N. 126 LENÇÓIS TEM 2 MORTES COM ESTOQUE ZERADO DE KIT INTUBAÇÃO E O CASO ARARAQUARA
REAÇÕES
É cada vez mais frequente o número de casos em que pessoas “perdem o equilíbrio” durante a pandemia. O psicólogo Arnaldo Vicente, nosso colunista do CONTRAPONTO, já havia alertado, lá em meados de 2020, para esse quadro. O que ninguém esperava é que as mutações da Covid viessem com “toda força” e a pandemia, ao invés do alívio com o anúncio de vacinas (apesar dos atrasos), trouxesse o aprofundamento da insegurança, neste momento.
Registramos ofensas frequentes, mesmo nas redes sociais. Em outros casos, basta a informação contrariar o que alguém pensa (ou acha que sabe)…. e lá vem pancada…
ETIQUETA VIRTUAL: não “batemos boca”. Argumentamos, tentamos explicar. Se do outro lado não houver a mínima chance de diálogo, o remédio é o “isolamento virtual”….
MORTES EM LENÇÓIS
Recebemos, como muitos jornalistas, no domingo um áudio em que o médico Norberto Pompermayer desabafa e chora pela morte de duas pessoas com Covid (uma mulher de 46 e um homem de 41 anos). Mas não vamos publicar o conteúdo. Primeiro porque se trata, visivelmente, de um desabafo pessoal do médico (dedicado profissional daquela cidade). Segundo porque, sem autorização, nem é o caso.
O fato é nossa obrigação retratar: As duas mortes, conforme os relatos (inclusive com lamento do prefeito Anderson Prado em live, à noite) ocorreram porque os dois pacientes não contaram com os remédios que integram o kit intubação. Ou seja, se já morrem, em muitos lugares, pacientes que não conseguem ter ao menos a chance de internação UTI, a gravidade chega a casos onde faltam analgésicos e relaxantes musculares potentes para os médicos usarem.
ESTOQUE ZERADO
A escassez desses medicamentos essenciais ao tratamento intensivo para doentes graves já era de conhecimento do Estado. A DRS-6, que responde pela Saúde na região, teve de acionar o AME de Botucatu (mas em pleno domingo), para contornar o que, já sabia, era grave. Conseguiram ampolas emprestadas dos remédios para Lençóis.
Mas o fato grave permanece. A Saúde daquela cidade menciona que utiliza 300 ampolas /dia na demanda atual para Covid, mas a DRS-6 teria providenciado umas 30…
ESTOQUE BAURU
Fizemos a mesma pergunta à Secretaria Municipal de Bauru sobre estoques de medicamentos para atendimento Covid (e de outros casos, porque os analgésicos são comuns para outras tantas intervenções).
Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, o estoque está regular para as próximas semanas.
PREFEITA NA LIVE
Não é só o descrédito, falta de consciência ou não concordância com medidas de restrição que são adversários do combate à pandemia. Em live no domingo à noite, a prefeita Suéllen Rosim, comenta que recebeu vídeos da Polícia Militar com casos de desobediência “na cara dura”.
“Recebi vídeos graves da Polícia Militar. A equipe chega, as pessoas dispersam e, virou as costas, voltam a aglomerar. A prefeita voltou a comentar que “impor medidas não resolve”, mas disse que vai fazer ajustes nas ações e dividir a responsabilidade. Ela disse que vai tomar novas ações também em função do feriado de abril….
DECRETO MAIS LEVE
As regras de contenção ao coronavírus mudaram neste 1 ano? Muitas! E alguns “ajustes” vieram porque o Estado cedeu a pressões. Independentemente do mérito, o fato que é várias exigências estão mais frouxas.
Durante o ano passado, você lembra que na fase vermelha o limite para ocupação de espaços era 20%…. E haviam detalhes específicos, como o de uma pessoa a cada 1,5 m, controle de lotação para mercearias, hortifrútis (com menção em lista para locais de aglomeração….).
