O candidato a prefeito pelo Democratas, Raul Gonçalves de Paula, participa de sua segunda eleição municipal para a disputa majoritária. Na anterior, perdeu, em segundo turno, para Gazzetta.
Segue, abaixo, as respostas do candidato a perguntas formuladas pela sabatina realizada pelo Jornal da Cidade e Rádio 96 FM, que estão sendo comentadas pelo CONTRAPONTO. Como para os demais, são três níveis de avaliação, de acordo com o quadro abaixo e, no mérito, a capacidade do candidato revelar conhecimento sobre o tema, congruência com a realidade em relação a questão e viabilidade, ou não, de realizar o que afirma ou propõe.
Abaixo de cada resposta, o apontamento do CONTRAPONTO:
. Orçamento municipal
Raul: “Dinheiro não aceita desaforo. E o que foi feito nos últimos anos foi um verdadeiro desaforo. Eu não faço promessas, mas sim compromissos. Falo aquilo que dá pra fazer. O atual governo prometeu coisas mirabolantes, as pessoas foram enganadas. Se você pegar o que está projetado no Orçamento tem que usar a máquina pública, com mão de obra própria.
Eu não consigo entender como um Orçamento em que entrou R$ 52 milhões com a venda da folha, e mais o que veio do governo federal, porque o governo do Jair Bolsonaro ajudou as prefeituras, consegue ter dificuldade para fechar o ano. Não teve perdas, e ainda assim vai deixar restos a pagar. Tem gente que não nasceu para mexer com dinheiro, e em Bauru temos essa situação”
CONTRAPONTO (2): A resposta traz um bordão de campanha de Raul (Eu não faço promessas, mas compromissos. Falo aquilo que dá pra fazer”. Criar bordões é positivo para “martelar” discursos. Mas o que se fala (nos conteúdos) tem de ser, cirurgicamente, encaixado com o “slogan”. O raciocínio saiu truncado, prejudicando a compreensão.
Primeiro Raul sugere que utilizar a máquina pública resolveria questões (economia, talvez). A menção ficou “solta”, isolada. Em seguida, Raul pontua a receita orçamentária extra de R$ 55 milhões (e não R$ 52 milhões como disse) da venda da folha da Prefeitura para o Bradesco, em 2019, para criticar o adversário Gazzetta de má gestor.
O exemplo utilizado é pertinente, mas a “amarração” da resposta ficou prejudicada. Se a ideia foi dizer que dinheiro tem, mas é preciso boa gestão, o candidato demista perdeu ótima oportunidade para dizer como.
. Desenvolvimento econômico
Raul: “Precisamos mudar os corredores comerciais para que não sejam apenas para comércio, mas também para indústria, desde que não tragam transtorno. Precisamos tratar melhor as empresas, não pode mandar um fiscal só para multar, antes de tudo precisa orientar. Se você tem um empresário disposto a encarar, tem que liberar, desde que não tenha impacto para o entorno. Já para as grandes empresas, a melhor coisa é fazer política de incentivo através do ICMS”.
“A nossa maior arrecadação é com o comércio, então temos que tratar melhor esse segmento, na pandemia foi dado um tratamento para os supermercados, e outro para o comércio. Então temos que alterar a lei dos corredores comerciais”.
CONTRAPONTO (2): Resposta excessivamente simplista para a abrangência do tema, mesmo para os pontos escolhidos pelo candidato. Ora: mudar a lei de Zoneamento para permitir indústrias em corredores comerciais não pode ser uma ideia solta.
Indústria se instala, tecnicamente, em Zics (Zonas de Indústria, Comércio e Serviços) e Distritos (que estão em condições ruins). Admitir indústria em centro comercial exige explicar que tipo de atividades (classificação), porte e sob qual diretriz. O referencial “incômodo” cai mais como frase de efeito neste ponto. É algo técnico, que merece ser tratado como tal.
“Precisamos tratar melhor as empresas” é óbvio além da conta. O complemento também é ruim, na direção populista para uma função primordial na regulação do cumprimento da ocupação de solo (fiscalização): “Não pode mandar um fiscal só para multar, antes de tudo precisa orientar”. Cai no discurso eleitoral, distante do nexo de gestão. A crítica ao tratamento distinto dado a supermercados e comércio (pandemia) faz mais sentido, como raciocínio lógico do candidato.
. Hospital do idoso
Raul: “A prefeitura não tem caixa para assumir hospital. O atual prefeito já falou em assumir o Hospital de Base, o que é uma falácia. Só daria para assumir se o dinheiro viesse junto. Mas tem gente que não sabe lidar com dinheiro. Hoje, 23% da população é idosa, são mais de 80 mil pessoas, e apenas 30% conseguem pagar plano de saúde, que é mais caro nessa idade.
