Ex-assessora abre novas mensagens sobre confissão de uso irregular do Fundo Social e Suéllen e Lúcia Rosim a acionam no Judiciário por indenização

Damaris Pavan descreve rotinas e detalhes da confissão de doações irregulares no Fundo Social, onde atuou desde janeiro de 2021

A ex-assessora de Gabinete da Prefeitura de Bauru, Damaris Nunes de Faria Pavan, abriu novas mensagens de sua confissão sobre irregularidades que afirma ter praticado durante a gestão do Fundo Social de Solidariedade. Em uma conversa de mais de 1 hora, Damaris descreveu rotinas e a forma como diz ter atuado na gestão ilegal de doações de cestas básicas e eletrodomésticos, sob o comando da mãe da prefeita, Lúcia Rosim. Também neste final de semana, Suéllen Rosim e sua mãe, Lúcia Rosim, ingressaram com ação judicial com pedido de indenização contra a ex-aliada (leia abaixo).

Na entrevista ao CONTRAPONTO, Damaris afirma que as doações de cestas básicas e outros produtos, como os eletrodomésticos enviados pela Polícia Civil, tinham registro regular de entrada. Ela diz que coordenava tanto as entradas quanto as saídas, realizando os registros com outra servidora (que cuidava da ação administrativa do Fundo}. Segundo ela, as doações de empresas e órgãos oficiais contam com documentação (recibo, nota fiscal). Ela também realizava a montagem de cestas a partir de entregas avulsas de alimentos, inserindo esse estoque adicional em relatórios.

Damaris franqueou a verificação dos arquivos em seu telefone celular. Tanto das mensagens em que registrou ata notarial (documento firmado em cartório para confirmar a veracidade de conteúdo original) quanto de outras conversas. Segundo a ex-assessora, as mensagens trocadas com Lúcia Rosim e pastora Elisangela Cardoso do Prado Pereira (assessora de gabinete da prefeitura) apontam que as irregularidades que agora confessa eram conhecidas do governo.

Ela mantém arquivos de todas as conversas por watsapp em dois aparelhos. Um equivalente ao primeiro ano (que não mais utiliza no dia-a-dia). E outro a partir de 2022 até aqui. A ex-assessora ficou os primeiros 15 dias do início do governo, em janeiro de 2021, no gabinete, como secretária da prefeita. E a partir de então foi atuar no Fundo Social, comandado por Lucia Rosim.

Durante o início do governo o Fundo funcionou no terceiro andar do Palácio das Cerejeiras, na sala onde hoje está instalada a assessoria de imprensa. Depois, foi alugado o imóvel em frente a Prefeitura.

ROTINA

“Eu trabalhava sozinha lá (no Fundo). Recebia todas as cestas, doações. Se vinha por empresa era sempre com recibo. Também chegava muita doação de Postos de Saúde (avulsas). Eu montava as cestas básicas. Todas as informações eu passava para uma pessoa (comissionada) que fazia os relatórios (entradas e saídas do estoque)”, conta. Isso deve ter seguido até maio de 2022, menciona Damaris. Durante cerca de 3 meses duas servidoras foram designadas para ajudar. Depois, a também assessora de Gabinete, Pastora Elisangela passou a atuar. O Fundo também contou, por um tempo, com 3 bolsistas para ajudar na rotina.

ENTREGAS

Damaris diz que coordenava o trabalho na entrada e saída das doações. “Eu que passava todos os dados para os relatórios (controle de estoque). Eu também fazia as entregas, ia nas famílias. Tudo era comigo. Tudo o que chegava ou saia passou a ser na casa do Fundo (imóvel alugado na frente da sede da Prefeitura, na Rua Padre João). Para as entregas, usava um Ford Fiesta. Depois, conta, a Secretaria de Agricultura (Sagra) emprestou uma van. “As doações e entregas para projetos sociais a gente também pegava recibo e tudo ia para o relatório”, afirma.

RELATÓRIO

Também apuramos as alegações de Damaris com Andréa Cristina Storolli, cargo comissionado responsável pelos relatórios do Fundo Social até por volta de maio de 2022.

“Eu trabalhei para o Fundo Social entre março de 2021 e maio de 2022. Nesse pouco mais de um ano eu cuidei do administrativo. Fazia os relatórios com todas as entradas e saídas. Quem coordenava tudo era a Damaris. Ela me passava todas as informações”, relata.

Andréa afirma que as saídas contam com documentos (recibos assinados). “A Damaris é quem colocava a mão na massa. Eu fazia o administrativo. Ela montava cestas, entregava. Essas cestas que ela informa ter entregues, a Damaris relatava os dados e eu lançava. Não tem recibos, mas está registrado tudo o que ela me passou”, complementa Storolli.

