A AUSÊNCIA de envolvimento de boa parte do eleitorado vai ajudar a decidir a eleição no segundo turno em Bauru, no domingo de 29 de novembro deste 2020. Quem não for votar, ou não quiser nenhum dos dois presentes no segundo turno (objetivamente) vai ratificar o resultado que apontará mais votos ou a Raul Gonçalves (DEM) ou a Suéllen Rosin (Patriota).
A AUSÊNCIA de conteúdos capazes de enfrentar os principais problemas de forma concreta – e sem disfarce – vai contribuir com outra dose de afastamento de eleitores do processo de escolha. Ambas as candidaturas ou não definiram como resolver vários problemas, ou apontaram para retóricas defensivas, evasivas ou em descompasso com o real: não há “grana” para fazer o que eles disseram…
A AUSÊNCIA de soluções, ou alternativas, que não choquem com a crua realidade de ausência de recursos para minimizar os desafios estruturais, pode ampliar o abismo entre os candidatos, o eleitor e a “cidade real”. E isso não vai acontecer só em Bauru.
A AUSÊNCIA de mais de 100 MIL ELEITORES, entre votos em branco, nulos e os que não compareceram no primeiro turno, certamente, fará a diferença para um ou para outro concorrente nesta disputa eleição.
Por sinal, esta é a principal incógnita na eleição 2020 em Bauru. Quantos não vão comparecer? Quantos anularam o voto? No primeiro turno, 39,99% (108.274 bauruenses) estiveram nessa condição.
Para um colégio eleitoral com mais de 270 mil votantes, o elevado percentual de cidadãos que optou por não exercer a obrigação do voto vai ser, indiscutivelmente, fundamental para o desfecho no domingo.
A campanha se encerra, neste sábado, sem que as coordenações saibam quem são esses eleitores exatamente? Além disso, a tentativa de “convencimento” para que alguém mude de ideia, e vote, foi tímida, para a abrangência das AUSÊNCIAS.
Os ausentes são em sua maioria mulheres? Homens? Jovens? Idosos? Eleitores com escolaridade acima do ensino médio? Não? São desempregados? Despolitizados? Cidadãos atentos à cidadania, mas sem esperança com o universo político desta fase?
Os mais de 100 mil que não querem nenhuma candidatura são religiosos? Se o forem, há mais evangélicos, católicos, ateus ou adeptos de outras vertentes?
A AUSÊNCIA de estratificação desses votos (inexistentes, na verdade) faz de qualquer prognóstico da eleição neste segundo turno em Bauru uma incógnita.
Mas não é só isso!
DEBATES
Mas, entre os que forem votar, quantos estiveram AUSENTES de discussões sobre o conteúdo apresentado por Raul e Suéllen?
Quantos assistiram à maratona de confrontos televisivos entre o médico e a jornalista nesta semana?
Quantos são os que tornaram a discussão política AUSENTE de sua rotina, ainda que entre rodinhas de amigos, no bar, na hora do almoço, em casa?
Quantos são os AUSENTES da pesquisa por conteúdos por opção? Aqueles que, por modismo, falta de consciência, ou outro fator, votam por indicação do amigo, do “líder” da turma, ou baseado na troca (por um favor, a promessa de ajuda com algo que lhe interesse)?
Quantos farão da AUSÊNCIA de consciência e formação política seu critério, real, de escolha? Sim! Porque esses podem pender para o lado de uma candidatura, ou outra, baseado em um vídeo disparado nas redes (ainda que este tenha sido fake news)?
Quantos serão levados pela AUSÊNCIA, ou não, de referenciais (morais, de comportamento, conduta)?
