Escândalo na Apae compõe assassinato, organização criminosa para desvios do caixa de doações de ao menos R$ 6,5 milhões e crime de peculato

Delegado Gláucio Stocco, da Seccold em Bauru apura desvios na Apae Bauru

O comando da Polícia Civil de Bauru não tem dúvidas de que o escândalo na gestão da Apae que integra o assassinato da ex-braço direito da entidade nos últimos anos de Olga Bicudo (in memória) na presidência até poucos meses deste 2024, Cláudia Lobo, alcança indícios de crimes de peculato e organização criminosa com o objetivo de desviar doações na escala de ao menos R$ 6,5 milhões apenas nos últimos 5 anos.

As prisões temporárias cumpridas hoje contra 8 de 9 pessoas até aqui (veja lista abaixo), sem contar o já indiciado e preso, ex-presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho e, ainda o também preso chefe do almoxarifado, Dilomar Batista (que confessou ocultar o cadáver de Cláudia), são mais uma etapa do escândalo que deixa feridas profundas no setor – em um momento onde a sociedade depende ainda mais de serviços especializados como o da Apae, diante da deficiência do Poder Público em alcançar quem precisa.

Os seis ou sete veículos apreendidos com ordem do Judiciário e 18 mandados expedidos de busca de documentos, telefones celulares, notebooks e outros itens, na prática já rastreiam a lavagem de dinheiro.

Além disso, é evidente, infelizmente, que a equipe especializada da Seccold comandada pelo delegado Gláucio Stocco tem elementos suficientes para avançar no inquérito. Tanto que convenceu hoje o Judiciário a bloquear preventivamente bens e valores em conta bancária de empresários, empresas e investigados com levantamento de que aquisições e outras movimentações financeiras levam a uma operação que envolve quase todo o núcleo familiar da ex-secretária executiva. Cláudia Lobo não foi somente vítima de homicídio. A questão não se limita a eventual queima de arquivo ou confronto com Franceschetti com desfecho trágico, por exemplo. A própria Polícia apresenta à imprensa detalhes que indicam um esquema de uso da credibilidade da Apae pelo comando (Cláudia e Franceschetti), com extensão para empreguismo, rotas de desvios do caixa e o possível envolvimento dos principais parentes de Cláudia – da filha, ex-marido, irmã.

LAVAGEM

Para a Polícia, o rastro dos desvios no caixa da Apae, sobretudo da movimentação de doações (que em tese podem ter sido contabilizadas em separado de verbas públicas) levam a outros tentáculos do esquema. Roberto e Cláudia foram protagonistas nos crimes, aponta a Polícia.

A Seccold parte agora para a longa e trabalhosa fase de ouvir conversas em celular, cruzar falas, elaborar laudos financeiros, check list de extratos bancários, rastreamento de saídas de dinheiro, estoque, pagamentos, depuração de notas fiscais (se algumas origens são ou não frias) e a lavagem (viagens internacionais, compra de carros, joias e outros bens), além do confronto da renda comprovada de cada um com a evolução patrimonial. Hoje,  no bastidor, uma primeira avaliação estimava em algo na escala de milhões de Reais com possível desvio, sobre um período de cinco anos.

O desafio da individualização de condutas é essencial nesta fase. Os parentes diretos de Cláudia serão chamados a se explicar. Do controlador do almoxarifado ao segurança, da tesouraria aos fornecedores, tudo e todos serão confrontados, tanto em relação a Roberto Franceschetti Filho quanto dos parentes de Cláudia e funcionários do comando financeiro da Apae – que foi mantido, não fosse ordem de prisão também contra a chefia da seção.

Como Dilomar Batista colaborou, outros podem agarrar o benefício legal e fazer delação.

GESTÃO

A diretoria em curso precisa absorver que o estrago é grande. E o remédio para recuperar é duro. Medidas de reestruturação de gestão e controle profissionais, transparentes, farão resultado. Insistir com frase de apelo em nota oficial não vai resolver!

A nova presidência assumiu um vulcão em erupção. E, com todo respeito, até aqui não mostrou preparo para transpor o tamanho do escândalo, em curso. Hoje, em mais uma nota oficial insípida, a Apae reitera que “coopera com a Polícia e segue com sua sindicância”. A alegação prematura de que os saques de valores extras pagos a Cláudia Lobo eram como “adiantamentos”, por detalhe, se mostram agora, por exemplo, até ingênuos para o que já foi levantado pela Polícia e o que estará por vir.

A necessária ação para recuperar a credibilidade da imprescindível Apae para Bauru pede gestão profissional, assepsia vertical e horizontal. E isso exige um programa de governança, compliance, por especialistas. Ainda dá tempo. Como está, pode ser fatal para a entidade alimentar a ideia de que boa vontade resolve o enorme vazio em torno do buraco de imagem e falta de controle interno.

ABRIR O OLHO

E o compadrio e amadorismo conivente não é prática somente na Apae. Contratos milionários de verbas públicas com o chamado Terceiro Setor – com acompanhamento concreto frágil das despesas e “forma” de gestão – é problema sério detectado pelo Tribunal de Contas (TCE) em várias outras entidades. Pede a folha de pagamentos, o livro caixa e o relatório de despesas para ver o alvoroço…

PRESOS

Além do ex-presidente e indiciado, Roberto Franceschetti Filho, e do ex-chefe do almoxarifado, Dilomar Batista (que confessou atuar na ocultação do cadáver de Cláudia Lobo, a Polícia prendeu hoje: Diamantino Passos Campagnucci Júnior, marido de Ellen Lobo, irmã de Claudia. Ele seria proprietário de empresa em Agudos. A Polícia apura a relação da empresa com serviços à Apae; Ellen Siuza Rocha Lobo, irmã de Claudia Lobo, Renato Tadeu de Campos, policial militar aposentado, cuja relação com Apae de empresa de segurança registrada em nome de uma parente está sendo investigada; Letícia da Rocha Prado Lobo, filha de Claudia; Maria Lúcia Miranda, contadora e chefe financeira da Apae;

Pérsio de Jesus Prado Júnior, ex-marido de Claudia, pai de Letícia;  Renato Golino, ex-chefe financeiro da Apae; e Felipe Figueiredo Simões (ainda não localizado).

 

 

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