Por Aurélio Fernandes Alonso
A campanha eleitoral tem se diferenciado nos últimos anos pela mudança na legislação eleitoral para se adaptar às novas plataformas eletrônicas de propaganda. Já foi o tempo de grandes comícios com contratação de artistas famosos, propaganda em papel e outdoor. A programação no horário eleitoral gratuito (que não é de graça nos meios de comunicação, há compensação tributária) principalmente na televisão já foi decisiva nas eleições municipais.
Tudo isso está mudando. É difícil saber se é para melhor. A própria política transformou candidatos em mercadoria, projetos com interesses econômicos descarados financiam campanhas de forma não tão explícita em detrimento da cidade e o eleitor passou a ver com desconfiança as eleições: muitas vezes ele não enxerga coerência nos candidatos e nos arranjos políticos. Há alianças partidárias que redundam desavenças quando vão administrar a cidade, porque não tinha lógica a união na campanha, mas ocorreu meses antes para chegar ao poder.
A chamada fake news sempre existiu na política. O advento da internet tornou-a mais perigosa: qualquer pessoa tem acesso à rede social e facilidade de divulgar mentiras em segundos que podem desconstruir uma candidatura cometendo crime de difamação, calúnia e injúria. Antes da internet se usava os boatos para denegrir candidatos.
No folclore popular conta-se que as coordenações de campanha contratavam duas pessoas e as embarcava em um ônibus em bairro popular para que nessa conversa os interlocutores dissessem horrores do candidato, indiretamente fazendo que outros ouvissem no coletivo lotado e passassem para outros moradores a conversa recheada de mentiras – em cidade pequena isso era comum na campanha.
Havia ainda os folhetos apócrifos. Muitas vezes difíceis de serem combatidos, a não ser que flagrassem quem estava distribuído – se recorria as madrugadas para deixá-los na porta da casa do eleitor. Quem já participou de campanhas em outras épocas não deve se esquecer que já foi característica as acusações de ordem pessoal a determinado candidato de ter amante, filho fora do casamento, de ser homossexual (a homofobia corria solto, o que é reprovável) e o candidato tinha se enriquecido de forma ilícita.
Esse baixo nível foi responsável pela destruição de reputações. Atualmente não está claro que o nível das campanhas melhorou. Essas condutas atualmente são mais combatidas, principalmente em cidade do porte de Bauru, mas digo que continuam a existir no subterrâneo das campanhas e responsável pela despolitização.
A fake news será a preocupação da campanha eleitoral. Não sei como a Justiça Eleitoral vai combatê-la, embora também tem o risco de interferência indevida do juiz que pode inibir a liberdade de expressão. Com sinceridade na minha opinião não será tarefa fácil combater a notícia falsa. Nos últimos anos, a manipulação nas campanhas não ocorreu somente no Brasil, também no exterior. Imagina numa eleição local.
Antes do início da pré-campanha já houve um fato desabonador na cidade que levou a destituição de candidato a vereador, flagrado numa conversa em que fazia pressão a uma servidora para deixar de apoiar um candidato a prefeito. A gravação com ótima qualidade de som é assustadora. Esse mandonismo sempre existiu nos bastidores de campanha política interiorana, muitas vezes não chega ao público por falta de condições de investigações e dificuldade de documentá-la. Às vezes depende de testemunhos que no decorrer da apuração na Justiça Eleitoral cai no esquecimento após resultado do pleito.
Percebe-se que nesse caso de Bauru a “punição” foi sumária ao candidato e partiu do próprio partido que veio a público dizer que não tolera essa conduta. Óbvio, a gravação é nítida, comprova em tese um suposto crime eleitoral. A estratégia teria sido blindar o candidato majoritário e deixar o caso como se fosse ato solitário e “bravata” do apaniguado político, mas isso é um alerta que não ocorre por acaso. Nas campanhas eleitorais a briga pelo voto é feroz. Certas condutas acertadas nos bastidores nunca terão aprovação do eleitor e quando vêm a público são rebatidas com veemência pelo candidato. Como não tem como serem provadas, fica no limbo da campanha.
A imprensa também deve colaborar para aperfeiçoar as campanhas. O despreparo de determinados profissionais contribui para se perpetuar os desmandos. Não existe neutralidade, mas há aqueles que já faziam campanha contra determinados candidatos e quando chega essa fase de campanha deveria se abster de participar para não manipular perguntas para seu candidato de preferência.
A compra de voto é outra questão complexa para ser combatida. A legislação eleitoral tem ajudado a enfrentar os desmandos. As restrições de não permitir churrascos e festas (pior ainda com a pandemia do coronavírus) dificultam a prática, mas os candidatos continuam mentindo, sonegando informações e não detalhando seus planos de governo.
Muitas vezes é o despreparo completo: não conhecem o orçamento do município e nem como funciona a Prefeitura e a Câmara. Claro, o marketing da campanha transforma propostas mais palatáveis mesmo sabendo que não se encaixam no orçamento municipal para convencer o eleitor como se vendessem uma marca de sabonete.
Por isso mais razão e menos emoção na hora de decidir o voto para escapar de manipulação, afinal para consertar o erro só depois de quatro anos em nova eleição.
O autor
É formado em jornalismo pela Unesp-Bauru, ex-editor regional do Jornal da Cidade de Bauru, ex-editor regional do Jornal Debate de Santa Cruz do Rio Pardo, foi repórter no Caderno Folha Norte da Folha de S.Paulo e iniciou a carreira de repórter na Rádio Clube de Ourinhos.
Boa a matéria. Expõe com clareza e objetividade questões ligadas às eleições que nem sempre estão aparente.
A palavra denegrir não deve ser utilizada nesse sentido, uma vez que ela significa tornar negro.
Penso que o desfecho não é uma questão de razão ou emoção e sim falta de formação e educação política. Na ausência dessa, nota-se de acordo com, vamos dizer que “achismos “.
Na ausência dessas…
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Muito claro e, oportuno o artigo do Aurélio Alonso,;
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