PPP do lixo passa de R$ 5 bilhões e tem tarifa de R$ 90 milhões ao ano

A proposta de Parceria-Público-Privada (PPP) do lixo e limpeza pública da Prefeitura de Bauru traz no estudo assinado pela Fundação do Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) o valor total de R$ 5,691 bilhões, em 30 anos de contrato. O custeio dos serviços à concessionária prevê a cobrança de tarifa de lixo de R$ 90 milhões ao ano no início. O governo “diz” que vai aplicar metade disso até a usina sair. Mas a lei e o estudo deixam em aberto. A composição de cada despesa, entre investimentos em estrutura, maquinário, usina e operações não foi discutida nem com o Legislativo e nem com a comunidade.

O governo entregou cópia dos 3 cadernos da concessão aos vereadores apenas na semana passada e, na última quarta-feira, foi aprovada lei autorizativa abrindo caminho para a prefeita Suéllen Rosim elaborar como quiser mais uma etapa de seu ambicioso plano de concessões. Conforme noticiado, em sessão legislativa com duração de mais de 26 horas, a aprovação da lei deverá ser contestada no Judiciário com apontamento de nulidades, conforme vereadores de oposição.

A modelagem jurídica, econômica e operacional da PPP submetida a segredo pela secretária do Meio Ambiente, Cilene Bordezan, trata do contrato de maior valor de toda a história da cidade. O caderno dos dados econômicos, com 115 páginas, assinado pelo coordenador do projeto pela Fipe, Denisard Cneio Alves (que também assina o estudo da concessão do lixo e drenagem de Bauru) descreve que o custo total para operar todos os serviços de lixo (coleta, transporte, separação e tratamento final em usina) está projetado em R$ 3,180 bilhões. Os investimentos exigidos com frota de caminhões, máquinas leves e pesadas, conteiners, 6 novos Ecopontos e readequações físicas são de R$ 622 milhões.

O projeto “validado pela Fipe”, segundo Bordezan, ainda contempla R$ 1,144 bilhão em despesas de risco, garantias, seguro e lucro (chamado de BDI), outros R$ 147 milhões em despesas financeiras e, ainda, a previsão de R$ 494 milhões em aditivo (ampliação de serviços ou custos em até 25% do contrato inicial).

A modelagem promete taxa de retorno (TIR) ao futuro concessionário de 10,3% ao ano. O material anexado ao processo do PL da lei da concessão do lixo não traz os anexos II, III e IV citados no estudo da Fipe, sendo a “Minuta do decreto que institui a cobrança de Tarifa de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – TMRSU”, a “Minuta do edital de licitação e seus anexos (incluindo a minuta do contrato de concessão administrativa e a respectiva matriz de riscos) e a “Minuta do contrato de vinculação de receitas”.

Custos de operação da concessão por segmento, conforme Fipe

OBSTÁCULOS

O material também não menciona a regra de repartição com o Município de receitas acessórias. A partir do 6º ano do contrato, conforme o estudo, o concessionário passará a obter receitas extras com venda de reciclável (estimada em R$ 100,00 a tonelada), entre outros. E venda de gás? Não terá? Qual a projeção deste item?

Os cadernos do estudo mencionados pela secretária Bordezan abordam a composição jurídica (107 páginas), econômica (115 páginas) e de dados e estrutura dos serviços, a modelagem (381 páginas). O material contratado junto à Fipe pela prefeita não apresenta o custo atual da Emdurb e os efeitos financeiros, de gestão e previdenciários da transformação desta em empresa municipal de trânsito (mobilidade) – Emurb. A Fipe se concentra na PPP e na defesa de sua viabilidade técnica e econômica.

Outro obstáculo é a apresentação de dados velhos sobre quantificação, estrutura e custo atual de vários dos serviços incluídos na proposta de PPP. Foram copiadas informações de 2015 em vários itens, incluídos conteúdos de serviços que não mais pertencem à Emdurb (como contrato de lixo saúde) e, ainda, citações de 2013.

Isso impede comparar custo real atual dos serviços com o apresentado como possível concessão. Isso torna ‘mistério’ compreender como a secretária Bordezan chegou aos valores de tarifa de coleta e tratamento de lixo por consumo de água (por faixas de mil litros) necessários para ancorar os custos dos serviços em contrato de 30 anos (opex).

