Veja por que a Zona Oeste é saída para Plano de Estiagem e socorrer Batalha

 

Qual a saída para socorrer os 130 mil bauruenses que dependem da Captação do Rio Batalha diante da previsão de novos e longos períodos de estiagem em Bauru? Por que a Zona Oeste é ponto chave para repor o abastecimento do rio em casos de grande seca? Desassorear o rio Batalha na Lagoa de Captação e seus afluentes e replantar mata ao longo do percurso até a nascente em Agudos (SP) continuam sendo ações urgentes (antigas e na fila). Ah: uma nova vala está sendo aberta nesta segunda-feira para “encurtar” o caminho do que resta de àgua perto da Lagoa.

Mas o que é de fato necessário com a revisão do Plano de Estiagem – criado ainda em 2018 para enfrentar a escassez que indica ser cada mais presente e severa em nossos dias?

Fomos atrás dessa discussão, em um momento em que o bauruense continua com falta de água para higiene comum, cozinhar, por dias seguidos nas casas. O racionamento (rodízio) não resolve! Na verdade, ele agoniza junto com a lagoa seca, pequena, cheia de lama, sedimentos acumulados.

De bate pronto: três medidas estão na ponta da lista para ações estruturais em abastecimento em relação ao sistema Batalha – que já respondeu por 35% do consumo de Bauru e hoje, conforme o Departamento de Água e Esgoto (DAE) seria utilizado para 26%. Cada medida tem seu tempo (e depende de governos seguidos).

1 – construir 4 poços pulmões com capacidade de 200 m3/h distantes 1 km cada um, na região Oeste (Val de Palmas).

2 – interligar os 4 poços a um Reservatório Central e, deste, por adutora da região do Posto Comandante até o Reservatório Alto Paraíso.

3 – desassorear a Lagoa do Batalha e profissionalizar a gestão de operação, controle e produção do DAE.

As duas primeiras ações estão no estudo do governo do Estado (através do DAEE). Essas obras são apontadas como necessárias para estabelecer reposição de abastecimento capaz de suportar longa crise e esgotamento da Lagoa do Batalha – como a enfrentada em 2018 e, novamente, neste ano (desde maio).

O presidente do DAE, Renato Purini, confirma que a demanda pelos investimentos está apresentada ao DAEE, ao custo total de R$ 45 milhões. O DAE Bauru já sabe que a região de Val de Palmas tem capacidade para retirar em torno de 200 m3/h, em unidades separadas pelo menos 1 km uma da outra. Seriam necessários 4 poços interligados a um Reservatório Central, na mesma região. De lá, será necessário instalar uma adutora de porte até o Reservatório Alto Paraíso. “O que o DAEE (Estado) orçou é que para estas obras são necessários R$ 45 milhões”, diz Purini.

Isso implica, no total, em uma capacidade de socorrer o sistema que reduziria o uso da Lagoa a apenas 12% do que produz hoje (isso durante o período de estiagem). Há anos, também é conhecido, que o DAE já retirou 550 litros por segundo do Rio na divisa com Piratininga.  Mas a outorga (autorização) é de 317 litros por segundos. Ou seja, mesmo sem proteção no entorno, sem desassoreamento e sem programa contínuo de recuperação de afluentes e mata ciliar, a Prefeitura retirou da Lagoa muito mais do que é permitido, por anos seguidos.

O plano também mostra, por razões evidentes, que não se resolve a pouca capacidade de produção de água no Batalha em longa estiagem com reabertura de poços condenados (como o Consolação). Muito menos com a insistência em perfurar poços onde não há água subterrânea (caso do Alto Paraíso) – de 2023.

ESTUDO USP

O professor e doutor Ricardo Hirata, coordenador do projeto SACRE em Bauru pela Universidade de São Paulo (USP), confirma os dados de demanda, consumo e produção de água em Bauru. “Em três anos já de análises temos que Bauru tem concentração de poços na região central e a conhecida limitada capacidade de armazenamento da Lagoa do Batalha. Também é conhecida a estrutura geológica que mostra que é bem mais espessa a camada subterrânea do Aquífero Guarani a Leste e Oeste. Mas do Centro para a região da Vila Falcão, Pacífico, por exemplo, ela é muito mais fina e com pouca oferta de acesso a água”, aborda Hirata.

