N. 398 Institutos Nacionais vão atuar para recuperar peças e móveis históricos destruídos; todos os governadores prometem agir contra ataques extremistas; caravana de bauruenses está na apuração do vandalismo
EXTREMISMO
Não há como tergiversar sobre os atos de vandalismo, de terrorismo, contra o patrimônio público de todos os brasileiros, e o ataque às instituições (com todos os seus defeitos), como aconteceu sem precedentes na história da jovem democracia brasileira, no último domingo, 08 de janeiro de 2023, em Brasília (DF), por extremistas criminosos.
Começar o fato por outro caminho não escapa a tentativa de descambar para a insensata ideia de tentar, em vão, justificar os meios utilizados. A maioria dos brasileiros, está claro nas redes sociais, reagiu condenando o vandalismo. E de várias origens e matizes ideológicas. Parte dos bolsonaristas não concorda com a quebradeira. E uma minoria, de aloprados, ou fanáticos, quer mesmo a barbárie. Outro nicho, pequeno, mas existente, se isola na narrativa de puxar o fio para outro pavio …
Dito isso fica para o País e os brasileiros a enorme ferida, com a missão de, então, avaliar as origens e os desdobramentos do episódio, o esgarçamento das instituições públicas (a anomia em curso, há anos) e políticas e a necessidade de colocar cada ator em sua posição, responsabilidade, também sem tergiversar. Serpentes, falsos profetas, bandidos, radicais, corruptos, de qualquer lado que seja, formam, alguns, desses atores.
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RECUPERAR
No dia seguinte à depredação das sedes dos Três Poderes por terroristas, o governo convocou restauradores de obras de arte de todo o país para recuperar itens danificados. Nesta tarde, o Ministério da Cultura faz uma reunião para requisitar servidores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) com conhecimento em restauração.
Conforme matéria de Welton Máximo, da Agência Brasil (a seguir), especialistas ligados ao Palácio do Planalto indicam que a recuperação da maioria das obras é possível, mas existem casos em que a restauração será muito difícil.
Ainda na noite de domingo, o Iphan iniciou diligência para avaliar a destruição no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal e nos demais espaços tombados.
Hoje, o Palácio do Planalto divulgou a relação preliminar das obras vandalizadas pelos radicais. Segundo o Palácio, ainda não é possível avaliar todos os danos causados ao mobiliário e as pinturas, mas existem obras importantes danificadas no térreo, no segundo e no terceiro andar.
OBRAS DANIFICADAS
As principais obras danificadas no Planalto são as seguintes:
No andar térreo:
• Pintura Bandeira do Brasil, de Jorge Eduardo, de 1995 — o quadro, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio e serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República, foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados.
• Galeria dos ex-presidentes — totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas.
No 2º andar:
• O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi brutalmente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias. O estado de diversas obras não pôde ainda ser avaliado, pois é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços para só daí ter acesso às obras.
No 3º andar:
• Obra As Mulatas, de Di Cavalcanti — a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanhos. A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até cinco vezes maior em leilões.
• Obra O Flautista, de Bruno Giorgi — a escultura em bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliado em R$ 250 mil.
• Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg — quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
• Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck — exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas. Avaliação do estado geral ainda será feita.
• Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues — o móvel abriga as informações do presidente em exercício. Teve o vidro quebrado.
• Relógio de Balthazar Martinot — o relógio de pêndulo do século 17 foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão.
Segundo o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, será possível recuperar a maioria das obras vandalizadas, mas ele estima como “muito difícil” a restauração do relógio do século 17.
CONGRESSO
Na Câmara dos Deputados, reportagem realizada pela TV Câmara identificou que os danos às obras de arte foram menores que o previsto. Ao contrário das primeiras informações divulgadas, o vitral Araguaia, da artista plástica Marianne Peretti, está preservado, assim como o quadro Candangos, de Di Cavalcanti, informa a Agência Brasil.
Uma escultura de Alfredo Ceschiatti, um estudo para as estátuas dos anjos que decoram a Catedral de Brasília, não foi danificada. A estátua de Victor Brecheret, que desapareceu ontem (8) da Chapelaria (entrada inferior do Congresso) foi encontrada no chão, atrás de uma poltrona.
Os maiores danos ocorreram na galeria de presentes de governos estrangeiros, exposta na entrada do Salão Verde. Diversos itens foram quebrados ou roubados, como vasos, ovos de avestruz e estátuas. Uma estátua chinesa foi arremessada contra os vidros e foi destruída.
Os prejuízos provocados no Senado estão estimados entre 3 e 4 milhões de reais. Segundo a diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, os maiores prejuízos estão na troca das vidraças quebradas e do carpete, totalmente alagado e manchado. Essa será, inclusive, a prioridade para os próximos dias, visando a posse dos novos senadores, no dia 1º de fevereiro.
Mas houve uma série de outros prejuízos. Obras de arte foram danificadas, um tapete de Burle Marx foi vandalizado pelos criminosos, que inclusive urinaram na peça. Móveis históricos, referentes à segunda sede do Senado Federal, no Palácio Monroe, no Rio de Janeiro, também foram alvo do ódio dos extremistas de direita. Uma mesa dessa época ficou tão danificada que talvez nem possa ser restaurada. Um tinteiro de bronze da época do império também foi vandalizado.
Um painel de Athos Bulcão está avariado. Um quadro de 1890, da assinatura da Constituição também foi danificado. Tentaram derrubar o quadro, que é muito grande. Se penduraram nele, mas ele não cedeu, apesar de ter sido danificado na parte de baixo.
CARAVANA BAURU
Pelo menos um grupo de manifestantes de Bauru, presentes nos atos em Brasília no domingo, está sob apuração por participação na invasão e, ainda, conivência e apoio a depredações na Capital Federal. Vídeos e depoimentos, gravados pelos próprios invasores, e registros nas redes sociais, com fotos e diálogos desde a organização, em Bauru, até a comprovação de invasão nos prédios, como no Senado Federal, já foram localizados.
Ainda no domingo à noite, integrantes de uma caravana com ônibus da cidade foram detidos e levados para registro de participação e demais procedimentos junto a autoridades policiais. Bolsonaristas gravaram depoimentos da participação, formando provas contra si, nos processos abertos ainda hoje.
Em Rio Preto, a Polícia Rodoviária identificou ônibus com participantes dos atos em Brasília, hoje, e levou os 45 passageiros para identificação na Polícia Federal, Conforme a polícia, parte dos passageiros era de Bauru e região.
FIM DO ACAMPAMENTO
Depois de 68 dias acampados em frente a 6. CSM, na Rua Bandeirantes, bolsonaristas retiraram tendas e demais instalações na tarde desta segunda-feira, no Centro. A Polícia Militar acompanhou a presença dos manifestantes que permaneciam na região central até o meio da tarde, sem intervenção.
Conforme participantes ouvidos pelo CONTRAPONTO, ainda havia, entre alguns, a ideia de que uma “reação inesperada, de última hora”, pudesse eclodir de dentro dos quartéis para agir contra a permanência do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no cargo. Outros ainda disseram que estariam aguardando, ainda que com desapontamento, uma reviravolta…. sem saber sob qual liderança e eficácia…
Parabéns Nelson. Pela divulgação das informações, especialmente dos bens destruídos. 🙌🙏🏻
Todo grupo terrorista nasce assim: fanatismo + extremismo + causa fraca = terrorismo