Agora, na fase de “descontrole de casos e mortes em alta”, é que iniciaram a aplicação de apenas 1 pessoa por família nos supermercados… Bom.. mas não é só isso… com razão, leitores reclamam que nos “coletivos” e “feiras livres” os contatos continuam “soltos”…
Já a prefeita Suéllen adotou 50% de lotação para supermercados. A princípio, o Plano SP da Fase Emergencial “deixou” em aberto a regra para o setor (serviço essencial)… até ontem havia dúvida sobre isso…
PRA CONFUNDIR?
Não tem sido fácil praticar jornalismo durante a pandemia. Fora os ataques sem causa, reações orquestradas, a politização, o achismo… a confusão em torno de dados, equivalências… infelizmente traz prejuízos à atividade. E aqui nós, jornalistas, cometemos pecados que ajudam a “bagunçar o coreto”.
Vamos dar dois, entre inúmeros exemplo. Na semana passada publicamos uma material de jornalismo de dados, apuração, mostrando que, ao contrário do que muitos repetiram (Só se morre de Covid…), os registros oficiais identificam que há um aumento gigantesco de óbitos de SRAG… sem precedentes… sem contar o total de registros de morte Covid…
CASO ARARAQUARA
Agora tem gente forçando a barra ou errando em conceitos básicos de comparação que, no fim, alimentam a reação do leitor (com razão)… e, claro, servem de banquete para maldizer e os maldosos…
Na sexta, todos os veículos manchetaram que “Araraquara teve 24 horas sem registro de mortes, após 44 dias do lockdown (em fevereiro). E lá vieram avalanches de “especialistas” de rede social condenando ou atacando a notícia. Bom, ninguém seria ingênuo a tal ponto de achar que a notícia “decretava” que as mortes por Covid estavam, então, “extintas” em Araraquara (?) (sic!).
MÁ FÉ OU?…
Mas lá vieram matérias de veículos “com versões completamente inversas” sobre os resultados do lockdown em Araraquara. Uma disputa “ideológica” que “contaminou” as editorias de vários veículos… E, de novo, serviu de alimento para mais ataques ao jornalismo…
E alguns, com razão! O pior disso tudo é vascular essas matérias e, ao confronta-las com boletins oficiais, identificar (claramente) onde cada um “forçou a barra”… por qualquer “lado” “que se olhe”: lamentável!
Para fazer valer suas “teses”, teve matéria que, sem pudor, utilizou comparações entre períodos completamente distintos. A “Oeste” saiu afirmando que Araraquara teve aumento de pacientes em UTI, assentando que o “lockdown” fracassou. .
Para tanto, citou que em 21/2 (início do lockdown) haviam 62 pacientes em UTI naquela cidade. E que em 21/3 eram 85. Criticou que quem publicou redução em ocupação UTI (de 98% para 89% no período) não apontou que houve “aumento de leitos UTI” nesse tempo…
Me perguntaram sobre um vídeo do Caio Coppolla sobre o mesmo assunto: Olha! Ele foi na mesma direção, mas usou uma ‘tática’ retórica diferente: ele passa rápido pela afirmação… – não a explica – e deriva o comentário para outro “canto”) …
ALGO DE ERRADO?
Bom.. vamos lá… exercitar raciocínio juntos…. E ai vocês tiram suas conclusões! Dá trabalho, mas os boletins (um a um) Covid registrados por Araraquara trazem, no mesmo período apurado pela “Oeste” que aumentou sim o número de UTIs, mas ocorre que a origem da lotação mudou substancialmente. Como assim?
Em 21/3, dos 172 pacientes internados com Covid por lá, 94 eram da cidade (54,65%) e 78 de outras localidades (45,35%).
Mas em 21/2 (início do lockdown) dos 218 internados, 180 eram moradores de Araraquara (82,56%). E só 17,4% de fora. Fica difícil verificar que as medidas de restrição reduziram, substancialmente, o número de pacientes locais internados, mas a cidade passou a “socorrer” pacientes vizinhos, vários de São Carlos?
