A história social e política de um povo, por vezes, traz coincidências. Na semana em que Bauru e cidades do Interior Paulista se m0bilizam para buscar aperfeiçoamentos na proposta de relicitação da Malha Oeste, em Brasília, o legado da ferrovia, com ênfase para Bauru em função de seu nascedouro por aqui, em 1905, é tema de palestra em Portugal.
Nesta quinta-feira, dia 25 de maio, como divulgado, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) encerra a consulta pública online para recebimento de mudanças e questionamentos em relação ao estudo para modernização e recuperação de 1.625 km da malha, de Corumbá (MS) a Mairinque (SP). E, exatamente neste contexto, histórico e, ao mesmo tempo, contemporâneo, a força econômica, social e histórica dos trilhos a partir de Bauru foi motivo de “olhos arregalados” na Europa, acerca do potencial estratégico e legado de nossos trilhos.
Com o objetivo de divulgar a importância da história da ferrovia na cidade de Bauru, o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Dr. Samir Hernandes Tenório Gomes, foi convidado a proferir a palestra “O legado do patrimônio arquitetônico da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil na cidade de Bauru e os desafios da preservação”. O evento abriu as atividades em comemoração ao “Dia Internacional dos Museus” e aconteceu neste último sábado, dia 20 de maio, no Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave, na cidade de Vila Nova de Famalicão, próxima à Braga, em Portugal.
O professor Samir Hernandes é docente e pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unesp Campus/Bauru e atualmente desenvolve um estágio Pós-Doutoral no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade do Minho, sob supervisão de um especialista na área do Patrimônio Industrial, o Prof. Dr. José Manuel Lopes Cordeiro. Samir Hernandes desenvolve uma pesquisa sobre a potencialidade de reabilitação do patrimônio ferroviário português na linha férrea do Douro, nas cidades de Côa, Almendra, Castelo Melhor e Barca d’Alva. Além de investigar a importância do patrimônio ferroviário na cidade de Bauru desde o ano de 2011, o professor Samir Hernandes também tem participado de inúmeras pesquisas em diversas instituições nacionais e internacionais nas áreas ligadas à história, arquitetura, turismo, arqueologia e museologia.
E é exatamente o patrimônio ferroviário de Bauru que integra parte de um estudo de caso internacional que engloba a colaboração de pesquisadores e instituições internacionais, como o caso da Universidade do Minho (Portugal), Universidade de Sevilha (Espanha), Universidade de Birmingham (Inglaterra), Universidade Nacional de Tucumán (Argentina), Universidade Oriente (Cuba), além da Universidade de São Paulo, PUC de Campinas e Universidade de Campinas.
Este patrimônio ferroviário tem recebido crescente interesse dos órgãos de proteção brasileira, na última década, principalmente em função da transferência ao poder público de bens ferroviários em desuso, conta o estudioso. A pesquisa do professor Samir Hernandes pretende viabilizar a promoção do intercâmbio de conhecimentos na comunidade acadêmica e também determinar prováveis caminhos para os projetos arquitetônicos de reabilitação de edifícios ferroviários na cidade de Bauru.
Conforme relatou o pesquisador Samir Hernandes, a palestra realizada no dia 20 de maio passado revelou aos portugueses, a importância dos edifícios industriais ferroviários existentes em Bauru, através de sua análise arquitetônica, construtiva e urbanística. Ele menciona que a plateia, formada por cidadãos e especialistas das áreas de Arqueologia Industrial, Museologia e Arquitetura Ferroviária, ficou surpresa pela relevância de Bauru, tomada como caso emblemático das transformações dos espaços públicos e edificações de interesse do patrimônio ferroviário e que conectava itinerários estratégicos localizados entre os estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.
Nesse período, como destaca Samir Hernandes, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a Companhia Paulista e a Sorocabana propiciaram a interiorização da lavoura cafeeira e o transporte do produto até o porto na cidade de Santos para sua exportação. As linhas férreas acompanharam o caminho traçado pelas formações urbanas e, na maioria das vezes, o trajeto estava associado às grandes fazendas e lavouras produtoras de café, garantindo o progresso das novas cidades e acesso fácil de seus moradores a diferentes regiões do país.
Na palestra, Samir Hernandes mostrou que um dos grandes desafios da cidade de Bauru em preservar adequadamente o conjunto patrimonial ferroviário está na mão dos gestores públicos. Mais do que uma distorção nas políticas de preservação ferroviária, o professor afirma que ocorreu uma simples transferência dos bens ferroviários inativos da União ou do Estado de São Paulo para a responsabilidade municipal. As prefeituras, como foi o caso de Bauru, apenas incorporaram o patrimônio ferroviário dentro da estrutura administrativa já existente, junto com outros edifícios locais.
Finalmente, o professor Samir Hernandes ressaltou que a realização de futuros estudos, a partir do conhecimento produzido desses ambientes e com a participação direta da população nas decisões, pode ser um instrumento, ainda que preliminar, de mudança de paradigma. Nesse processo de mudança, o pesquisador não exime a participação direta tanto de profissionais ligados às áreas da história, urbanismo, arquitetura, arqueologia e turismo, quanto da gestão pública, para que as ideias e os objetivos que se desejam alcançar e que devam embasar o projeto de requalificação da ferrovia em Bauru, sejam claros e eficientes.
Parabéns, Prof. Samir por representar tão bem nossa universidade.
Ótima matéria!!!
Parabéns, Professor Samir!
Bauru precisa recuperar e reativar suas ferrovias com seu maior entroncamento rodo-ferroviário da América Latina!
Porque é imprescindível para seu desenvolvimento e do país. Não há país desenvolvido é avançado economicamente sem ótimas ferrovias! Como vemos em toda Europa e demais países do G7! Em frente, mestre! Prof. Ms. R. Colacino
também de família de ferroviários.