Hacker aponta R$ 162 mil pagos para espionar 10 políticos de Bauru

Esta reportagem desmonta o cinismo de que os serviços sujos praticados pelo hacker Patrick Brito se resumiram aos cerca de R$ 1.400,00 pagos pelo cunhado da prefeita, Walmir Vitorelli Braga, em agosto e outubro de 2021, através da remessa de dólar para a Sérvia, onde ele permanece.

A Reportagem identifica (e o hacker confirma) que o criminoso movimentou mais de R$ 1,2 milhão entre dezembro de 2020 e o início de 2022, em saques de aplicações em conta dele e de familiares. Patrick fugiu para a Sérvia em março de 2021. Foi preso em dezembro de 2022 (após mandado expedido pela Polícia Internacional – Interpol) e ficou 1 ano detido.

A apuração também aponta que, conforme quebra do sigilo bancário em contas manipuladas pelo hacker e seus parentes (mãe e avó), há depósitos que somam pouco mais de R$ 162 mil relativos aos mesmos períodos por ele indicados de realização de espionagem contra 10 políticos de Bauru (cuja lista foi revelada há poucos dias em outra matéria do CONTRAPONTO).

Nesta fase do caso, o hacker confessa que não só praticou crimes continuados contra 9 vereadores de Bauru e o vice-prefeito, Orlando Costa Dias, como recebeu esta soma pelos serviços,  entre julho de 2021 e o início de 2022.

O “deboche” de Suéllen ao comentar o caso hacker (em recente entrevista na rádio 94 FM de Bauru) exige invocar o instinto de jornalismo que um dia pode ter habitado a agora prefeita. Fui atrás de respostas a perguntas, com apuração a altura da gravidade do caso hacker – que atormenta minha vida há bem mais de ano, e ainda sem elucidação pela Polícia Civil Paulista e o Ministério Público em Araçatuba. Esta apuração é um passo, esperamos, decisivo para que a sociedade tome conhecimento do alcance, sofisticação e sadismo com que a espionagem foi utilizada como ferramenta de perseguição e invasão criminosa confessas, no setor político.

CIFRA MILIONÁRIA

O que levantamos, em mais um episódio da Série CASO HACKER, é não só a dimensão, mas a cifra milionária operada por Patrick no uso da arapongagem e a invasão indevida de dados pessoais a serviço de ações ilegais até aqui impunes, como o confessado também pelo cunhado da prefeita de Bauru (Suéllen Rosim), o tesoureiro de seu partido, Walmir Vitorelli Braga.

Não é justo, e ainda menos aceitável, que a “dificuldade” das autoridades em esclarecer o caso permaneça como está. Isto significaria manter “presos” ao escândalo de espionagem particular deste jornalista (infelizmente vítima e autor de mais esta reportagem), a própria profissão, as garantias e liberdade neste País, minha vida particular e de pessoas próximas.

ESTÁ PROVADO

As provas a seguir foram garimpadas passo a passo. Todos os documentos, informações e contrarrazões foram confrontadas com o hacker, Patrick Silva César Brito, desde março de 2021 foragido em Belgrado na Sérvia.

Vamos aos fatos!

– Está provado (com documentos e depoimentos) que Patrick César Brito foi contratado pelo cunhado da prefeita de Bauru (tesoureiro do PSD, partido presidido por Suéllen) e realizou devassa ilegal, criminosa, em relação a este jornalista Nélson Itaberá. O crime está circunscrito, conforme as provas já reveladas pelo CONTRAPONTO, entre meados de julho de 2021 e o final do mesmo ano.

– O hacker confessa que recebeu, em duas parcelas, valor equivalente a cerca de R$ 1.400,00 para buscar informações que pudessem manchar a vida deste profissional. Segundo Patrick, a invasão incluiu hotmail, twitter, conta bancária e outros arquivos. O cunhado da prefeita, Walmir Vitorelli, confessa em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de Araçatuba, neste ano, que efetuou os dois pagamentos. A Polícia (e o MP), apesar disso, não apuraram qual a origem do dinheiro (conta bancária).

