O impacto da pandemia nas eleições

 

 

 

Por Zarcillo Barbosa

O novo coronavírus mudou os rumos das eleições municipais. A começar pelo primeiro turno, que passou de 4 de outubro para 15 de novembro. Nas cidades em que houver segundo turno, o pleito foi adiado para 29 de novembro.

O impacto da crise sanitária vai além das datas. Medidas necessárias para diminuir o contágio do vírus, como a das aglomerações, já afetam o processo que normalmente se baseia em ações presenciais.

É o caso dos comícios, convenções partidárias, atos públicos, campanha corpo a corpo. Todo tipo de contato físico deve ser evitado, como aperto de mão e abraços.

O início oficial da campanha eleitoral é neste domingo. Como se dará o embate político, é previsível.

Eleições municipais são pautadas por problemas locais. O avanço da doença restringiu a circulação de pessoas, interrompeu aulas, afetou a economia e gerou desemprego.

Prefeitos, muitos deles candidatos à reeleição, como o de Bauru, passaram os últimos seis meses adotando medidas restritivas contra a doença, para tentar conter o contágio. A estratégia dividiu a população. Muita gente, motivada pelo presidente Bolsonaro e sua estratégia da cloroquina para combater a “gripezinha”, protestou pedindo a reabertura do comércio e serviços.

Outros tantos, ainda acham melhor poupar vidas, com o distanciamento social, dando importância secundária ao fator econômico.

O centro do debate político nestas eleições deve centrar-se nessa temática.

Parece não haver dúvidas de que o material físico de campanha vai diminuir, e muito, e os candidatos a prefeito e vereador devem se concentrar na divulgação de material em formato digital.

Este deve ser o ponto fraco dos bauruenses postulantes a cargos eletivos.

Ao que se observa, nenhum deles tem know-how suficiente e muito menos milhares de seguidores em suas páginas.

O pleito que levou Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto em 2018 ficou marcado pela disseminação de notícias falsas. Essa estratégia será difícil de ser aplicada nesta eleição. As redes sociais e aplicativos de troca de mensagens serão intensamente vigiadas.

O Facebook montou uma equipe de especialistas no Brasil e no exterior. O Centro de Operações acompanhará, em tempo real, potenciais violações de políticos no Face, no Instagram e no WhatsApp.

Será acelerado o tempo de resposta da empresa a conteúdos que possam representar ameaça à integridade das eleições municipais, como notícias falsas, discursos de ódio e posts buscando desencorajar pessoas de irem às urnas.

Cientistas políticos são quase unânimes em prognosticar que haverá poucas renovações no quadro de prefeitos e vereadores. Como os que precisam mais de campanhas eleitorais tradicionais são os desafiantes aos atuais detentores de cargos, ao restringir estratégias eleitorais corpo a corpo, a pandemia deve favorecer os que já estão no poder, os incumbentes. O termo é muito usado pelos norte-americanos (incubents), que vem do latim do século XVI e significa o mandatário que concorre à reeleição, face ao seu desafiante. A conferir.

A pandemia deve afetar mais o comparecimento dos grupos de risco, especialmente dos eleitores com mais de 60 anos. Esse cenário pode prejudicar candidatos que dependem mais dos votos desse grupo de eleitores. Qual grupo será mais prejudicado nesse contexto, não se sabe.

 

O autor

É jornalista, advogado, mestre em Ciências das Comunicações (ECA/USP), doutor em Sociologia (Unesp/Araraquara) e lecionou nos cursos de Jornalismo, Rádio, Televisão e Relações Públicas da Unesp/Bauru.

 

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