APAE Bauru foi saqueada por anos! Roberto e Cláudia eram líderes do esquema criminoso, detalha a Polícia Civil

 

Relatórios da Polícia detalham como Cláudia Lobo e Roberto Franceschetti lideraram desvios, rachadinha e organização criminosa na APAE Bauru

A APAE Bauru, uma entidade social essencial para serviços especializados para pessoas especiais, foi saqueada sem pudor por anos seguidos. Os líderes eram a secretária executiva, Cláudia Lobo (assassinada) e o ex-presidente, Roberto Franceschetti Filho (preso). Relatórios dos serviços especializados da Polícia Civil de Bauru a que o CONTRAPONTO teve acesso assim apontam, detalhando fraudes, rachadinhas, pagamentos e saques ilegais e um esquema escandaloso de desvios que, até aqui, já soma quase R$ 8 milhões.

Detalhamos a seguir ações criminosas que, ainda, estão conectadas a uma gestão omissa e com controle frágil de recebimentos e pagamentos. Além disso, as investigações do Deinter-4, nesta fase sob o comando do delegado da àrea especializada de crimes de organização criminosa (Seccold), Gláucio Stocco, apontam para notas frias, cabide de emprego e pagamentos ilegais a um grupo de parentes e pessoas cooptadas pelo esquema.

A investigação da Seccold com autorização judicial evidencia que o modus operandi consistia na transferência de dinheiro diretamente das contas bancárias da APAE Bauru para as contas bancárias de Cláudia e Roberto, principalmente. Mas as ações de corrupção, conforme a Polícia Civil, também irrigaram uma montanha de dinheiro para as contas de inúmeros envolvidos, que serão indicados a seguir, e no pagamento de produtos ou serviços considerados superfaturados pela Polícia.

Essa parte do esquema se dava por meio de notas fiscais frias ou negócios simulados, cujos valores pagos pela APAE aos fornecedores, em conluio, retornavam diretamente para as mãos de Cláudia e Roberto. “Eram feitas transferências bancárias, ou em dinheiro, os quais redistribuíam parte dos valores desviados aos demais integrantes da associação/organização”, traz a apuração policial.

Sao 5 relatórios específicos produzidos até aqui pela Polícia Civil.

NOTEBOOK DE CLÁUDIA LOBO

O relatório da Polícia aponta que foram apagados conteúdos a partir de 6 de agosto deste 2024, data do desaparecimento da então secretária executiva da Apae.
Para o Seccold, apagaram arquivos tentando eliminar as provas dos crimes investigados, os quais foram recuperados pela perícia.

Conforme apontado nesse relatório, é destacada a localização de uma planilha Excel com anotações de Cláudia demonstrando suas receitas e despesas.

Neste, a investigação cita que as receitas são muito maiores do que as recebidas oficialmente por Cláudia – em razão do exercício da sua função de Secretária Executiva na APAE Bauru.
De especial interesse para a investigação, a Seccold cita que foi evidenciada a informação a respeito de um crédito com valor de quase 10 mil Reais/mês vinculado às iniciais “PER” “SIO”, alusivas ao ex-marido de Cláudia e pai de sua filha Letícia, de nome Pérsio de Jesus Prado Júnior, que trabalhava como autônomo para a APAE, por indicação de Cláudia, digitando notas fiscais.

Os policiais citam que o trabalho de Pérsio seria superfaturado e que Cláudia recebia parte do valor pago a ele pela APAE (“rachadinha”), situação essa comprovada pela análise dos RIFs (relatórios).

Delegado Gláucio Stocco, da Seccold em Bauru

SEM CONTROLE 

Nestes documentos constaram, diz a Polícia,  a transferência de valores de Pérsio para Cláudia (R$ 108.627,56) e também de Pérsio para Roberto (R$ 46.150,00), assim como pelas informações prestadas pela própria APAE em questionamento feito pela Civil, esta alegou não possuir controle dos serviços prestados e
pagamentos efetuados a Pérsio.

Também foram evidenciadas nessas planilhas anotações das despesas mensais de Cláudia, incluindo gastos com cartões de crédito, pagamentos de condomínio e prestações mensais de seus apartamentos, seguros e financiamentos de veículos, além das despesas de sua filha Letícia da Rocha Lobo Prado, cujas despesas ultrapassavam consideravelmente suas receitas oficialmente pagas pela APAE. Para a Polícia, isso reforça a tese de que ela desviava receita da APAE em benefício próprio e
de seus familiares empregados na Associação por sua indicação, especialmente em favor de sua filha Letícia, que também prestava serviços para a APAE por indicação da própria mãe.
A APAE informa à Polícia que Letícia também recebia R$ 2.500,00 mensais, sem dizer o que fazia na entidade – onde ela não comparecia em jornada diária.

