O mesmo coronavírus que mudou o comportamento humano em todos os ambientes de convivência também mantém sequelas em quem já sofreu com a doença. O CONTRAPONTO buscou, em amostragem, informações de pessoas que contraíram a Covid-19. Eles relatam incômodos diversos, desde coceira a perda de visão. Alguns “problemas” de saúde preocupam mais, como a perda de memória e dor de cabeça sem trégua, todos os dias.
Na rotina da clínica médica, assim como nos estudos científicos sobre a doença em diferentes direções e objetivos, ainda há muita informação a ser desvendada. Enquanto o mundo corre para vacinar suas populações, pesquisadores tentam decifrar, por exemplo, qual será o tempo de resposta imunológica.
Até la, ou enquanto isso, a região recebe os primeiros lotes de vacina. Os profissionais que atuam na saúde, as pessoas com idade a partir de 60 anos, indígenas, quilombolas, são os primeiros a receber a primeira dose (leia mais abaixo).
Por quanto tempo o organismo humano adaptado com a proteção vai produzir anticorpos? Teremos que ser vacinados todos os anos, como acontece com a gripe e suas novas “cepas” (mutações), por exemplo? Essas respostas ainda virão.
Enquanto isso, pacientes da Covid-19 contam que a confirmação da contaminação pela doença trouxe outros dissabores. Eles não sabem por quanto tempo terão de conviver com fortes enxaquecas, se a perda de visão é em decorrência de alguma “transformação” do organismo ao tomar contado com o vírus e e quais consequências.
DEPOIMENTOS
Os “problemas” de saúde e reações no pós-Covid são diversos. A recuperadora de crédito Fabiana Batista conta que uma amiga teve queda acentuada de cabelo.
A professora Elaine Mussi conta que tem “dificuldade para respirar, problemas de pele, dores no corpo e dores pontuais na cabeça”.
A servidora municipal Karina Sanches relata “perda de audição no ouvido direito”.
O professor Norival Agnelli descreve: “dois dos meus 4 filhos, um de 47 anos e outro de 37, tiveram Covid. O mais novo teve uma isquemia 2 meses depois, com impacto temporário na mobilidade do lado direito do corpo, tipo um mini AVC, em que o médico disse poder ser um desdobramento do Covid (engrossamento do sangue)”.
O advogado José Marques enfatiza a preocupação com as sequelas. São tantas (ainda existentes) que ele questiona a ideia (genérica) de classificação de “curados” para a doença. A classificação tem sido utilizada para quem não foi a óbito. “As sequelas deixadas pela Covid-19 são serias e não têm sido noticiadas. São as mais diversas. Por isso, entendo que os noticiários não têm que dizer “tantos curados”. Ninguém que foi contaminado está curado. E as manifestações de sequelas aparecem, em alguns casos, meses depois”, observa.
Perda de paladar e olfato também são relatos muitos comuns. Já o jornalista Sérgio Tibiriçá conta que ainda convive com “cansaço, dor nas juntas, fraqueza e variações de pressão“.
É certo que muitos também relatam não terem a sensação de nenhum incômodo, como Meire Souza, Allan Ferraz e Renata Grandi, por exemplo.
Mas Mariângela Cruz Neca, que trabalha com artesanato, descreve que “enxerga menos” e que isso “aconteceu de repente”.
Lombalgia, perda de memória, dificuldade repentina pra dormir, intolerância a glúten, problemas intestinais e vermelhidão na pele e cansaço precoce, mesmo após uma noite de sono “teoricamente completa”. Estes relatos estão na “rotina” pós-Covid de diferentes bauruenses e, infelizmente, incomodam você também (nos outros cantos).
O que fazer? Ir ao médico ao menor sintoma! Cuidar, acompanhar! Virar a página e celebrar a vida!
Botucatu e Marília recebem vacina nesta segunda, Bauru pode ter na quarta-feira para vacinar 75 mil
O governo do Estado de São Paulo informou, na tarde do domingo (quando a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose nacional da vacina do Butantan – Coronavac) que seis hospitais de referência recebem lotes do imunizante já nesta segunda-feira.
Apesar disso, ao final da tarde, ainda do domingo, o ministro da Saúde, Pazuello, concedia entrevista coletiva afirmando que todo o estoque do Instituto Butantna (hoje de 6 milhões de doses) iriam para o Programa Nacional de Imunização (PNI).
A despeito da “queda de braço”, o governador João Doria anunciou que a cota paulista da produção da vacina (em torno de 1,2 milhão de doses), seria distribuída ainda nesta segunda-feira (18/01) para o Hospital das Clínicas de São Paulo, e unidades da mesma referência (HC) em Marília, Ribeirão Preto, Botucatu, Campinas e Rio Preto.
Bauru não entra neste primeiro lote porque o HC daqui é apenas unidade de campanha, sem estar funcionando como referência e hospital universitário para curso de Medicina da USP. O Estado, por sinal, ainda não definiu sequer a transferência (em lei) da unidade, da USP. Isso impede a geração de dotação orçamentária específica, anual, para o HC instalado no Predião.
No início da noite, a assessoria da Prefeitura de Bauru distribuiu nota reiterando que as equipes (30) para a vacinação já estão montadas. A administração informou que há estoque para a fase inicial da imunização Covid (300 mil agulhas e seringas). O governo, de outro lado, tem de “correr” com a compra de reposição, sem deixar de faltar uso para programas permanentes, como diabates.
No início da noite, a indicação era de que a vacina poderia chegar à cidade na quarta-feira. O transporte é rápido e conta com a ajuda (gratuita) da Braspress. A empresa de logística tem a maior estrutura de distribuição fora da Capital em Bauru, com dezenas de caminhões na frota.
Primeira dose nacional
Negra, auxiliar de enfermagem por 26 anos e desde o ano passado atuando no Hospital Emílio Ribas, em Sâo Paulo, Mônica Calazans (foto) enfrentou “fila” em seu telefone celular a partir da tarde do domingo.
Um dos contatos foi do CONTRAPONTO. A profissional que mora no bairro de Itaquera tomou a primeira dose nacional da vacina do Instituto Butantan. Ela estava no programa de voluntário para testagem da terceira fase da doença.
Por esta razão, Mônica pode ser incluída, no domingo, entre os que, ainda estando no programa receberam a dose inicial. Com 54 anos, viúva, mãe de Felipe (30 anos), ela tem um sobrinho (nosso contato) estudando em Assis.
Alívio e esperança foram os sentimentos mencionados por Mônica, que considera ser essencial a imunização para que os profissionais da saúde possam continuar a atender pacientes nesta fase, infelizmente, de elevados registros de transmissão. Mônica ainda não sabe quando vai tomar a segunda dose (obrigatória no programa).
Ela mencionou que quase perdeu um irmão para o coronavírus, situação que a “empurrou” a se inscrever para tomar a vacina como voluntária. Não sabia, entretanto, que, até este domingo, ela tinha tomado placebo (metade dos voluntários não recebem o imunizante. A checagem, chamada de duplo cego, é regra do estudo científico para apurar os resultados do uso da vacina). “Espero que todos acreditam na vacina. Pensem nas milhares de vidas que perdemos. Eu quase perdi um irmão também com Covid. E ai tomei coragem e participei da campanha da vacina. Eu tomo ônibus, metrô. A população precisa tomar a vacina. É nossa chance “, contou.