Veja abaixo vídeo do incêndio na mata
Depois da Estação Ecológica em Bauru, as chamas consomem a Floresta Estadual em Pederneiras. Segundo observadores que estiveram no local, o fogo começou ainda pela manhã do domingo (04/10). Mas o governo do Estado, com apenas um servidor atuando na área de mata nativa, passou o dia assistindo ao avanço das chamas. Na noite do domingo, o fogo já atingia área pinus, onde a resina infelizmente contribui para a propagação rápida do incêndio.
O vento, combinado com a longa estiagem e a omissão do governo do Estado na manutenção de mecanismos de proteção, tornam a Floresta Estadual de Pederneiras presa fácil para as queimadas. Segundo dados do próprio governo em consulta pública sobre o manejo do local, de 2018, a Unidade de Conservação de Uso Sustentável do Instituto Florestal de Pederneiras tem 1.941,45 hectares, com mata nativa do bioma Mata Atlântica, em região de transição com o cerrado. A área de conservação e experimentação florestal tem entrada pelo km 123,4 da rodovia Bauru-Jaú.
Conforme o deputado federal e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Agostinho, o governo do Estado é negligente e omisso na proteção de áreas como a de Pederneiras. Há menos de 10 dias, o deputado lamentava incêndio de grandes proporções na Estação Ecológica Estadual em Bauru, onde cerca de 100 hectares de mata nativa foi destruída, em uma área de 287 hectares de conservação.
“O fogo está queimando na Floresta Estadual de Pederneiras desde sábado. E nada foi feito. O Corpo de Bombeiros de Bauru demorou muito tempo para atuar no local e, ainda assim, paralisa as atividades quando anoitece. O problema mais grave é que, além de queimar mata nativa e plantios experimentais antigos no local, o tempo muito seco e o vento dificultam o combate. Não sei o que vai sobrar porque neste domingo o fogo atingia áreas de pinus, que tem resina e queima muito fácil. Até então, havia atingido plantio antigo de eucalipto, que demora mais a queimar. É um bem genético importante, mais um em nossa região, que sofre com incêndio”, comentou.
Rodrigo lembra que, antes dessa ocorrência, há três dias as chamas destruíram área de bem mais de 40 hectares na floresta chamada Pantaninho, às margens do rio Jacaré-Pepira, uma mata entre Ibitinga e Bariri. “Este ano é o mais quente de muitos. Os incêndios já emitiram 400 partes por milhão (PPM) de gás carbônico no ar. A seca prolongada e os efeitos sobre o clima acentuam a preocupação com o meio ambiente e suas consequências. Bauru tem de repensar o uso da água no rio Batalha, por exemplo, porque ele está seco e em vários pontos. O problema não é na Lagoa de Captação. É ao longo da extensão do rio, que secou em vários pontos”, pontuou.
O zootecnista Luiz Pires, que ainda convivia com o incêndio que destruiu 100 hectares de mata na Estação Ecológica do Estado em Bauru, esteve na área de Pederneiras no início da noite do domingo. Em vídeo publicado em sua página no Facebook, o zootecnista lamentou a omissão estadual no combate ao incêndio.
“O fogo começou cedo (domingo) e sem ninguém combatendo. O fogo pulou já da área de mata nativa e já está destruindo pinus muito antigo e muito inflamável pela resina. Não vai apagar e tem um único funcionário vigiando e não tem o que ele fazer”, narrou Luiz Pires, no vídeo.
Conforme dados do Plano de Manejo da Estação Florestal de Pederneiras, de 2018, até então o local já tinha registrado oito incêndios ocorridos dentro dos limites da reserva,sendo sete ocorrências somente no ano de 2014, com área total queimada de 159,5 ha na época, e uma ocorrência em 2016, com área queimada de 20 ha.
Nesse estudo, os técnicos apresentam, em diagnóstico, que a pressão urbana no entorno, a proximidade com rodovia, o acesso livre nas imediações em razão de extensa plantação de cana-de-açúcar tornam a área suscetível a incêndios e degradação por intervenção humana.
(Veja vídeo):
Posted by Luiz Pires on Sunday, October 4, 2020
Estudo detalha importância da Floresta Estadual de Pederneiras
Conforme estudo publicado na revista IF Série Registros, do Instituto Florestal, é diversificado o potencial da Floresta Estadual de Pederneiras (FEP) para a realização de atividades de uso público. Informações do trabalho foram publicadas no portal do governo do Estado em agosto passado.