Walmir Vitorelli pagou o araponga com a remessa de dólar através da agência Confidence, em Araçatuba, um em agosto, outro no final do ano de 2021

Está provado que o sistema de dados confidenciais e de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Estado de São Paulo, chamado de Detecta, foi utilizado por um policial do DEIC de Araçatuba para pesquisas ilegais do nome de Nélson Itaberá (Gonçalves), especificamente nos dias 13,14 e 15 de julho de 2021.

– Está provado que a pesquisa ilegal foi realizada com o uso do computador de trabalho do meio-irmão de Walmir, policial Felipe Garcia Pimenta, que atua no DEIC (departamento que vive em pé de guerra com o hacker em mútuas acusações de promiscuidade e crimes). O caso persiste sem definição há anos. Pimenta, somente neste 2024, acusa à Corregedoria Policial seu colega de DEIC, Edison Rodrigues, como o suposto autor da pesquisa ilegal contra este jornalista.

– Está provado, pela própria Polícia Civil de Araçatuba, que o Detecta foi usado (veja doc abaixo), com laudo identificando o computador e, ainda, o uso de senha de outro policial (Herickson dos Santos) – que nega a ação.

O doc comprova a pesquisa ilegal no Detecta da Polícia em relação a Nélson Itaberá. O RG é do jornalista
LISTA DE 10 POLÍTICOS

Há poucos dias, revelamos os nomes de 10 políticos de Bauru apontados por Patrick como também vítimas dos serviços tidos como contratados pelo cunhado da prefeita, Walmir. Agora, o hacker aponta os documentos e a correlação entre o período de realização dos serviços e os pagamentos.

Segundo o hacker, inclusive em email por ele enviado à Comissão de Inquérito (CEI) em andamento na Câmara de Bauru, os devassados são os vereadores Eduardo Borgo, José Roberto Segalla, Coronel Meira, Júnior Lokadora, Pastor Bira, Marcelo Afonso, Beto Móveis, Manoel Losila e Estela Almagro. Além do vice-prefeito, Orlando Costa Dias.

O hacker se refere a Walmir Vitorelli como “obcecado” e a ele atribuiu a contratação dos serviços. Diz Patrick que, até o início de 2022, recebeu a quantia de pouco mais de R$ 162 mil por estes serviços.

CDB PARA OCULTAR 

Questionado sobre a forma de pagamento (ele está na Sérvia desde março de 2021), Patrick conta que o esquema “sofisticou as remessas”. “Os pagamentos passaram a ser realizados através de aplicações financeiras (CDB e RDB) com saques em seguida”, revela. As operações foram realizadas em contas em seu nome, de sua mãe e avó.

O triste (também) desta história escabrosa é que a Polícia e o Ministério Público conseguiram alcançar estas informações agora informadas pelo hacker ao CONTRAPONTO há bastante tempo.

Em um dos vários relatórios e processos do caso (como o inquérito número 42 em Araçatuba e medidas cautelares), o delegado Pedro Paulo da Costa Negri Garcia aponta os indícios de crime, os nomes e contas identificadas e o elevado volume de remessas.

“Há também indícios que PATRICK CÉSAR DA SILVA BRITO se sustenta com valores arrecadados em suas práticas criminosas, bem possível envolvimento de sua genitora ALESSANDRA CRISTINA DA SILVA e por sua avó MARIA DE LOURDES SILVA, vejamos o apurado pelos investigadores dessa Delegacia Especializada de Polícia, conforme exímio relatório de investigação, anexado ao presente expediente.
Está demonstrada a fundada suspeita de que MARIA DE LOURDES SILVA e ALESSANDRA CRISTINA DA SILVA vem dando suporte financeiro
para que PATRICK CÉSAR DA SILVA BRITO permaneça na Sérvia cometendo crimes em território nacional, e em razão desta fundada suspeita, a legislação permite o afastamento do sigilo bancário dos suspeitos”, traz relato de 17 de agosto de 2022.

