Leões no Templo: a ameaça à cidade

Por Carlos Braga

Imaginem o templo de Jerusalém, descrito na Bíblia como casa de oração para todos os povos. De repente, dele saem leões – não os de pedra, mas os vorazes, que devoram o rebanho. A imagem, tirada do Salmo 74 e ecoada em profecias, simboliza a profanação do sagrado. Hoje, em nossas cidades (na maioria delas), os leões não rugem nas colunas do templo: saem dos gabinetes, vestem roupas caras e carregam pastas de projetos.

São os políticos que transformam o erário público em pasto privado. Orçamentos superestimados e inchados por emendas, descontrole fiscal nas alturas e dívidas milionárias e impagáveis, licitações e concessões dirigidas, cargos comissionados em série – cada mordida é um rombo nas finanças públicas. Escolas mal cuidadas e sem merenda, postos de saúde em total decadência, violência dominando as ruas esburacadas: o rebanho sofre enquanto os leões engordam.

A analogia é cruel, mas precisa. O templo era o coração financeiro e espiritual da nação antiga; a prefeitura é o nosso. Quando a classe política trata o dinheiro público como butim, não há diferença entre o leão que sai do santuário e o político que age, governa e vota apenas visando a sobrevivência de seu projeto político pessoal.

As cidades, porém, não estão condenadas ao sacrifício. A mesma Escritura que denuncia os leões também clama por justiça. É hora de cerrar as portas do templo – ou, em linguagem moderna, de barrar o acesso irrestrito aos cofres públicos. Aplicação correta e endurecida das leis de responsabilização penal, civil, administrativa e eleitoral por juízes capazes e isentos, fiscalização exemplar dos órgãos de controle (Tribunais de Contas e Ministérios Públicos), e acima de tudo participação ativa da sociedade de forma permanente: só assim expulsamos os predadores.

Para que as cidades sobrevivam de maneira justa e igualitária, precisamos varrer os leões do templo. Que o rugido fique apenas na memória bíblica, e que o dinheiro público volte a servir somente ao povo – todo o povo.

O autor

Carlos Eduardo Faraco Braga, advogado e consultor em São Paulo. Ex-professor de direito financeiro da Faculdade de Direito da USP e da Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo – FADISP. Ex-deputado Estadual.

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