Por Gustavo Candido
Marketing e o mundo da tecnologia é repleto de buzzwords, aquelas palavras ou expressões que – por um tempo – se tornam o tema principal de todas as conversas. Este ano começou com uma buzzword antiga de volta: Inteligência Artificial.
A tecnologia está em todas as conversas desde o final de 2022 e foi até assunto no Fórum Econômico Mundial, realizado na cidade suíça de Davos.
A razão para isso é o ChatGPT, um chatbot lançado em novembro de 2022 pela startup americana OpenAI, que consegue responder e produzir conteúdo de texto sobre qualquer assunto no formato que o usuário deseja.
Por exemplo, se eu usasse a ferramenta, poderia simplesmente pedir (em português) um artigo sobre Inteligência Artificial e – em menos de 3 minutos – um texto novinho estaria na minha tela para ser “copiado e colado”.
Eu testei o ChatGPT quando ainda estava na versão beta e é realmente uma ferramenta impressionante, principalmente por oferecer um texto bastante natural, parecido com uma criação humana. A sua fonte de dados são milhões de exemplos de texto, incluindo artigos, livros e conversas, o que faz com que ela possa compreender e responder perguntas, realizar tarefas de tradução e até mesmo escrever poesias e contos.
Você pode estar se perguntando agora se como criador de conteúdo eu me senti ameaçado. A resposta é não. Ao contrário, o avanço da Inteligência Artificial só valoriza algo que eu tenho que a máquina nunca vai ter: humanidade.
A Inteligência Artificial pode ser uma ameaça?
É certo que a tecnologia – como tem feito desde sempre na história humana – muda comportamentos, impacta a forma de produção e torna obsoletas algumas atividades. Nos séculos XVIII e XIX, a industrialização eliminou a manufatura de uma infinidade de produtos, obrigando trabalhadores a buscarem outras funções no mercado. Ao longo do século XX esse processo aumentou e não é diferente hoje para algumas atividades.
Então, sim, a Inteligência Artificial, como já tem acontecido, vai eliminar algumas atividades que hoje são feitas por humanos. Basta buscar o atendimento por chat de qualquer empresa e ser atendido por um sistema para perceber. É um processo natural.
As atividades que envolvem esforço físico – como também aconteceu durante o processo de industrialização – são as primeiras a serem impactadas. Os exemplos mais claros são a automatização da fábricas e da produção agrícola. Grandes fazendas hoje em dia funcionam com mais eficiência tendo menos pessoas no campo e mais máquinas e sistemas robotizados e drones em ação.
O desenvolvimento da Inteligência Artificial agora mira também as atividades intelectuais e é aí que surge a necessidade de ressignificar a importância da função humana nos processos.
O que é do homem a máquina não toma!
Alguém já disse que a máquina não rouba funções do homem, ela só pega de volta atividades que não precisam necessariamente ser feitas por pessoas.
Eu tendo a pensar dessa forma. Se uma máquina programada por um computador pode fazer uma colheita com mais eficiência do que um grupo de pessoas, construir uma ferrovia sozinha ou montar veículos e equipamentos eletrônicos com precisão, por que usar o ser humano para isso?
Os pessimistas podem pegar esses exemplos e dizer: mas as pessoas que ficaram sem esses empregos? Essa é forma errada de olhar para a evolução da humanidade. Os homens desde o início dos tempos criam ferramentas para tornar sua vida mais fácil.
O uso dessas criações influencia comportamentos e muda a vida, cria novas atividades e possibilidades de trabalho.
Quando os automóveis começaram a se popularizar no início do século XX, substituindo os veículos de tração animal, naturalmente os cocheiros e tratadores de animais foram perdendo a importância. Por outro lado, surgiu a necessidade por motoristas e mecânicos. Quem se adaptou seguiu em frente, quem resistiu pereceu. E assim aconteceu com inúmeras atividades.
A Inteligência Artificial vai acabar com a escrita e a arte?
Deslumbrados por tecnologia tendem a ser “apocalípticos” no sentido de acreditar que a Inteligência Artificial vai substituir a criação humana em todas as áreas e até em atividades intelectuais. Todo o barulho em torno do ChatGPT e outras formas de Inteligência Artificial Generativa tem sido comemorado por eles.
É um exagero. Um programa pode escrever um texto, mas não pode escrever o MEU TEXTO, que nasce a partir da minha capacidade de expressar em palavras a minha visão do mundo apoiada no meu repertório.
Nenhuma máquina pode me copiar porque não possui a minha história, a minha leitura e não acumula as informações que eu obtenho diariamente de diversas fontes.
“Ah, mas o programa é alimentado por uma infinidade de dados”. Sim, dados imputados a partir de fontes genéricas e que sempre vão oferecer as soluções mais simples e fáceis de serem compreendidas. Pelo menos por enquanto, é um nivelamento por baixo da informação (o que, diga-se de passagem, é bastante perigoso).
É claro que para alguns conteúdos isso basta. Sempre me lembram que já existem “jornalistas robôs” usados para escrever textos esportivos na Europa e nos Estados Unidos. Elencar uma série de resultados de jogos, com números e estatísticas é realmente uma tarefa que pode ser feita por uma máquina.
Já realizar a análise do que esses números significam ou fazer a cobertura de um evento esportivo, que é algo que exige criatividade, curiosidade e capacidade de contar uma história nova que se desenrola na sua frente em tempo real não é para robô algum.
Quem acredita que isso é possível se contenta com textos de pouca qualidade e criatividade.
Quando eu procuro o livro de um autor eu quero saber o que aquele autor pensa; quando assisto uma entrevista de uma personalidade eu quero saber qual a opinião dela sobre algo; quando assisto um filme quero ver qual a visão dos seus realizadores sobre a história ou sobre o uso da técnica; e assim por diante. Em outras palavras, eu procuro o humano por trás das obras. Todos fazemos isso.
É por isso que mesmo que uma máquina copie com perfeição as pinceladas carregadas de Van Gogh ou aplique o chiaroscuro de Caravaggio, o resultado não será uma obra desses artistas. A técnica não é o todo, não é a motivação do trabalho. A técnica pode ser copiada e reproduzida, o propósito da obra não, porque é exclusivo de quem cria e porque nasce de razões e emoções humanas.
Acredite: seres humanos se identificam verdadeiramente por características humanas nas coisas. É por isso que as empresas de tecnologia trabalham com afinco para melhorar a capacidade dos seus programas de simularem o humano, seja na aparência, na voz ou no conteúdo.
O segredo é usar a tecnologia, não competir com ela
Não percamos tempo tentando conter o avanço da tecnologia. Ele é inevitável. Você só vai perder o seu trabalho ou a sua função para uma máquina se ficar parado acreditando que já sabe tudo e não precisa aprender mais nada.
O caminho – como a História ensina – é se adaptar, usar as inovações para tornar a vida e o trabalho mais fácil e não acreditar que elas vêm para atrapalhar.
As ferramentas servem para potencializar a capacidade humana de criar, de pensar e desenvolver novas soluções. Se a Inteligência Artificial já realiza feitos incríveis é uma sinalização de nós podemos ainda mais, podemos ir além. O segredo é não estagnar, buscar e produzir conhecimento para criar coisas que só você pode criar. Criatividade não é algo que possa ser produzido artificialmente.
O autor é consultor de marketing digital, fundador da Conten Comunicação Digital. Também é jornalista e autor de livros sobre Trade Marketing, Atendimento e Multicanalidade e Gestão de Marcas.
Instagram/Facebook: @gucandido; LinkedIn: gustavo-candido