IRREGULAR

Damaris Pavan comenta que sabe que suas declarações configuram confissão de irregularidades. “Eu sei que errei. E me arrependo. A bispa (Lúcia Rosim) sabe que não podia doar para a igreja, para a chácara (do Dozimar). Ela mandava a irmã dela ir buscar as cestas com um Fiat Idea cinza. A Marcinha (Márcia Rosim) parava na frente da prefeitura, quase em frente a cantina. Eu usava carrinhos de supermercado para por as cestas e eu mesma entregava pra ela. A Márcia fez isso umas 5 vezes (em 2021)”, repete.

Conforme Pavan, no início, Lucia Rosim ligava para mandar que Marcinha (Rosim) fosse atendida. “Eu só consegui saber que a Marcinha levava cestas para a chácara do Dozimar (formação de futebol no ex-clube Bento Cruz) quando fui nas reuniões lá para sair candidata. Os jovens também iam à igreja. Ai fui conversando para saber”, menciona.

Na confissão, Damaris diz que em uma outra oportunidade levou cerca de 8 cestas básicas para a pastora Elisangela (que atuava no Gabinete). “A Elis falou que tinha umas pessoas precisando e um casal ia distribuir para carentes. Eu fui levar as cestas na casa dela”, cita.

Segundo Damaris Pavan, estas saídas (irregulares) não seriam registradas em relatório. Por óbvio, indagamos a ex-assessora que os arquivos então vão ter de  indicar a diferença. Mas a princípio, o relatório teria entregas sem recibo lançadas – com base no que Damaris informava para o administrativo.

Ela se comprometeu em checar datas e registros das ocorrências que informa.

NOVAS MENSAGENS

Damaris Pavan concordou em fornecer alguns registros de mensagens sobre os fatos que narra. Checamos no aparelho as mensagens que ela mostrou na coletiva de imprensa, na quinta-feira. Uma conversa com a pastora Elisangela e outra com Lúcia Rosim. Na primeira, conforme já divulgado, Damaris explica que Elis menciona que colocou itens de som (mesa de som pequena) em uma sacola e levou, assim como monitor de TV. (leia link no final)

Mas Damaris também se preocupou em demonstrar que a pastora Elisangela também sabia das irregularidades e ainda tinha comentado sobre a conduta da colega com Lúcia Rosim.

É o que está em outra conversa datada de 24/03/2022, também de Pavan com a assessora Elisangela. Na conversa, Elis fala para Damaris que o vereador Eduardo Borgo estaria de olho na gestão.

E Elisangela fala o que disse à bispa Lùcia Rosim: “Hoje cedo a bispa (Lùcia) veio me falar que o Borgo tava de olho em você… Ela (bispa) ficou sem graça comigo. Pq as únicas coisas que você fez no fundo que não devia foi ela que mandou” …

Conforme Damaris, “a Elisangela não tem como dizer que não sabia. Ela é braço direito da prefeita e comandou o Fundo quando a esposa do vice (Lùcia Costa Dias) saiu para o Orlando (Costa Dias – vice-prefeito) sair candidato. A Lúcia (Dias) é íntegra. Mas a bispa Lúcia mandava e eu fazia”, comenta.

Fizemos contato com Elisangela. Ela não atendeu ligações. Sobre os conteúdos da mensagens, checamos o teor integral de cada conversa.

CONTOU PARA SUÉLLEN

A ex-assessora diz que Elisangela passou a interferir muito. E também comenta desavenças. Foi em um desses momentos, diz Damaris, que contou à prefeita sobre retiradas irregulares, como a entrega de eletrodomésticos doados pela Polícia Civil (que diz ter levado à sede da igreja Mipe, na rua dos fundos da sede, na ocasião na Av. Lucio Luciano). Isso aconteceu no dia 21/05/2023, informa.

“A Elis me irritou tanto que eu fui no Gabinete e contei para a prefeita. Primeiro ela disse que chamaria a Polícia. Ai ligou para a mãe e ela entrou dizendo que o freezer já estava sendo colocado de volta. Mas ficou nisso”, cita.

Mas não foi a única vez que Damaris e Suéllen conversaram sobre Lúcia Rosim..

COM MARIDO NO GABINETE

Publicamos aqui apenas as mensagens que Damaris autorizou. São dezenas de arquivos em seus aparelhos.

Damaris contou que no dia 06/11/2024 a prefeita lhe enviou aúdio de uma mulher e marcou reunião no gabinete no dia seguinte para esclarecer os fatos. No aúdio, uma mulher fala que a então assessora estaria falando mal do governo para terceiros. Damaris conta que foi ao encontro na manhã seguinte com seu marido (conforme pediu Suéllen).

“No Gabinete pediram para eu e meu marido (Ricardo) deixar os celulares pra fora. Estava a prefeita e o Jeferson (advogado de Suéllen). Ela quis tirar satisfação das coisas que estavam falando pra ela. Reclamou que a Damaris fala demais. O advogado o tempo todo queria que eu confessasse que não tinha nada de irregular. Que estava tudo certo. A reunião acabou quando eu disse para a Suéllen que contra a mãe dela eu tinha sim. Não aceito me ameaçar por nada”, alega.

O advogado da prefeita, Jeferson Machado confirma a reunião. Ele cita que foi acionado por sua cliente para orientar sobre os fatos. Jeferson refuta que tenha falado em tom de ameaça à assessora. “Como advogado eu orientei sobre condutas que não devem ser admitidas no serviço público”, rebate.

Machado enviou nota a respeito desse episódio. Segue:

“Chegou ao nosso conhecimento informações de que a Sra. Damaris estaria espalhando boatos acerca da Prefeita e de sua mãe. Diante disso, a mesma (Damaris) foi chamada para esclarecer essas informações. A reunião transcorreu de forma bastante tranquila. Na ocasião, a Sra. Damaris, incisivamente, negou existir qualquer informação comprometedora, bem como também negou estar realizando qualquer tipo de boato nesse sentido. Assim, após apurar os fatos, a Prefeita considerou o caso encerrado, inclusive mantendo a Sra. Damaris no cargo”, conclui.

ELETRODOMÉSTICOS 

Damaris também descreveu a entrega de eletrodomésticos e bens alimentícios na sede da igreja Mipe. Alugou, por R$ 150,00, o carreto de um caminhão baú, Volks branco, conta. A assessora preserva nomes de pessoas que estavam com ela nesta ação, na data.

Até ontem (17/05), o wats da ex-assessora ainda recebia comentários de quem trabalha na Prefeitura a respeito das confissões que fez.

Lúcia Rosim, Damaris Pavan e Suéllen Rosim
Suéllen e Lúcia Rosim acionam Damaris e pedem indenização por danos morais

 

A prefeita Suéllen Rosim, sua mãe Lúcia e demais familiares citados por Damaris Pavan rebatem que as afirmações são infundadas, inverídicas e chegam ao público em uma reação vingativa da ex-assessora por ter perdido o cargo.

Em duas petições distribuídas agora ao Judiciário, Suéllen e Lúcia descartam a ocorrência ide irregularidades na gestão do Fundo Social. Nas medidas, o advogado Jeferson Machado trata as declarações de Damaris Pavan como denunciação caluniosa (quando é levado a autoridade notícia de crime que não ocorreu).

Já Damaris Pavan, de sua parte, reafirma, após coletiva à imprensa, que está confessando condutas irregulares no exercício de função de confiança exercido na Prefeitura de Bauru, alegando que se sentiu ameaçada. Sobre não ter feito às declarações antes, a ex-assessora diz que, em 2022, seu marido estava desempregado.

Ao pé da letra, a então assessora não denuncia Suéllen como participante das irregularidades que diz. A questão em relação à prefeita é que Damaris aponta que levou as irregularidades que agora confessa ao conhecimento de Suéllen, inclusive na presença da mãe (Lùcia).

De outro lado, na ação judicial, Suéllen e Lúcia combatem o que Damaris traz como confissão. “Levianamente, a requerida (Damaris) passou a espalhar
publicamente, que teria testemunhado e participado, a mando da Sra. SUÉLLEN SILVA ROSIM e da autora, de suposto desvio de bens públicos à Igreja MIPE, da qual fazem parte a requerente e sua família, e a uma chácara cuidada pelo Sr. DOZIMAR, marido da autora”, traz a ação.
“Importante destacar, com ênfase, o fato de que todas as acusações realizadas pela ré encontram-se absolutamente desacompanhadas de qualquer elemento probatório, não havendo, neste ponto, qualquer surpresa, eis que não se faz possível provar algo que efetivamente não ocorreu”, sustenta a medida judicial contra a ex-assessora.

Ambas, prefeita e mãe, requerem ao Judiciário indenização por dano moral de R$ 30 mil para cada uma. “Não bastasse a denunciação caluniosa praticada, a requerida ainda relatou junto ao meio político local e à diversos veículos de imprensa os fatos inverídicos e caluniosos acima mencionados, tudo no sentido de obter maior visibilidade para o seu projeto de vingança”, traz a ação.

 

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Ex-assessora de Suéllen afirma ter levado cestas básicas e eletrodomésticos do Fundo Social à igreja da família Rosim. Prefeita fala em vingança

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