A pesquisa propõe a implantação de trilhas interpretativas de média e de longa distância na Unidade de Conservação (UC) passando por atrativos cênicos e áreas adequadas para atividades educativas e recreativas.
No levantamento, são identificadas edificações que podem ser utilizadas para a implementação de estruturas físicas de atendimento ao público, como centro de visitantes e hospedaria. O trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o potencial da FEP para a implantação de um Programa de Uso Público. Para isso, os pesquisadores envolvidos realizaram diversas visitar à área entre 2016 e 1017 e analisaram sua infraestrutura e seus atrativos. Também percorreram trilhas e elaboraram traçados demarcados com GPS.
Relevância ecológica e paisagística
Conforme a publicação, a Floresta Estadual de Pederneiras é uma UC de Uso Sustentável com cerca de 2 mil hectares. Seu bioma natural é Mata Atlântica em região de transição com o Cerrado, apresentando vegetação exótica de pinus e eucalipto e cerca de 800 hectares de vegetação nativa.
No artigo, é mencionado que o município de Pederneiras possui apenas 4,71 % de sua área com vegetação natural e 3,3 % de reflorestamentos, o que confirma a grande importância da unidade para a proteção da biodiversidade da região. Além disso, a Floresta pode ser uma fonte para obtenção de sementes e produção de mudas nativas para a recuperação da cobertura florestal.
A Floresta Estadual de Pederneiras possui diversos atrativos para a visitação, como corpos d’água, cachoeira, represa e vegetação nativa (que pode ser ampliada por meio da substituição de parte da vegetação exótica). Quatro pequenos riachos nascem no interior da Unidade e formam o córrego dos Carajás. Dois deles estão totalmente inseridos na UC.
O estudo serviu também para subsidiar o Plano de Manejo da UC, publicado em 2018. De acordo com o documento, a FEP abriga diversas espécies ameaçadas: árvores como o ipê-felpudo, o jacarandá-paulista, a canela-preta, e cedro-rosa, além do arbusto Mostuea muricata.
Presente em todos os trechos de vegetação nativa da unidade, o arbusto é endêmico do Brasil e foi descrito há apenas 15 anos para o interior paulista. A população presente na FEP é a sexta população registrada para a espécie e a segunda em Unidade de Conservação. Entre as espécies animais, há o gato-do-mato-pequeno, a jaguatirica e a onça-parda, todas consideradas ameaçadas de extinção. Já os lagartos papa-vento e lagarto-do-rabo-azul são considerados ameaçados de extinção no estado de São Paulo.
Trilhas interpretativas
Uma das principais propostas foi a de implantação de duas trilhas de interpretação, uma de média e outra de longa distância (dois e quatro quilômetros). Os traçados dessas trilhas contemplam áreas planas e passam por atrativos cênicos e plantios de espécies exóticas e trechos de vegetação nativa, adequados para atividades educativas ou recreativas.
Caminhada por trilhas em áreas naturais é uma modalidade de ecoturismo, uma das formas sustentáveis do turismo, que pode contribuir com a conservação da biodiversidade e promover melhorias na qualidade de vida das comunidades do entorno. Trata-se de um investimento de longo prazo em conservação e educação.
As trilhas interpretativas auxiliam a assimilação do conhecimento sobre as relações que ocorrem na natureza e sensibilizam os visitantes acerca da importância das áreas e dos recursos naturais. O processo de interpretação ambiental é um importante recurso de interação do público visitante com o meio natural, representando uma importante ferramenta de sensibilização e de construção de conhecimentos para os visitantes, podendo também proporcionar atividades lúdicas e recreativas.
Uma trilha é considerada interpretativa quando seus atributos são traduzidos para o visitante através de guias especializados, folhetos ou painéis. A trilha guiada é aquela realizada com acompanhamento de um guia tecnicamente capacitado para estabelecer um bom canal de comunicação entre o ambiente e o visitante.
Já a trilha autoguiada permite o contato do visitante e o meio ambiente sem a presença de um guia. Recursos visuais como painéis e placas, orientam a caminhada com informações de direção, distância, elementos a serem destacados e os temas desenvolvidos.
Legado
O artigo publicado na IF Série Registros é o último trabalho do pesquisador científico do IF Waldir Joel de Andrade, falecido em 2017. Waldir destacou-se pelo pioneirismo na implantação de sistemas de trilhas nas UCs do estado de São Paulo e tornou-se um profissional de referência no Brasil no assunto.
LINK DO CONTEÚDO DO ESTUDO: