Pensar o combate a enchentes na avenida Nações Unidas sem descuidar do conceito contemporâneo de urbanismo. Atacar os pontos críticos com obras de drenagem unindo à proposta paisagismo, privilegiar as pessoas ao invés dos automóveis e conectar a principal via de entrada da cidade a importantes pontos comerciais e públicos consolidados, como a Rodoviária, Poupatempo, Calçadão e Shopping Boulevard.
É o que traz o projeto de especialização a “Requalificação da Av. Nações Unidas, em Bauru: drenagem urbana e mobilidade ativa na consolidação da cidade contemporânea”, trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Especialização Internacional “Planejamento Urbano e Políticas Públicas da Unesp, Campus de Bauru, para a obtenção do título de especialista, por Luis Gustavo Bonora Vidrih Ferreira. O estudo tem como coordenadores o Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Junior, Profa. Dra. Ana Maria Lombardi Daibem e Profa. Dra. Silvana Aparecida Alves.
Concluído em 2020, ainda sob a pandemia, o estudo de Vidrih reflete sobre uma solução para a inundação, mas sem que a cidade cometa o erro de não pensar, debater, uma solução que agregue valor, conceito, multiuso, urbanismo, focado nas pessoas, no coletivo. Até porque, como vem sendo defendido pelo Município em proposta de concessão – a drenagem da bacia da Nações Unidas envolve pelo menos meio bilhão de Reais. Não faz sentido, pelo menos entre pesquisadores de engenharia e urbanismo que “vivenciam a cidade onde moram”, levantar um projeto desse porte tocando apenas em piscinões e novas tubulações.
Não se trata de tirar o crédito de nenhuma proposta, mas de não pensar a importante avenida apenas como palco de inundações. Atacar as enchentes, mas gerar espelhos d´água, reposicionando o urbanismo e o uso da Nações Unidas, com passarelas, ciclovias e elevados com rampas interligando à Rodrigues Alves, Calçadão e outros equipamentos.
Utilizar a Nações Unidas (por cima dela), no térreo e abaixo.
Ou seja, a proposta estudada por Luiz Gustavo Bonora Vidrih Ferreira debate a enchente e, em si, a drenagem, mas sem descuidar do urbanismo, da requalificação do uso e do papel este importante equipamento público urbano – que abriga, como se sabe, também o cartão postal da cidade, no Parque Vitória Régia.
“Por sofrer de um problema crônico de enchentes em períodos chuvosos, uma das proposições iniciais do projeto foi a de refletir acerca das possibilidades de dispositivos à serem instalados na Avenida Nações Unidas. Uma vez que se refere a uma via implantada em fundo de vale, ou seja, em cota mais baixa do relevo, com o corpo hídrico canalizado, boa parte dos impactos de drenagem são causados pela impermeabilização do solo das porções mais altas e que acabam dirigindo as águas pluviais para o leito da avenida”, aborda o autor.
Ou seja, ainda que se reflita sobre uma infraestrutura de drenagem instalada na área do projeto, a solução definitiva do tema passa por uma reflexão e pela alteração da realidade construída por toda a cidade, sobre o modelo de manejo das águas pluviais em cada lote. Em reforço, seria simplista apontar apenas para as inundações na Nações Unidas – sem que a comunidade amadureça e compreenda, na revisão do Plano Diretor Participativo e também na Lei de Uso e Ocupação de Solo (LUOS), a importância de romper com os erros acumulados até aqui.
O CONTRAPONTO, com exclusividade, oferece à comunidade a Série IDEIA. Uma das vertentes de nosso jornalismo comunitário, reflexivo, de apuração, vigilância e investigação. Sem amarras! Outra Série é DIAGNÓSTICO, detalhando estruturas e dados sobre os principais temas e desafios de nossa cidade.
Ah! Grande Reportagem é para ler com calma. E, quiçá, reler. É um conjunto robusto de informações, conceitos.
Tema propício para o amadurecimento e olhos dos que vierem a pleitear governar a cidade neste 2024! Não acha? Boa leitura!
RETENÇÃO MODULAR
Uma das primeiras conceituações imaginadas no cenário de requalificação contemporânea da avenida Nações Unidas, nesse cenário, é a de conceber uma peça de retenção pluvial modular que pudesse ser replicada tanto ao longo da área de projeto, mas também que possibilitasse se espraiar para outros pontos da cidade. Assim, o estudo traz uma espécie de tanque, de execução em pré-moldado de concreto e formato cilíndrico, com a função de contenção nos momentos de cheia, reservando a água coletada e amortizando a sua drenagem. Enterradas no solo, estas peças estariam articuladas com a tubulação de canalização do Ribeirão das Flores.
DRENAGEM
A drenagem urbana na região da Avenida Nações Unidas é objeto de uma amplo e longo debate acerca de possíveis modelos de intervenção, com proposições que chegam a indicar transformações das praças da área em dispositivos do sistema. Diferentemente, o cenário estudado visa estabelecer uma possibilidade alternativa, um ensaio, que não ocasione na perda substancial de espaços livres da cidade, ao mesmo tempo em que tenta encontrar um dispositivo que contribua na região, mas que também possa ser dissipado para outras áreas.
Ou seja, permita investir em um conjunto de ações que requalifique a área central da cidade. “É importante reforçar que se refere à um estudo preliminar passível de validação mediante análise técnica e transdisciplinar que excedem a instância deste trabalho. Aqui é proposta a ação em diversas camadas, usufruindo ao máximo das superfícies de contato e dos volumes concedidos pela infraestrutura adicional de mobilidade – elevado – para contribuírem à drenagem. De maneira sintética, tem-se a duplicação das superfícies de absorção e calhas de vazão, com canteiros e calhas tanto no chão quanto suspendidas, criando-se peças de amortecimento da penetração ao solo e alongando o trajeto da água, resultando num maior tempo de saturação do sistema”, descreve o autor.
O projeto concentrou os estudos da confluência da av. Nações Unidas com a Rodrigues Alves até o encontro com a Avenida Nuno de Assis.
TANQUES
O estudo avaliou a implantação, a distribuição de tanques para retenção no subsolo, integrados à canalização do Ribeirão das Flores. Posicionados nos cruzamentos das vias, distribuídos em 10 pontos ao longo do trecho (identificados no desenho técnico), essas peças aumentariam o montante de água captada e drenada, concebe a proposta. Proposto em concreto pré-fabricado – anel e tampa -, como forma modular de replicação, adotou-se um diâmetro de 25,0 m por ser uma medida que demonstrou ser aplicável em grande parte dos entroncamentos da cidade, aponta a pesquisa.
Seu assoalho seria com material adequado à absorção. Internamente haveria uma canaleta, articulada à canalização, com aletas que permitissem seu transbordo no momento de aumento da vazão – chuva. Assim, o tanque somente é acionado em decorrência da precipitação, não prejudicando o fluxo normal do córrego. No nível logo acima, os canteiros centrais da Avenida seriam implantados em secção de encostas. Em suas concavidades estariam vegetação herbácea com capacidade e estrutura para a função de jardins de chuva, recolhendo e absorvendo parte da água escoada.
A proposta também prevê, na altura da Rua Marcondes Salgado, onde hoje há uma rotatória com gramado, a “inundação dessa área para a instalação de um espelho d’água conformando a paisagem. Em seu interior, um dos tanques enterrados seria exposto, dando visibilidade a solução de drenagem (veja imagem abaixo).
Solto do piso, no nível do elevado, mimetiza-se os mesmos dispositivos, dobrando a ”várzea”. Um conjunto de canteiros, bem como a adoção do concreto drenante para a pavimentação do tabuleiro dessa nova estrutura, captam a água quando precipitada, a qual é rumada à uma calha conformada pelo caixão perdido do sistema estrutural.
Pilares de sustentação do elevado com prumadas pluvial embutidas conduzem o volume para os dispositivos sob o solo, integrando o sistema.
ESPELHOS D´ÁGUA
Nas áreas de pedestres, ajardinamento e dotação de mobiliário qualificam os espaços. Há de se citar, ainda, que na confluência entre a Avenida Nações Unidas, Rua Marcondes Salgado e Rua Júlio Prestes, onde se conforma uma rotatória, o reordenamento dos limites foi associado, também, a substituição do gramado por uma paisagem lacustre através da criação de um espelho d’água em que no seu interior é exposto, como que em um fosso, um dos tanques componentes do sistema de detenção pluvial enterrado.
Nas ampliações são apresentados alguns dos trechos com uma espécie de ensaio de detalhamento dos cenários propostos pelo trabalho.
PROJETO DETALHA CONEXÕES E MULTIUSO EM CADA ETAPA
Se você chegou até aqui, teve contato com os principais pontos da proposta. A partir de agora, prepare-se para o mergulho: os textos descrevem cada intervenção proposta no estudo, em cada trecho. Cada elemento tem função específica na concepção trazida para, de fato, requalificar a Nações Unidas. Como adiantamos, a proposta não se resume a atacar inundação na região.
Ah! A Grande Reportagem, como você vê, traz informações técnicas, naturais desse tipo de conteúdo. As descrições técnicas são acessíveis, embora disponibilizadas aqui para abordagem e debate por profissionais Então vamos lá: explicar cada elemento pra você:
CALÇADÃO E POUPATEMPO
O Calçadão existente no Centro, sob a rua Batista de Carvalho, perdura ao longo das quadras de 1 até 7, trecho contido entre duas praças, Machado de Mello, junto à Estação da NOB, e a Rui Barbosa, onde havia a capela do Divino Espírito Santo. Com a implantação do elevado projetado sobre o eixo da Avenida Nações Unidas, propõe-se a articulação entre ambas estruturas – antiga e nova; Calçadão e elevado – através de uma continuidade diferenciada. Assim sendo, recebem essa intervenção as 3 quadras entre a praça Rui Barbosa e a Avenida, assim como parte da quadra subsequente à passarela implantada, ou seja, números de 9 até 12.
“Destacamos aqui a porção que se restringe estritamente à reordenação do térreo, envolvendo as quadras 9 e 10. Neste cenário, propõe-se a dilatação da pavimentação destinada ao pedestre, mas não de modo totalizado conforme o Calçadão e sim mais moderada, com a manutenção de uma faixa para circulação de veículos, bem como de reentrâncias no passeio conformando baias para estacionamento público”, apresenta a pesquisa.
O estudo descreve que “dessa forma, tem-se as dimensões finais aproximadas das larguras nesse trecho de 11 metros no passeio lado ímpar, 3,5 metros para a faixa de rolamento e 5,5 metros no passeio lado par, sendo suprimido 2,5 metros no ponto em que há vagas”.
Ressalta-se que há a fixação, em ambos os lados das calçadas, de uma faixa para circulação desobstruída com largura mínima de 1,5 metros em todos os trajetos. Estabelecido tais limites, foram propostos canteiros, de desenhos irregulares, destinados à vegetação herbácea e forração, de modo a absorver pequenos jardins de chuva, assim como a implantação de arborização para sombreamento.
Para o autor, os desenhos recortados, subtrações na pavimentação, possibilitam tanto a criação de espaços de permanência e estar, com mobiliários, quanto a penetração ao lote, ou mesmo a transposição entre os passeios.
O chão do trecho possui inclinação acentuada, com vetor no sentido à avenida, natural do relevo – fundo de vale. Ainda assim, a pavimentação buscou-se manter-se o mais constante, sem maiores interferências. O material é o mesmo da pavimentação do elevado, um concreto drenante e antiderrapante, descreve o estudo.
CONEXÕES
O pesquisador propõe requalificação multiuso para a Avenida. Dai a concepção de rampas, alças e, portanto, conexões com pontos importantes da região central de Bauru.
Este cenário retrata a posição de intersecção entre a rua Batista de Carvalho – continuação diferenciada do Calçadão – e avenida Nações Unidas – e articulação do elevado com a infraestrutura existente – com camadas projetadas sobrepostas, ressaltando a articulação entre ambas.
Outro recorte envolve, no nível térreo, as quadras 11 e 12 (parte) da rua Batista de Carvalho. São propostas, ainda, outras articulações: com contração da rua com ampliação da pavimentação de uso do pedestre, com a disposição de uma faixa de tráfego para autos e algumas vagas para estacionamento.
Esta parte ainda inclui implantação de canteiros colaboradores à drenagem e ao sombreamento da circulação, em desenho que permite os fluxos intra-lote e entre calçadas; fluidez do piso no que diz respeito à amortização de saliências complementares ao desenho natural do relevo, bem como à penetração pluvial ao pavimento.
Ressalta-se que as dimensões das larguras de calçamento e faixa de rolamento se mantêm as anteriores, entretanto, com a inversão para o passeio de maior amplitude para o lado par no caso da quadra 12, junto ao Edifício Brasil-Portugal, em razão da posição da rampa de acesso ao elevado.
No eixo da Avenida Nações Unidas, no nível térreo, houve a minimização das intervenções, sobretudo, concentrando tais modificações no centro do leito viário existente, o qual não se apresenta com dimensão constante. “Pautando-se pela reorganização dos elementos existentes – passeio e faixas de rolamento – estipulou-se a medida de 3,0m de largura para as calçadas e de 10,0m para cada sentido de fluxo veicular, compostos por uma faixa de tráfego com 3,0m de largura, à direita, e outras duas faixas com 3,5m de largura cada, ao centro e à esquerda”, prossegue a descrição.
RAMPAS
A medida residual destinou-se para novos canteiros centrais, escavados como calhas, com jardins drenantes, com larguras que variam de 1,0 à 3,1 m neste trecho. Em nível superior, neste cenário conformado está o ponto de arremate do elevado na porção sul, próximo à Avenida Rodrigues Alves. Também estão as peças projetuais de articulação com a estrutura de circulação urbana existentes no térreo.
Esta articulação, ou seja, a transição de níveis – entre térreo e elevado -, se dá por duas rampas. Uma delas, à oeste, se vincula ao fluidez da mobilidade vinda do centro da cidade, da região do Calçadão e sua nova continuidade na Batista de Carvalho, possuindo uma faixa para pedestres e outra para ciclistas, com 1,5m e 2,5m respectivamente.
Suas dimensões são de 4,0m de largura, constante até sua intersecção ao elevado, onde se dilata levemente, e de 59,4m de comprimento de trajeto, com inclinação de 4%. Já ao lado oposto, leste, a rampa se associa com a rua Batista de Carvalho em seu trecho no bairro Vila Antarctica, possuindo apenas uma faixa, sem delimitação exclusiva à ciclistas, com 2,0m de largura e perfazendo um trajeto de 35,5 m de comprimento, praticamente em nível, inclinada em 0,5%.
Por se relacionar na paisagem com o edifício Brasil-Portugal, tem-se uma dilatação em triângulo na junção entre elevado e rampa, em angulações que reforçam o caráter de marco visual do prédio na região.
CANTEIROS
Na ponta do elevado, (em um nó que associa esses eixos de distribuição – elevado e rampas – com a limitação do perímetro dessa nova estrutura com a perspectiva do sul da avenida), há a conformação de uma praça de cabeceira. Com canteiros de maiores dimensões que o trajeto do elevado, este espaço prevê uma estrutura de estar e contemplação, com gramados para se ocupar e mobiliário voltado ao repouso e permanência, focando-se as vistas para a paisagem da cidade.
As frestas existentes, assim como ao longo de todo elevado, mas na praça com maior porte, permite a penetração da iluminação no térreo, amenizando o possível sombreamento excessivo do espaço sob a passarela, bem como concedendo a salubridade da vegetação dos canteiros entrincheirados da avenida.
Ao norte dessas peças, o cenário desse recorte apresenta trecho do elevado de uso para a circulação, como uma passarela, onde há as faixas para ciclistas – 2,5m constantes, ladeados por um canteiro de 1,0m – e para pedestres – largura variável, mínima de 1,5m.
Ressalta-se que o trajeto de bicicletas se apresenta de forma mais retificada, enquanto que o andante tem passeio desenhado, permeado por canteiros que obrigam a seu desvio. Entre ambas, uma fresta esbelta e constante – a ser tamponada por um piso perfurado – estabelece uma relação com o térreo.
Pavimentação drenante de concreto, associada ao canteiro, permite a absorção pluvial para a calha rebaixada do elevado, articulada com o sistema de drenagem proposto.
Quanto as relações de alturas entre viário e elevado, o tabuleiro içado do solo está à 4,4m no ponto inicial – praça de cabeceira – e chega na altura máxima de 6,5m no trecho. O seu piso apresenta inclinação constante de 1% no trecho, salvo as rampas que possuem inclinações já especificadas.
INTERSECÇÕES
Ao longo do corpo estabelecido pela implantação do elevado existe a sobreposição e intersecção com algumas estruturas urbanas existentes, como o caso da praça em frente ao Senac e do edifício do Teatro Municipal. Este trecho selecionado apresenta o cenário proposto, com as relações e disposições arquitetônicas entre estas estruturas, as existentes e a nova.
No nível térreo, a reorganização dos espaços de circulação, com a fixação de largura em 3,0m de calçada em cada lado da via e de 10,0 m de leito de via para cada sentido de fluxo, acarretou em estabelecer o canteiro escavado variando entre 0,8m – proximidades do Senac – e 6,1m – em frente ao Teatro Municipal.
Também foi elaborado o redesenho da pequena praça no entroncamento das vias Rua Eng. Saint Martin, Rua Primeiro de Agosto e Avenida Nações Unidas, aplicando os canteiros e pavimentação similares ao estabelecido pelas novas estruturas. Esse novo layout compõe uma relação vertical, pela matiz arbórea, com o elevado.
Já na cota superior, ao nível do elevado, o trecho ampliado expõe o tratamento projetual do nó entre a passarela e praça sobreposta àquela do térreo. Nesse ponto há a inversão de lados entre faixas – ciclovia e passeio – justificada pela articulação mais a frente com o Teatro.
Uma das caracterizações principais da implantação dessa nova estrutura, içada com relação ao piso, é a sua costura com os equipamentos públicos e coletivos da cidade, que reforçam a demanda por um fluxo de pessoas de modo articulado. Ou seja, a forma em que o elevado se amarra com as diversas tessituras da paisagem urbana.
Este cenário grifa exatamente essa capacidade do projeto, uma vez que une a estrutura tradicional de comércio popular da cidade, o Calçadão, e um vetor recente de estabelecimentos lojistas que tem se consolidado com o tempo, o Boulevard Shopping, por meio de um tráfego rápido e simplificado entre ambas centralidades.
Essa articulação, de modo mais direto, ocorre por uma rampa que parte do corpo do elevado, rumo à leste, e chegaria em um acesso ao fundo do edifício do shopping, em um trajeto que se dá justamente sobre o eixo dos trilhos da antiga Cia. Paulista, perpassando pela paisagem da resiliente chaminé industrial da Antártica, ocultada hoje pelo prédio do Boulevard e sua rota de acesso pela Avenida Marcondes Salgado. A rampa, em concreto antiderrapante, tem extensão aproximada de 220,0m e cerca de 3% de inclinação.
