da frente de sua calçada…
O hidrante localizado em ponto estrategico na avenida Edmundo Coube não funcionou.
Veja vídeo-reportagem do paradoxo e do desafio urbano bauruense:
FUMAÇA de 280 metros
Quem vinha de Pederneiras pela rodovia viu, quem estava no Jd Manchester foi atacado em tosse. Quem tem propriedades sem regularização no Chácaras Santa Laura ficou perto de uma das frentes de queimada. E mesmo da àrea atrás do Espaço Bauru e IpMet, longe, era possível ver a enorme nuvem de fumaça. “O fogo pegou forte a tarde toda. Tinha uns 280 metros de altura a fumaça”, arriscou Luiz Souza, já nas casas construídas em lotes na àrea conhecida como Aliança – palco de ocupação em glebas do ex-vereador João Parreira, há alguns anos.
Entramos em estradas de terra que cortam o cerrado urbano, na direção do fogo.
O percurso revela àreas de grilagem, loteamentos com ruas abertas aguardando regularização fundiária, escombros de moradias e “depósito” improvisado de recicláveis.
Veja a sequência dos vídeos-reportagens (de no máximo 1 minuto cada):
– No Jd Mary: gado e lotes na àrea urbana
– Depósito de recicláveis no cerrado, atrás do palco de eventos do Espaço Bauru
– pela estrada de terra cortando o cerrado: no rastro da fumaça
– escombro de moradia no cerrado x desafios do novo Plano Diretor
– longe do ‘centro do fogo’, perto dos olhos urbanos
Especulação imobiliária é quem financia campanhas e enriquece pessoas “respeitáveis”. Tudo em nome de Deus… A luto por um Plano Diretor que proteja o meio ambiente vem de décadas. Na hora “H”, a participação popular é só pra inglês ver. E com esta Câmara de Vereadores, vai piorar mais. Veja o PArque da Água Comprida totalmente destruído, rio assoreado, terras públicas invadidas até por empresas…