Ou seja, como Bauru e o DAE já sabia há anos: cabe aos governos cumprir as obras estabelecidas no Plano Diretor de Águas (PDA) – poços, reservatórios, interligações, sistemas de controle de pressão de rede, telemetria e metas de redução de perdas (vazamentos).

De outro lado, a indicação de que o “comum” será conviver com menos chuva por períodos mais longos ajuste no Plano de Estiagem (e rápido). As obras acima são apontadas como fundamentais para enfrentar o drama na torneira de cerca de 130 mil pessoas, hoje.

Hirata não vê problemas com a capacidade do Aquífero abastecer a cidade. “Temos um sistema com enorme capacidade. A questão é avançar em monitoramento, controle e uso racional por poços. O rebaixamento do nível estático (distância do solo até a bomba em poços) ocorre porque hoje a produção é quase ininterrupta, por deficiência na reservação e na operação do sistema (perda elevada). Resolver esses pontos é uma frente. A outra é ajustar o Plano de Estiagem”, aponta.

RIO TIETÊ

O professor Hirata questiona a opção por buscar água no Rio Tietê (há 35 km de Bauru). “Os custos com licenciamento ambiental, instalação, manutenção de adutoras, estações elevatórias, ou seja, um sistema significativo de bombas e operações, se tornaria muito mais caro do que a alternativa sólida e com água abundante disponível no Aquífero, com redimensionamento. E isso não significa parar o Plano Diretor de Águas. Ao contrário. Ele precisa ser implementado. Aqui estamos falando da urgência com o Plano de Estiagem para o Batalha, através de poços pulmão e Reservação adequada”, aponta.

GESTÃO

Contudo, ainda que dois dos três itens essenciais sejam realizados (e os governos serão pressionados para cumprir pelos consumidores), a problemática de captação, produção e distribuição da água depende (e muito) da profissionalização da gestão do DAE.

A questão está posta em destaque no estudo. E, claro, escrever sobre isso alimenta melindres. Mas não é possível que a cidade continue assistindo à gestão da água sem apontar para “dentro do sistema”.

Não é necessário ir distante na observação. Registros de bombas que “queimam”, com frequência, em vésperas de final de semana e feriados, consertos de vazamentos com reincidência e ruas que “afundam” após a troca de tubos são indicativos que não escapam aos olhos de especialistas…

Sobre a escassez do Batalha, bola da vez, o bauruense já destinou, através de alteração em lei em meados de 2018, mais de R$ 165 milhões para o DAE atacar, em específico, a estiagem no Batalha.

Abordamos isso nesta matéria:

Bauruense já acumula R$ 165 milhões pagos para DAE resolver falta d´água em seis anos

 

4 comentários em “Veja por que a Zona Oeste é saída para Plano de Estiagem e socorrer Batalha”

  1. Água é essencial, todas iniciativas para garantir o suprimento são relevantes. Mas é preciso também criar atitudes de economia na população: redução do fluxo das torneiras, banhos mais rápidos, lavagem de casas e calçadas, reúso da água, etc. A era da abundância de água já passou, não haverá água em quantidade para qualquer nível de consumo. Não é racionar, é racionalizar o uso da água.

  2. Felício João David

    É necessário acabar com a irresponsabilidade dos prefeitos de nomear gestores do DAE de pessoas sem qquer conhecimento e vontade pra resolver problemas técnicos. Nestes últimos 26 anos os prefeitos optaram por nomear gestores para o DAE por indicação política para pode fazer falcatruas .

    1. Acreditar que políticos rotativos na direção do DAE se empenham em equacionar a questão do abastecimento é ingenuidade demais, se utilizam do cargo para benesses próprios, seja eleitoral, salarial, ou de outra ordem. Esse programa de rodízio ineficaz é somente pra iludir a população diminuindo assim uma cobrança mais aguda. Somente criminalizando os responsáveis ( os que prometem) teria algum efeito.

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