HONESTIDADE INTELECTUAL
Fique claro que aqui, no CONTRAPONTO, não reivindicamos nada além da franqueza com os métodos, dados, e informações! E se errarmos (e isso ocorre!) apontamos…
Mas é triste ver o jornalismo distorcendo regras básicas de estatística pra caminhar com informação de acordo com o dono da banda (o grupo que manda no veículo)!
Na comparação sobre “número de mortes” em Araraquara, veículos utilizaram critérios diferentes. Gente! Regra é regra. Não se compara algo com “grandezas” ou quantidades distintas… Publicaram mortes comparando 31/12 a 21/2 com 11/3 a 21/3… Ai não dá né!
SUGESTÃO
A forma tão “sacana” que alguns (incluindo gente inteligente de fora do jornalismo) utilizam dados é muito além do desserviço. É crime, em um momento tão grave. Olha! o descaramento tem sido tanto que aqui, no CONTRAPONTO, demos um tempo com publicação de dados diários… Informamos alguns pontos: ocupação de UTI, totalizamos número de mortes sem o paciente conseguir UTI (para indicar a quantas anda a farsa… ) e por ai… E só!
Mas damos um pitaco: quer comparar número de casos, mortes e positivos registrados na Covid? Veja os registros de média móvel. Bate o olho no gráfico. O “desenho” vai lhe mostrar se “subiu”, “estabilizou”, ou “desceu”… no tempo.
Até Rt( taxa de transmissão) ficou difícil apontar, com o dado “frio”. Porque as mutações e as novas “incidências” sobre o comportamento do vírus também “mudaram” a forma de “interpretar” o Rt. Isso não é afirmação nossa não, viu? Jornalista é, regra geral, generalista! Eu não estou epidemiologia, infectologia. Mas aprendi a fazer perguntas, a avaliar e, claro, ouvir quem sabe… procurar especialista… setor a setor.
CONTRÁRIOS
O presidente da Emdurb, Luiz Carlos Valle, levou dois “puxões” de orelha na audiência pública realizada para discutir a possibilidade de transformar a empresa em uma autarquia. Ao invés de mostrar gráfico, planilha, apresentação objetiva com o estudo que ele informou fazer sobre o tema, desde antes de janeiro passado, Valle enveredou para trajetórias, citações de amigos e cutucões sobre “interesses escusos”… com o lixo. (Nem precisava gastar saliva para dizer que lixo é milhões, alvo do setor privado)…
Em duas intervenções, o presidente foi advertido que, como agente público, tinha de apresentar suas afirmações de “interesses escusos presentes” ao MP! Sobre a estrutura jurídica para “autarquizar”, Valle também não forneceu o parecer de sua gerência jurídica e perdeu a chance de por sua assessoria para esplanar…. Pra isso era a audiência!
Veja, há processo interno na Emdurb apontando parecer contrário (juridicamente) à autarquização. E, na audiência, o secretário Jurídico Municipal (Bugalho) também posicionou que a medida é ilegal. Há alternativa para “extinguir” a Emdurb e criar uma Agência (autarquia). Mas é preciso montar indenização, contratação de novo quadro… ainda que por aproveitamento… mas, quiçá…. no regime CLT…
Enfim! explicou-se pouco! E restaram inúmeras dúvidas. A posição jurídica pela impossibilidade da pretensão de Valle é do Jurídico da prefeita! Ele tem de ler e discutir este e outros pontos lá, primeiro….
Já sobre a “continha” que fica para a previdência, o cálculo (de especialista) traz que a autarquia gera déficit de R$ 60 milhões no fundo do servidor. Ora, gente! Esses dados precisam ser ditos! Eles precisam ser discutidos!… Com espírito público!
Que se busque caminhos, mas sem querer ditar o sermão e o versículo!
Nem sempre concordo com suas análises. Mas parabéns pelo trabalho Nelson.
Parabéns Nelson!!!vem melhorando cada dia sua habilidade de lidar com as inabilidades, desacertos e com a fase critica que enfrentamos!!! Seguimos a vida por aqui, com o binóculo voltado para família e amigos em Bauru!!! Sucesso!!!