ARAÇATUBA

A movimentação milionária, conforme o apurado, traz tanto pagamentos relacionados a serviços de arapongagem em relação ao então prefeito Damasceno e esposa em Araçatuba, quanto, depois, da lista de 10 políticos de Bauru.

O informado pelo hacker se encontra na apuração. Em outro trecho do inquérito, o delegado traz: “Além disso, verifica-se que as datas das aplicações financeiras iniciam-se no mês de dezembro/2020, coincidindo com o registro de ocorrência datado em 20/12/2020, onde noticia o delito de extorsão e invasão de dispositivo informático do Prefeito Dilador Borges Damasceno e da Primeira Dama Deomerce De Souza Damasceno, no qual foi identificado como autor confesso o “hacker” PATRICK CESAR DA SILVA BRITO”.

A seguir, identificamos datas e valores de remessas de valores que coincidem com as datas de serviços informados por Patrick. Em julho de 2021 ocorreu o uso do Detecta no DEIC de Araçatuba (doc acima) para apurar ilegalmente registros em nome de Nélson Itaberá (Gonçalves).

O hacker também revela que em 22 de setembro de 2021, quando ocorrem outras aplicações de valor significativo, há prova de conversa entre ele e o policial Edison (que também atuou no DEIC de Araçatuba). No trecho destacado pela própria Polícia, desta ocasião, Patrick fala de pagamento e cita que cobrava caro porque “ela era milionária”. Ele cita Suéllen.

Em outra conversa interceptada, em 18 de maio de 2022, o hacker ameaçou “derrubar a prefeita”, em conversa com o policial Pimenta (meio-irmão do cunhado de Suéllen, Walmir Braga). “Manda a prefeita se preparar para o impeachment”, diz.

O tal inquérito 42 – já finalizado e mais de uma vez mencionado por Patrick como o processo com provas robustas em relação aos serviços – aborda as transações financeiras de valor mais elevado. Patrick Brito diz que a diluição em várias quantias era para “driblar” o registro pelo Coaf – comitê financeiro do Banco Central que monitora operações de alto valor. Este expediente, revelou o CONTRAPONTO no caso Cohab, por exemplo, foi utilizado, por Gasparini Júnior para não ser identificado pelo sistema.

E, de fato, traz o inquérito, que “observa-se também que a partir do dia 08/07/2021 iniciou-se aplicações de valores mais expressivos, no importe de R$ 17.032,00 (dezessete mil e trinta e dois reais), no dia 22/09/2021 no valor de R$ 87.769,00 (oitante e sete mil setecentos e sessenta e nove reais), sendo que no ano de 2021 foram creditados o total de R$ 162.404,00 (cento e sessenta e dois mil quatrocentos e quatro reais)”.

Em detalhe: “Já no ano de 2022 foram aplicados a soma de R$ 1.061,686 (um milhão sessenta e um mil seiscentos e oitenta e seis reais)”, confirma a apuração.

Os pagamentos diluídos eram resgatados de aplicações de renda fixa que tinham como beneficiários parentes do hacker. Os saques aconteciam nos dias seguintes às operações.

CONTAS DE ORIGEM

Patrick Brito questiona algo relevante: “por que o IP 42 não junta as contas que fizeram os depósitos (origem)?”.

 

LEIA MAIS em: CEI do hacker vai apurar lista de 10 políticos – CONTRAPONTO

CASO HACKER: policial acusa outro policial de pesquisa ilegal contra jornalista dentro do DEIC

 

2 comentários em “Hacker aponta R$ 162 mil pagos para espionar 10 políticos de Bauru”

  1. Parabéns Nelson, pela clareza com que você expõe os dados e fatos.
    Minha solidariedade a você e desejo que os envolvidos paguem pelos crimes cometidos.

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