Por Nane de Sousa
Passei semanas com essa palavra martelando meus miolos: sobriedade.
Parece fácil pensar em seu sentido quando o tema é estilo de vestimenta. Por exemplo, ela prefere usar sobretudo cinza a vermelho. Gosta de cores sóbrias.
Convence? Talvez.
Já quando o foco é postura na vida, posicionamento, temos uma tendência a pensar que o indivíduo sóbrio é morno e que tudo o que é morno não é bom.
Imagine um namoro morno? Logo chegam os sabichões de plantão afirmando:
– Afe! Eu quero é um relacionamento quente, pegando fogo!
– Eu quero o calor da vida fervilhando, man!
Respeito. Afinal, eu também já pensei assim e até rompi relacionamentos serenos, equilibrados e tomados pela harmonia “enfadonha” da sobriedade.
Passei muito tempo alimentando os prazeres dos altos e baixos. Ateando fogo em gasolina…
Ocorre que, aos 45 do segundo tempo, entendi que não há nada de errado com o morno. O morno não fere, como geralmente o quente e o frio fazem (por absoluta falta de equilíbrio na temperagem). Um banho de água morna traz conforto e aconchego. O chá morno desce macio.
A vida morna tem um equilíbrio capaz de evitar aquelas montanhas-russas de emoções descompensadas. A vida morna não sabe o que é ansiedade nem depressão, porque ela se alimenta do presente, se serve do que tem pra hoje e saboreia isso com sobriedade.
E eis, aí, o termo que martelou minha mente no último período. Intensa, com sol em peixes, lua em leão e quiron em áries, vivia em conflitos, numa brincadeira de esconde-esconde entre as tantas que habitam em mim.
Uma quer intensidade, respostas rápidas, atitudes impulsivas. A outra espera seis meses por uma frase bem pensada.
Uma quer batom vermelho, a outra grita que tem alergias a cloreto de cobalto e anda de cara lavada pedindo atenção, mas quietinha.
Eis que entendo que a sobriedade pode morar num lindo batom vermelho, sim, desde que em paz com seus atos conscientes, passo a passo. Nem oito nem oitenta. Mas no número em que quiser parar, em harmonia com quem se é e com quem está se tornando. Simples assim.
Lembrando apenas que não estou em defesa de atitudes “mais ou menos”. O “morno” aqui é usado de forma didática por se aproximar mais da sobriedade sobre a qual quis falar. Porque o entendimento de sóbrio extrapola a “mornidade”… E atravessa camadas sutis…
O sóbrio saboreia tudo, com muito vigor, mas não espreme, não aperta, não sufoca…
O sóbrio atravessa as pessoas sem deformá-las. É disso que se trata.
A autora
é jornalista, escritora, com Especialização em Linguagem, Cultura e Mídia pela Unesp.