Por Gustavo Candido
Você ainda usa dinheiro de papel ou só usa cartões ou o Pix? Desde o lançamento do método de transferência e pagamento eletrônico instantâneo do Banco Central, em 2020, o dinheiro em papel saiu da minha vida e o smartphone ganhou o status de carteira. O uso de cartões, porém, eu mantive, por conta da facilidade da aproximação na hora do pagamento. Parece que essa dinâmica vai mudar.
Essa semana, a Apple lançou o recurso Tap to Pay, que permite pagamentos por aproximação usando iPhones. Esse recurso possibilita a transferência de dinheiro sem a necessidade de maquininhas ou terminais de pagamento, bastando ter um aplicativo parceiro e aproximar os aparelhos com sistema iOS, que podem ser os smartphones da marca ou os relógios inteligentes, os Apple Watch. O Tap to Pay está disponível para iPhones XS ou modelos posteriores com a versão mais recente do sistema operacional da Apple.
Como a forma de pagamento liberada pela Apple, comerciantes, tanto de pequenas quanto de grandes empresas que possuem um iPhone podem receber pagamentos pelo Apple Pay, cartões de crédito e débito por aproximação.
Para utilizar o Tap to Pay, no momento do pagamento, o comerciante só precisa pedir ao cliente que aproxime seu iPhone ou Apple Watch do iPhone do estabelecimento. O consumidor pode usar o Apple Pay, cartão de débito ou crédito por aproximação. Não é necessário nenhum outro equipamento para efetuar a transação.
De acordo com a Apple, o Tap to Pay no iPhone está disponível para plataformas de pagamento e desenvolvedores de aplicativos no Brasil. A CloudWalk já disponibiliza o serviço e, em breve, outras plataformas de pagamento como Nubank, Stone e SumUp, estarão disponíveis. Além disso, a ferramenta funcionará com cartões de débito e crédito das principais bandeiras do mercado: American Express, Mastercard e Visa.
Por que isso importa?
O que estamos vendo acontecer com o dinheiro é o 5º D da lista de seis etapas (6 Ds) propostas pelo futurista Peter Diamandis e pelo jornalista Steven Kotler no livro Bold, lançado em 2015: a desmaterialização.
Ou seja, o objeto em si deixa de ser importante fisicamente porque a tecnologia digital, de forma disruptiva, muda sua forma de consumo, tornando-o barato e acessível. É o que, segundo os autores aconteceu com empresas como Kodak e Blockbuster e com a indústria do táxi (com o surgimento do Uber) e a indústria da música (com o Spotify e similares), entre outras.
A Apple, tradicionalmente, aponta e reforça tendências de mercado. Ao lançar o Tap to Pay, a empresa indica que – sim – o uso do dinheiro de papel acabou e que os cartões também não precisam mais existir desde que estejam dentro de aplicativos no seu smartphone. Ou seja, o aparelho assume de vez o papel de carteira sem que seja preciso fazer grandes procedimentos na hora da compra.
Para o comércio, talvez, a movimentação da Apple impacte no uso das maquininhas de pagamento. Com o novo serviço elas se tornam desnecessárias e podem vir a acabar. No Brasil, a quantidade de IPhones é muito pequena quando comparada com o total de aparelhos que usam o sistema Android, mas alguém duvida que Samsung, Xiaomi e Motorola seguirão os passos da empresa americana?
Quem vende precisa ficar atento a essas mudanças. Observando o mercado nos últimos anos tenho percebido que os clientes tendem a mudar seus hábitos mais rápido que os próprios comerciantes. A explicação me parece estar na palma da mão. As pessoas não largam seus smartphones e, na medida em que o aparelho toma para si papeis executados por outros objetos e ferramentas do dia a dia, ganha utilidade, tornando as outras coisas obsoletas e desnecessárias.
O smartphone aposentou agendas, calendários, calculadoras, telefones, despertadores, câmeras fotográficas e – para alguns – a própria televisão. Chegou a vez do dinheiro.
O autor é consultor de marketing digital. Também é jornalista e autor de livros sobre Trade Marketing, Atendimento e Multicanalidade e Gestão de Marcas que você pode encontrar na Amazon.
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