NOSSOS PITACOS
Separada a torcida por este ou aquele (natural no processo), o CONTRAPONTO registra, a seguir, alguns dos elementos, ou fatos de campanha, que podem, também, em algum nível, interferir no caminho do voto…
São muitas variáveis. Então vamos citar, sem nível de hierarquia ou quantidade, apontamentos que fizemos nesta semana de maratona de debates. Há citações pitorescas, outras de bastidores, outras que você pode não ter visto, ou tomado conhecimento, outras de análise, outras de interjeições…
São, fundamentalmente, registros, para concluir o processo democrático independente, duro por vezes, mas de missão exercido pelo CONTRAPONTO em sua primeira jornada jornalística na eleição municipal.
A lista de citações abaixo é um registro histórico-eleitoral. Faça dela o proveito que melhor lhe convier. Ou, considere, se for o caso, apenas como listagem de fatos!
Ela traz, sem amarras, descrições sobre fatos das duas candidaturas:
- Raul iniciou a campanha em vantagem. Ele soube gerenciar a vantagem ou isso o atrapalhou?
- Suéllen iniciou a campanha como vitrine para a eleição a deputada, ou de fato acreditava em ser a “outsider” da disputa deste ano na cidade?
- O time de Raul não monitorou, dia a dia, o crescimento de Suéllen nos 15 dias finais do primeiro turno? Ou preferiu deixar o “barco correr” apostando em um embate (que não aconteceu) pelo segundo posto (da jornalista com Jorge – PT – ou Gazzetta – PSDB)?
- O que é uma desvantagem para muitos (não ter tempo para apresentação da candidatura) acabou sendo uma vantagem a Suéllen no primeiro turno? (que manteve campanha emocional e sem apresentação de ações concretas para plano de governo)?
- A campanha em Bauru não “polarizou” na primeira parte da disputa porque ninguém esperava o efeito “onda” aproveitado por Suéllen?
- As campanhas sacaram que a discussão municipal é circunscrita na aldeia e boa parte da população não decide o voto em cima de extremos que tomaram o País, há alguns anos?
- Até que ponto a desesperança, a passividade do eleitor e o uso do “descrédito” como “arma” para afugentar ainda mais o número já volumoso de despolitizados, ou ausentes, interferiram em escolhas sem critérios, referenciais?
- A existência de três candidaturas com ligação no segmento evangélico ajuda Suéllen, ou a pulverização de correntes no setor dilui essa possibilidade?
- Por que Raul não aprendeu com a campanha de 2016 e apresentou programa de TV “truncado” na forma e na “hierarquia” de conteúdos no primeiro turno? Por que o médico tentou corrigir este núcleo apenas há 10 dias do fim deste segundo turno?
- A máquina pública atrapalhou os planos do prefeito de plantão, ou a rejeição elevada, associada ao agravamento da crise hídrica ainda no início do primeiro turno, fez desabar as chances de Gazzetta ter melhor performance?
- Quem saiu candidato para “alavanca” para a eleição a deputado conseguiu o que queria, como Avallone, por exemplo?
- Por que o prefeito de Bauru, mesmo com melhor domínio que seus concorrentes da “situação administrativa e dos problemas” (por estar no comando) e a elevada exposição com as populações mais carentes (em razão da pandemia), não conseguiu se dar bem?
- Até que ponto a citação do vice de Raul (Manfrinato) no episódio de ter viajado a Brasília com despesa paga por intermédio de alguém do governo (segundo ele próprio), com menção na agenda da secretária da presidência da Cohab, prejudicou Raul?
- Por que Manfrinato não “tirou de letra” ao menos a explicação inicial no caso (dizendo, por exemplo, que foi a trabalho, mas não sabe quem pagou), como fez Purini, com sutileza?
- Até que ponto a ligação de Suéllen com Birigui (sua terra e da família) teve efeito sobre a opção do eleitorado bauruense por alguém com maior vínculo com esta cidade?
- A notícia de rejeição de contas de Suéllen (e de eventuais pendências com pagamentos envolvendo empresa em seu nome e da irmã) causaram que “estrago” em sua campanha?
- Raul teve receio de que criticar a adversária de forma mais contundente, no segundo turno, poderia vitimiza-la perante o eleitorado, ao invés de tentar acentuar fragilidades, ou diferenças entre eles?