Custos dos serviços do lixo do estudo são de 2015

Pela mesma razão, o estudo dificulta projetar (e avaliar) o rateio para despesas em serviços de limpeza pública. É preciso ressaltar que essas despesas continuam a sair do caixa do Município pelo projeto. A capinação, por exemplo, traz que em 2015 foram executados 68.465 m2 do serviço mecanizado por mês e 147.335 m2 executados na forma manual. Em 2013, o Município teria desobstruído apenas 3.386 bocas de lobo. Os contratos com resíduos e limpeza pública teriam totalizado R$ 32,8 milhões na ocasião.

O “copião” de itens defasados traz, na página 88, que o PL para custear o lixo seria por taxa, via carnê do IPTU, ao valor de R$ 94,20 ao ano para uma residência de 60 metros. Isso daria R$ 1,57 por m2, ou R$ 7,85 mensais. Despesa, mesmo sendo da época, muito abaixo dos R$ 40,00 adicionais na conta de água (para exemplo dado pela secretária Bordezan, há 3 semanas, de tarifa de lixo para quem tem “conta de água” do DAE de R$ 100,00 mês). A matéria sobre isso està neste link:

Desvendamos a maior concessão da história avaliada em R$ 4,8 bilhões e a conta salgada do lixo 

Este e outros dados do estudo também não foram debatidos junto aos membros do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e do Meio Ambiente (Comdema). O presidente, Ricardo Crepaldi, oficiou o Ministério Público, Legislativo e acionou entidades da sociedade civil para a gravidade do silêncio e da ausência de informações e discussão. “Não é possível que uma PPP com custo de bilhões de Reais tenha o estudo negado para o Comdema e com autorização por lei sem que a sociedade possa discutir custos, alternativas e propostas”, protesta.

Por este misto de omissão e escuridão, depuramos a seguir outros conteúdos essenciais e dúvidas para provocar o essencial debate junto ao governo municipal, organismos sociais e população.

Suéllen Rosim, Renato Purini, Cilene Boderzan, Leodir Ribeiro e Gislaine Magrini

Concessão tem dados velhos

e meta de tratar 40% do lixo

Estudo da PPP copia dados de 10 anos e atende meta da norma nacional, mas enterrando 60% do lixo das casas do 5º até os 30 anos do contrato

Os cadernos da concessão do lixo mencionados pela secretária Municipal do Meio Ambiente e Causa Animal, Cilene Bordezan, sobre a PPP abordam a composição jurídica (107 páginas), econômica (115 páginas) e de dados sobre a estrutura dos serviços, a modelagem (381 páginas).

O material contratado junto à Fipe pela prefeita não avalia efeitos da transferência de serviços de limpeza hoje executados por outras Secretarias e não aborda as consequências disso na previdência pública municipal. E estes impactos existem e ampliam o buraco no pagsnento futuro de aposentados.

O estudo propõe a meta de tratar 40% do lixo coletado nas casas a partir do quinto ano do contrato. A meta atende a normal nacional atual, mas fica igual por 3 décadas.

Quadro dos setores de poda e capina da Semab

DEPURAÇÃO
O material também não menciona a regra de repartição com o Município de receitas acessórias. A partir do 6º do contrato, conforme o estudo, o concessionário passará a obter receitas extras, como a venda de reciclável (estimada em R$ 100,00 a tonelada). Se a tecnologia for boa, a usina poderá vender gás, ou outros subprodutos, diz a modelagem.
Pela mesma razão, o estudo dificulta projetar (e avaliar) o rateio para despesas em serviços de limpeza pública.