Nesse mesmo ponto do elevado, mas do lado oposto – oeste –, parte-se uma rampa que interliga a passarela ao conjunto de edifícios dos antigos armazéns da Noroeste do Brasil, onde hoje há o funcionamento do Poupatempo, importante equipamento público que reúne os mais diversos serviços, dos mais diversos órgãos, em um único espaço.
Esta rampa tem uma extensão de 47,8m e inclinação de 3%. Quanto ao elevado, as larguras totais nesse recorte vão de 5,0 à 8,2m, com as larguras constantes de 2,5m de faixa pra bicicletas e 1,0m de canteiro, sendo o caminho de pedestres variável, de 1,5m até 4,7m, com pisos de concreto drenante e forração com arbustos nos canteiros.
Sobre as alturas com relação ao nível do solo, vão de 9,8m até 10,2m, sendo esse o trecho de maior distância da cota térrea, uma vez que há de se livrar do viaduto existente para trens, estando o elevado à uma distância de 4,1m do viaduto, medidos entre tabuleiros.
Na cota do piso existente, a organização do leito existente na proporção já estipulado nos demais trechos – 3,0/10,0/10,0/3,0 metros – com os jardins centrais nas dimensões de saldo, ocasiona larguras centrais que variam de 8,7m até 14,3m para tais espaços drenantes.
NAÇÕES X NUNO
Existente no entroncamento entre as duas avenidas – Nações Unidas e Nuno de Assis –, a princípio por motivo de desvios e rotas de fluxo do tráfego, há uma praça, a qual conta apenas com canteiro. A proposta redesenha a conformação dessa área livre, composta por pavimentação drenante e espaços ajardinados aos mesmos moldes dos demais espaços projetados.
Na cota superior, o recorte tem a porção final do elevado, do programa de circulação – passarela -, que articula a mobilidade à praça de cabeceira e ao prédio da Rodoviária. A largura do seu tabuleiro oscila entre 5,9m e 12,4m tendo fixados os 2,5m de ciclofaixa e 1,0m de canteiro em sua lateral, sendo variante o espaço destinado ao fluxo de pedestres, possuindo inclinação de quase 2% e uma fenda com grelha de aço agenciando a iluminação no piso sob a estrutura elevada. O trecho de passarela se funda em um nó onde se vincula à rampa que ruma para a Rodoviária e à praça sobreposta aquela em nível térreo.
Assim como os demais trechos, os pisos aplicados são em concreto drenante, associados aos canteiros. Já quanto à altura do elevado com relação ao nível da Avenida Nações Unidas, ocorre a variação entre 6,0m e 7,5m, sendo esta última referente à projeção entre praças.
PASSEIO SOBRE A NAÇÕES
Contra a primazia do automóvel, o projeto cria uma nova estrutura, um passeio içado do solo, este elevado estaria articulado com equipamentos públicos e/ou coletivos da região, tais como a Rodoviária, o Teatro, o Poupatempo, o Boulevard Shopping, até mesmo a Estação da Noroeste do Brasil em um sentido mais amplo, bem como outras estruturas urbanas, como o Calçadão e algumas praças da região. Dessa forma, o projeto serviria como amarração desses elementos ao tecido do centro da cidade, na forma de eixos na projeção da Avenida Nações Unidas.
Apoiado sob colunas, esse novo piso está sobre o tabuleiro da estrutura, organizando em flancos. Ou seja, duas faixas, cisadas por uma fenda, uma destinada à mobilidade a pé e outra ao fluxo de bicicletas, sendo a primeira com secção de dimensão variante, enquanto a outra possui uma conformação rígida, com largueza fixa. Desse modo, o ciclista trafega de modo seguro e ágil, enquanto que o pedestre flui no espaço, um passeio que reforça a atenção à paisagem, o que é potencializado pelos canteiros postos pelo caminho, por vezes quase obstruindo, estrangulando o trajeto, ao mesmo tempo em que obriga a sua apreensão. Quebra a monotonia no percurso.