Cláudia transferiu para sua filha Letícia quase 170 mil reais, recebendo da conta dela cerca de 70 mil, traz o relatório.
Foi identificada na extração de dados do notebook de Cláudia sua declaração de imposto de renda anual, exercício 2024, cujo valor total de rendimentos é de apenas R$ 100.588,43, incompatível com suas despesas constantes em suas anotações.

Também foi encontrada nesse computador de Cláudia uma planilha referente a vários ‘contratos de mútuo’ formalizados por alguns funcionários da APAE – que emprestariam dinheiro para José Fernando Monteiro Benjamin, que veio a se tornar namorado de Cláudia à época, com juros acima dos praticados pelo mercado,
incluindo o ex-presidente Roberto – que emprestou 40 mil, conforme detalhado em Termo de Declarações de José Fernando, suspeitando-se que recursos da própria APAE tenham sido desviados para essa agiotagem, em benefício
especialmente de Roberto e Cláudia. A Civil acredita que o contratante José Fernando acabou dando o calote nos contratados, tendo Roberto ingressado com ação na Justiça para receber esse valor, e conseguido sucesso, embora não tenha ficado no prejuízo – pois teria desviado esse mesmo valor da APAE para ressarcir esse prejuízo.

EMPRÉSTIMOS PESSOAIS E REFORMA DA CASA 

 

O segundo relatório detalha bloco de recibos apreendido, com desfalque de verba da Apae para empréstimo pessoal e reforma da casa de Roberto, ex-presidente.
Também descreve nomeação de fachada na presidência e confissão de uma nomeada (Gisele).
À investigação, assim diz, constatou-se que Roberto e Cláudia – em conluio com Renato e Gisele – emprestaram 100 mil Reais em nome de Gisele para pagamento de 13º de funcionários da APAE, sem justificar o motivo. “Desviaram pouco mais de 50 mil Reais somente com essa negociata, pois que os pagamentos feitos mensalmente a Gisele por Roberto certamente continuaram a ser honrados com recursos da APAE, situação essa confirmada no RELATÓRIO COMPLEMENTAR DA ORDEM DE SERVIÇO, onde foi encontrada uma conversa entre Cláudia e Roberto – em que ela
confessa ter articulado para que a APAE entregasse R$ 50 mil a Gisele sob argumento de quitar a dívida dela junto ao banco Itaú referente ao empréstimo feito por ela à APAE, mas cujo valor foi transferido da conta de Gisele, após receber da APAE, para a conta de Roberto, “para ressarcir um prejuízo que ele teve com o contrato de mútuo firmado com José Fernando Monteiro Benjamin no valor de 40 mil Reais, acima já mencionado”, conforme evidenciado no RELATÓRIO DA ORDEM DE SERVIÇO 30/2024, ficando Cláudia com 10 mil reais da diferença do valor do cheque.

Gisele ainda confessa em suas declarações que recebia um salário de 4 mil Reais por mês da APAE sem haver previsão legal para tanto, além de continuar recebendo as parcelas do empréstimo feito à APAE, cujo dinheiro destinado a quitação já havia saído da conta da Associação, conforme ela mesmo declarou, fato constatado pela análise dos dados extraídos do celular de Cláudia, que transferia todo mês o valor exato de 4 mil Reais para a conta de Roberto nas datas próximas aos recibos, tendo se utilizado da conta de sua filha Letícia para realizar as transferências ou mesmo fazendo a entrega dos valores em espécie para Roberto.

“Com isso fica claro que as parcelas pagas à Gisele mensalmente eram provenientes de recursos desviados da APAE com o conhecimento e consentimento de Cláudia, Roberto e Renato Golino, então coordenador financeiro da Associação, situação confirmada pela própria APAE.”, detalha a Polícia.
Conforme evidenciado neste segundo relatório, tanto a ex-presidente Gisele, quanto o ex-coordenador financeiro Renato Golino, e também Letícia, filha de Cláudia, teriam conhecimento da corrupção dentro da APAE, coordenada por Cláudia e Roberto. Inclusive, Letícia permitia o uso de sua conta bancária para realizar movimentações financeiras apontadas pela Civil como ilegais, beneficiando-se, dos desvios de dinheiro da
APAE.

As mais de 400 páginas da apuração policial até aqui apontam mais de uma dúzia de parentes e pessoas cooptadas por Roberto e Cláudia, a omissão, pagamentos via máquinas portáteis de crédito e receita via sistema controlado somente por Roberto (tipo pay pag).

Além disso traçam dados e docs de notas fiscais fraudadas, pagamentos sem suporte legal para os parentes ou “silenciados” com o esquema e uma engenharia para camuflar retiradas, pagar presentes, dar ciência em compras sem controle, entre inúmeras outras fraudes.

 

Veja na sequência das matérias outros investigados pelo Seccold, a lista de parentes contratados e relatórios apontando para falcatruas por outros membros do grupo.

 

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