A capinação, por exemplo, traz que em 2015 foram executados 68.465 m2 do serviço mecanizado por mês e 147.335 m2 executados na forma manual. Em 2013, o Município teria desobstruído apenas 3.386 bueiros. Hoje, conforme a PPP, Bauru tem 8 mil desses dispositivos.
Os contratos com resíduos e limpeza pública teriam totalizado R$ 32,8 milhões há 10 anos. Hoje, a Prefeitura destina R$ 62,5 milhões do Orçamento para pagar serviços de coleta domiciliar, gestão de Ecopontos e coleta seletiva (associação de cooperativas – Ascam), além da operação do aterro velho e transbordo.
Este e outros dados do estudo também não foram debatidos junto aos membros do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e do Meio Ambiente (Comdena). O presidente, Ricardo Crepaldi, oficiou o Ministério Público, Legislativo e acionou entidades da sociedade civil alertando para a ‘gravidade do silêncio e da ausência de informações’ e discussão. “Não é possível que uma PPP com custo de bilhões de Reais tenha o estudo negado para o Comdema e com autorização por lei sem que a sociedade possa discutir custos, alternativas e propostas”, protesta.


METAS
Entre as metas para o concessionário, a proposta atende aos indicadores mínimos do Plano Nacional de Resíduos (Planares). O plano exige redução de 20,5% de lixo enterrado em aterros até 2032. A PPP estipula 40% de queda nesse volume em Bauru a partir do 5º ano do contrato. O índice permanece por 30 anos. Em outra ponta, o aumento do volume de lixo reciclável, separado, pode chegar a 4%. Exigência significativa para uma cidade que recicla menos de 1%.
Contudo, a fórmula de cobrar a tarifa vinculada ao consumo de água não “incentiva” a educação ambiental. Reciclar mais é mais caro para o prestador do serviço. Conforme a secretária Bordezan, a usina prevista para Bauru terá capacidade para operar 650 toneladas/dia. Bauru produz 300 toneladas diárias. Isso significa que o contratado vai vender serviços para outros municípios para ampliar sua receita.


PERGUNTAS
O valor bilionário e a extensão do contrato exigem debate sobre inúmeros outros conteúdos:
. por que a planilha de custo mantém o valor fixo de R$ 29,6 milhões para serviços de limpeza pública, em 30 anos?
. qual a fórmula de atualização da contraprestação mensal paga ao contratado? – os indicadores de desempenho mais índice de reajuste anual?
. qual a fonte para o repasse de R$ 96 milhões a cooperativas lançado no Opex (custo operacional) como verba de Fundo Municipal pela Prefeitura?
. explicar a despesa de R$ 100,3 milhões em infraestrutura e de R$ 521,9 milhões em veículos e equipamentos (composição do Capex)
. quem são os técnicos (advogados, engenheiro ambiental e economista) que fizeram o estudo pela Fipe?
. qual a quantidade e tipo de caminhões exigidos no início do contrato ao valor de R$ 126,1 milhões?
. por que os conteineres têm cobertura fixa de 50% da área de coleta urbana do terço inicial ao final do contrato?

. qual a minuta dos contratos? Eles continuam segredo (não foram entregues e a lei aprovada pelos vereadores autoriza a prefeita a assinar o que quiser)
. fornecer a pesquisa de custos de equipamentos e outros, como os R$ 69,7 milhões em conteiners?
. que tipo de usina é considerado para o valor de R$ 49,2 milhões (CTR), tendo a referência do estudo sido em biossecagem?
. confrontar o custo atual de serviços em contrato com a Emdurb com os itens de despesas projetados no estudo, como a com varrição (manual e mecanizada) de R$ 9,2 milhões com o custo atual do contrato atual
. detalhar as melhorias consideradas para obras nos Ecopontos atuais e estrutura das Cooperativas?
. será mantido o pedido de R$ 646 mil de uso de verba do Fundo Municipal do Meio Ambiente (protocolado no Comdema) em função da concessão já impor obrigações nessa área?
. qual a composição de custo de operação mensal do CTR (R$ 226,1 milhões em 30 anos)?

. Como a Emdurb vai pagar edital aberto agora no valor de R$ 15 milhões para parquímetros e fiscalização digital com concessão? Onde isso encaixa na LOA e PPA?

. Qual o estudo de impacto na previdência com serviços hoje realizadod por Secretarias como Sear, Sagra e Semma?
. Qual a nova composição do orçamento anual da Emdurb (receitas, custo dos serviços) no cenário da concessão?
. Que estudo será feito pela concessionária no aterro finalizado e o custo desse serviço?

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