Tais canteiros, sob o aspecto da plástica e do caráter simbólico, aludem ao fato de que se caminha sobre o antigo leito da várzea, agora elevada, suspensa no ar. O tipo de vegetação associada, reforçam o mesmo caráter dessa paisagem, dessa natureza criada. Não obstante, a função também se ativa pela presença da calha embutida no caixão perdido da estrutura, gerando uma bonita várzea elevada.
Uma contribuição, ainda, ao sistema de drenagem proposto durante o período de chuva. A água coletada está articulada ao sistema enterrado pelo interior dos pilares, como prumadas pluviais internas. Além do programa de mobilidade, estabelecido ao longo da passarela, foram dispostas três praças, duas polarizadas nas extremidades, encabeçando a peça projetada para o elevado, e outra no miolo, na projeção da praça existente no entroncamento da avenida com as ruas Primeiro de Agosto e Eng. Saint Martin.
Também foram postadas rampas que dão acesso ao elevado, com aspecto de continuidade à trama existente da cidade, ao mesmo tempo que se posicionam junto alguns edifícios de interesse coletivo, geradores de demanda por mobilidade.
NO TÉRREO
Na cota térrea da área de projeto estão as atividades de menor impacto, pois trata-se de uma tarefa de regular um rearranjo dos seus elementos, sobretudo calçada, rua e canteiro – além, lógico, de se receber o ponteamento da superestrutura do elevado. Aqui se extrapola o campo do eixo da Av. Nações Unidas, envolvendo um pequeno trecho da rua Batista de Carvalho.
No caso da avenida, foram estabelecidas medidas para os passeios públicos e para cada sentido do leito carroçável, atribuindo à dimensão de sobra, ao centro, o espaço para canteiros com jardim de chuva, também interligados aos dispositivos enterrados. Já no trecho que envolve a rua Batista de Carvalho, houve o redesenho do passeio, com a ampliação da sua largura e, consequentemente, supressão de faixas de circulação de veículo, mantendo-se apenas uma.
Muito lindo o projeto no visual, tecnicamente não tenho condições de avaliar, mas entendo que tenha sido por especialistas.
Com certeza, resolveria inúmeros problemas, além da drenagem, porém a pergunta que não quer calar: de onde viria tantos recursos????
Portanto, é preciso atualizar o Plano Diretor e possibilitar novos recursos com as ferramentas que já existem, mas em Bauru ainda não foram regularizadas.
Precisamos olhar a cidade com um novo olhar: o olhar no futuro, mas com os pés no presente.
Parabéns pela reportagem!
Precisamos mais disso, saber que outros projetos existem e são possíveis, além de somente conceder o que já temos para continuarmos no mesmo.
É muito importante incorporar os estudos urbanísticos realizados em Bauru nas atuações da prefeitura. A cidade não pode continuar com tantas fragilidades, principalmente em relação às enchentes…É necessário tomar uma rápida atitude!
Como podemos ver soluções existem, desde que profissionais da arquitetura e do urbanismo sejam envolvidos . E, sem dúvida , precisa de vontade e ação política, pois como vimos é possível realizar sem onerar os cofres públicos.
Um sonho ver esse problema resolvido que já custou vidas. Por isso espero que haja recursos para o projeto sair do papel e trazer um novo conceito de cidade, que pense nas pessoas, na mobilidade e não só em carros.
Soluções inteligentes para um grande e grave problema urbano, o equilíbrio entre drenagem urbana, paisagismo e mobilidade, criaria uma cidade mais sustentáveis e harmoniosas. Parabéns pelo projeto.