- Suéllen abusou, em excesso, das frases de efeito e das intermináveis respostas (em debates e entrevistas) sem enfrentar os temas, com respostas genéricas, superficiais?
- Raul deveria ter mantido uma sequência de questionamentos críticos (de comparação), nos 5 debates deste segundo turno, para enfatizar sua estratégia de se posicionar como melhor conhecedor dos assuntos locais, em detrimento à inexperiência da adversária? (Ao invés da opção de “bater” mais firme só no primeiro e no último debates com público?
- Foram 5 debates entre ambos. Mas quantos assistiram aos confrontos? E mais: quantos assistiram ao último debate (TV TEM)?
- E, ainda: o último debate foi capaz de mudar votos em quantidade significativa para “embolar” ou “mudar o jogo”?
- Raul fez treino de mídia para minimizar a distância entre sua falta de “traquejo” diante do discurso televisivo e a natural habilidade da concorrente (jornalista de estúdio e reportagem de rua) diante das câmeras?
- O que houve com Raul (sonolento, apático) no debate da TV Unesp, em detrimento a uma Suéllen com energia, com inflexão de frases diante da câmera?
- Qual é o time com quem Raul quer governar?
- Qual é o time com quem Suéllen quer governar?
- Ambos, por fim, entre muitas similaridades, deixaram escapar (ainda que com cuidados) que querem realizar governos reformistas, com reestruturação da administração pública, terceirizações e concessões (um discurso que está presente em ambas as candidaturas e que tira votos junto ao funcionalismo). Mas é, claramente, proposta tanto de Suéllen quanto de Raul!
E UMA QUESTÃO FINAL, PARA VOCÊ:
O jeito franco, independente, do CONTRAPONTO, de trazer todos os elementos e informações possíveis sobre a eleição, com análises, posicionamentos, interpretação, sugestões, lhe agrada? Ou esse tipo de jornalismo de reflexão não lhe atrai?
(deixe seu comentário sobre nosso trabalho no final da matéria)! Participe. Sua opinião é essencial para construirmos nossa missão!
Chamo de jornalismo eficiente, aquele que tem uma meta maior que mera informação, tem como principal meta a formação. Isso me salta aos olhos, gosto do jornalismo que provoca, não da mera narrativa.
Parabéns, seu trabalho em Bauru é fantástico.
Ah, falta uma coluna com histórias de personagens bauruenses, não personalidades, também personalidades, mas não somente elas. Principalmente das décadas mais longínquas.
CONTRAPONTO propõe jornalismo político da melhor qualidade.
Atua no cerne da AUSÊNCIA-MÃE de todas as AUSÊNCIAS, a falta de informação de qualidade, pautada por autonomia e pensamento crítico. Manter esse foco com isenção e divulgar esse modo de trabalho – necessários ao desenvolvimento da nação brasileira – é a questão.
Reflexão exige pensar! Num momento em que a desinformação, infelizmente, tem uma certa força, suas matérias, informativas e reflexivas, ajudam também no combate ao “fake news “.
Esse jornal e o seu jornalismo muito me agradam! Parabéns!
Gostaria de saber sua opinião se o grupo Cidade e o JC ainda vão continuar mandando na cidade com a prefeita eleita. O diretor do JC ainda irá escolher e determinar quais serão os presidentes das autarquias?
Caro José Sodré, é razoável que você encaminhe esta questão para a direção de redação do veículo. Assim poderão responde-lo, por serem o protagonista de sua dúvida. Em relação à Suéllen, ela foi eleita em chapa pura, sem os grupos tradicionais da cidade. Grande abc!
Excelente jornalismo. Parabéns.
Ótimo jornalismo Itaberá.
Faz muitas pessoas refletirem. Parabéns!
Parabéns, você faz diferente !
Parabéns Nelson por ser independente, diferente da jovem pan News Bauru, que descaradamente tá trabalhando pro Raul..