Então temos aí 60 mil pessoas dependendo exclusivamente do SUS. Com a velocidade em que são realizadas as cirurgias em Bauru, vai demorar 17 anos para acabar com a fila de catarata. Já existem indicadores técnicos, precisa ter um programa voltado para o idoso, e a nossa tratativa com o Estado é para que o Hospital do Idoso atenda essas pessoas”
CONTRAPONTO (1): Resposta tem coerência com a realidade do tema. Atendimento hospitalar, a rigor, é responsabilidade do Estado. E o crescente aumento da população com mais de 60 anos é real, assim como o peso do custo do plano de saúde para esta faixa etária. Cabe, ainda assim, definição pelo candidato se, em seu eventual governo, o Hospital do Idoso teria participação da Prefeitura, como e com qual recurso.
. Situação da Emdurb
Raul: “A Emdurb tem condição de gerar emprego para as pessoas de Bauru. Já são 800 pessoas, portanto, famílias que dependem da Emdurb, e dá para contratar mais. Tem um déficit de 29 coletores. Hoje, para comprar um brinquedo para uma praça, a prefeitura gasta R$ 40 mil, e esse dinheiro vai para fora.
Temos que manter o dinheiro a qualquer custo dentro de Bauru, porque o funcionário da Emdurb vai comprar no comércio, vai circular a economia. A Emdurb pode ter uma fábrica de brinquedo para as praças, e a manutenção seria mais prática. Não vai gerar aumento do déficit. O ideal é transformar a Emdurb em uma autarquia, ela já faz as placas de sinalização, poderia fazer mais coisas”.
CONTRAPONTO (3): O candidato afirma que o “ideal é transformar a Emdurb em uma autarquia”. Só esta frase, por si, já tem efeitos jurídicos, econômicos, fiscais e de redefinição de papel da empresa municipal que exigem resposta com critério.
Não se trata de ser apenas frase solta. Se trata de optar pela transformação de uma empresa deficitária (que somente neste ano terá deixado 10% de seu Orçamento global como restos a pagar, sem tratar o problema. E, ao invés de definir caminho claro, o candidato aponta para algo que não a redefine. Que tipo de autarquia? Com quadro estatutário? Dar a ideia de que a empresa pode aumentar seu quadro, sem discutir sua grave situação estrutural, de gestão e de competitividade frente aos mesmos serviços no setor privado, é “jogar para a torcida”.
. O fim da Cohab?
Raul: “O governo atual tenta se descolar da Cohab, mas a Cohab foi a mantenedora de esquemas de campanha, e alguém manteve as pessoas lá dentro. Há quatro anos se colocou a necessidade de pagar a dívida, e nunca se pagou nada. Tem dívidas com a Caixa e com as construtoras, Bauru tem 73%, então o município responde apenas pelo capital social dela, os outros municípios devem ser chamados a assumir suas partes.”
CONTRAPONTO (2): O candidato aprovou o tema para atacar o atual governo (tática esperada), mas (tecnicamente), digamos, “avançou a linha”. Pra discurso de auditório a frase cabe, mas qual a sustentação probatória para Raul afirmar, juridicamente, que a Cohab “foi a mantenedora de esquemas de campanha”?
Afirmação gravíssima que, se provada, pode traçar outros rumos inclusive ao cenário eleitoral, foi lançada ao ventilador no meio da disputa eleitoral pelo poder! Tecnicamente o candidato ultrapassou a “linha”, como se diria no jargão, e sem responder como resolverá a maior dívida do Município, de centenas de milhões de Reais.
. Abastecimento (água)
Raul: “O Rio Batalha não deve ser esquecido, mas a solução é demorada. O problema da falta de água é urgente, tem 140 mil pessoas que estão com dificuldade de abastecimento. No curto prazo, temos que perfurar poços, um no Jardim Solange, outro no Parque Viaduto, e tem o do Santa Cândida que está ficando pronto.
O que retiramos do Batalha equivale a pelo menos dez poços. O que precisamos fazer no rio é a dragagem e ampliação da represa de captação, e a construção de uma represa, na antiga estrada de terra que vai para Piratininga, já tem estudo. A construção de um novo ponto de captação 22 quilômetros abaixo, como se projeta, é mais complicado”.
CONTRAPONTO (2): A resposta para ação de curto prazo em relação ao sistema Batalha fala o trivial, mas dentro do tema. Pelo menos o candidato tomou o cuidado de dizer que perfurar poço é ação emergencial. A questão é que a construção de uma represa na divisa com Piratininga carece de avaliação especializada e, ainda, análise em relação ao efeito e participação da cidade vizinha (Piratininga).
Ainda assim, o candidato, ao menos, ousou apontar para uma alternativa a ser discutida. Porém, a afirmativa de que a construção de Nova Captação é complicada careceu de sustentação. Até porque esta é a saída técnica, de especialista, apontada no Plano Diretor de Águas (PDA). A solução para o desabastecimento, entretanto, não se resume a esses pontos citados.
Péssimo candidato, respostas evasivas, sem caráter técnicos. Bauru precisa de um político de verdade no comando, a retórica de que precisa de um gestor é populista, depois de eleito o pseudo gestor, o apolítico, sofre pra executar suas tarefas políticas…
Estou surpresa pela profundidade e clareza que o CONTRAPONTO alcançou nessa entrevista.
Parabéns Nelson Gonçalves.
Me ajuda muito entender o que de fato diz o candidato.