Por Marcos Roberto Garcia
Começamos o ano de 2021 em nosso país com cerca de 27 milhões de brasileiros em estado de extrema pobreza, segundo projeções da Fundação Getúlio Vargas. São 12,8% de brasileiros que passaram a viver com menos de R$ 8,20 ao dia. Tal fato foi agravado pela pandemia e, sobretudo, pelo fim do auxílio emergencial que o governo Bolsonaro havia ofertado até dezembro do ano passado.
Certamente o ano de 2020 só não foi pior porque o governo federal acabou, ainda que diante de muitas pressões, por injetar bilhões de reais na economia, auxiliando os Estados, os Municípios e a população mais carente. Tal fato acabou por reverter um cenário que desenhava uma realidade ainda muito mais difícil.
Mas, voltemos a 2021. E agora José? A pandemia não acabou, a vacina pouco chegou e o dinheiro acabou! E agora José? Pois bem, 2021 parece ser mais difícil do que alguns esperam; com números e índices socioeconômicos menos otimistas que o mercado aponta.
Muitos brasileiros sem o auxílio emergencial foram retirados definitivamente no mercado. Outros tantos brasileiros readequaram seus gastos, cortando inúmeras despesas, e por sua vez Estados e Municípios terão menos recursos que em 2020, haja vista que não haverá mais a ajuda federal. Somado a tudo isso, a inflação acumulada para a classe mais baixa nos últimos 12 meses foi três vezes maior em comparação à classe alta, segundo o IPEA. Ou seja, estamos num mercado cuja demanda inicia-se em 2021 num padrão mais baixo comparado ao ano passado, o que certamente poderá, em breve, reverter a expectativa otimista de muitos.
Mas o importante não são os números frios que muitas vezes mentem, se embasados em premissas equivocadas, mas sim a vida real de tantos miseráveis brasileiros. Falar sobre a vida dessa gente sofrida não é tarefa fácil. Há muito que contar, comover-se, chorar! Se o escritor Victor Hugo, autor de “Os Miseráveis”, vivesse nos dias de hoje no Brasil certamente teria muito mais trabalho que lá na sua França do século XIX quando retratou a miséria que assombrava aquele país, e que o levou a redigir cinco volumes. Aqui talvez escrevesse, rapidamente, 20 volumes.
Diante desse triste cenário de 2021, e sabendo que o governo federal, a princípio, não pretende mais gastar recursos do tesouro para atenuar o sofrimento da classe mais pobre diante dos reflexos que a pandemia impõe, fatalmente os Municípios, as pessoas jurídicas, principalmente as ONGs, e pessoas físicas acabarão, mais uma vez, por terem que fazer algo para não assistir a cenas tão desumanas. Portanto, é bom já ir planejando.
Talvez eu erre em dizer que cresceremos menos que o mercado aposta, mas eu estou mesmo preocupado é com os nossos vinte e sete milhões de miseráveis, os quais muitos deles estão aqui, ao nosso lado, dia a dia. Sim, teremos que ajudar de alguma maneira. Infelizmente muitos que poderiam não irão e não ligam. Como compreender isso? Há uma frase de Victor Hugo em “Os Miseráveis” – “De quem tem o coração morto, nunca os olhos choram”.
O autor
Marcos Garcia, 51 anos, é economista, auditor fiscal municipal e professor universitário.
Parabéns Marcão, você é show! Respeito e orgulho!
Outro dia, comentei a uma amiga, que os governos estaduais deveria negociar, junto a seus deputados e senadores, a manutenção do auxilio emergencial por pelo menos mais 6 meses. Não “quebraria” o país e ajudaria os Miseráveis, os Estados e os municípios!
Ótimo artigo Marcos Garcia!
Belo texto Prof. Marcos, que nos leva a certeza que não temos nada definido e estamos todos no mesmo barco. Ou seja, precisamos remar para no mesmo sentido, sempre. Caso contrário, os problemas irão asseverar.