Por Gustavo Cândido
O X (ex-Twitter) não respeitou as determinações da Justiça brasileira e teve suas atividades suspensas no país até que todas as ordens judiciais relacionadas à plataforma sejam cumpridas, as multas pagas e seja indicado um representante legal da empresa no território nacional.
Como o plenário do STF deve ratificar a decisão monocrática do ministro Alexandre de Moraes, se o dono do X, o empresário Elon Musk, não se enquadrar – como fez na Índia e na Turquia em 2023 – a rede vai continuar banida do país. Não há como saber o que vai acontecer, mas é muito provável que a plataforma não volte tão cedo.
O caso do X é um alerta importante para quem deposita todas as suas estratégias digitais apenas em redes sociais. Há sempre o risco de mudanças de regras, desativação de funções e atritos legais com os governos. Ao contrário do que alguns podem pensar em vários países existem conflitos entre a Justiça e as plataformas.
Há pouco mais de uma semana, por exemplo, o criador e CEO do Telegram, Pavel Durov, foi preso na França porque – segundo a Justiça francesa – não tomou medidas para impedir o uso do aplicativo para fins criminosos. Os franceses entendem que a falta de moderação na plataforma torna Durov cúmplice de diversos crimes. O empresário russo já está em liberdade, mas será levado ao tribunal em breve.
Além disso, nos Estados Unidos, um projeto de lei aprovado em abril desse ano determina a proibição do TikTok, a menos que sua proprietária chinesa, a ByteDance, venda a operação americana da empresa em um prazo de até nove meses. Ou seja, as plataformas estão começando a perceber que não vão atuar em diferentes países fazendo as próprias regras e que existem leis a serem respeitadas.
Os riscos de “colocar todos os ovos em uma cesta só”
Redes Sociais são, sem dúvida, plataformas essenciais para as estratégias de marketing digital. Com bilhões de usuários ativos ao redor do mundo, elas oferecem uma audiência global, permitem segmentação precisa e possibilitam interações diretas com os consumidores. No entanto, a dependência desses canais pode deixar a empresa ou marca vulnerável às mudanças que as plataformas podem enfrentar, impactando diretamente a visibilidade e, consequentemente, as vendas.
Outro risco associado ao uso exclusivo das redes sociais é a falta de controle sobre os dados. Embora as redes sociais forneçam insights valiosos sobre o comportamento dos usuários, esses dados pertencem às plataformas, não às empresas. Isso significa que, se a rede social for desativada ou se as políticas de privacidade mudarem, a empresa pode perder acesso a informações críticas sobre seus clientes. Ah, o conteúdo postado também pode ser utilizado por elas para diferentes fins, inclusive treinar ferramentas de inteligência artificial.
Além disso, os algoritmos que determinam o que os usuários veem em suas timelines são controlados pelas plataformas, não pelas empresas. Isso pode resultar em mudanças inesperadas na visibilidade das postagens e na eficácia das campanhas, sem aviso prévio ou possibilidade de intervenção.
As redes da Meta, por exemplo, foram cortando o alcance natural das publicações ao longo dos anos e ninguém pôde fazer nada sobre isso.
Não seja refém das redes
Para evitar surpresas desagradáveis com as redes sociais é crucial que as empresas adotem uma abordagem mais equilibrada e diversificada para suas estratégias digitais. Como por exemplo:
1) Investir em ambientes próprios – Um site próprio, um blog ou até mesmo um aplicativo são essenciais para uma presença digital sólida. Essas plataformas são de total controle da empresa e permitem a personalização total da experiência do usuário, além de serem menos suscetíveis a mudanças externas.
2) E-mail marketing – Embora muitas vezes subestimado, o e-mail marketing continua sendo uma ferramenta poderosa. Ele permite uma comunicação direta com os clientes e, ao contrário das redes sociais, o controle é total da empresa. Além disso, as listas de e-mails são ativos valiosos que a empresa possui e controla.
3) Conteúdo de qualidade e SEO – Otimizar seu site para melhorar a ação dos motores de busca (que é o que torna sua empresa “encontrável” na internet) e investir em marketing de conteúdo são estratégias duradouras que aumentam a visibilidade da empresa de forma orgânica.
Além disso, o conteúdo bem elaborado estabelece a empresa como uma autoridade em seu setor, gerando confiança e fidelidade entre os consumidores.
4) Mídia paga – Embora o investimento em redes sociais seja importante, diversificar as plataformas de publicidade paga, como Google Ads ou até mesmo publicidade nativa em sites de nicho, pode proteger a empresa contra a volatilidade das redes sociais.
5) Parcerias e eventos – Estabelecer parcerias com outras empresas ou influenciadores fora do universo das redes sociais pode ampliar o alcance e a credibilidade da marca. Eventos físicos ou webinars, por exemplo, são formas eficazes de engajar o público-alvo de maneira significativa e personalizada.
Calma, não precisa fugir das redes
Resumindo, as empresas devem reconhecer a importância de diversificar seus canais de comunicação e apostar também em ativos digitais que estão sob seu controle direto.
Mas calma, não precisa ficar com medo de investir nas redes, é preciso apenas buscar equilíbrio. Ao adotar uma abordagem planejada, as empresas não apenas mitigam os riscos associados às redes sociais, mas também constroem uma presença digital mais sólida e resiliente, preparada para enfrentar as incertezas do ambiente digital.