Bauru 2025: o novo governo e o desafio de projetos estruturantes

É 31/12/2024. A Prefeitura de Bauru fecha o ano e inicia 2025 com o desafio de solucionar três grandes temas estruturantes que já estavam pendentes e permanecem na agenda da prefeita reeleita Suéllen Rosim nesta mesma data há quatro anos, quando assumiu o governo municipal. Abastecimento de água, saneamento urbano e iluminação pública. É evidente que a cidade tem de avançar em outras áreas importantes. Mas o comum entre as três ações destacadas é que o bauruense já paga por esses serviços!

As três ações estruturantes pesam bastante sobre indicadores sanitários, de desenvolvimento urbano (IDH), atração de negócios, segurança pública e na qualidade de vida.

Bauru é a última cidade entre as de médio porte que não trata esgoto. A crise no abastecimento urbano de água passou a ser financiada, em específico, em 2019. No ano anterior, foi aprovada em lei a redistribuição das receitas do Departamento de Água e Esgoto (DAE), com a instituição do Plano de Estiagem passando a receber boa parte das receitas que eram destinadas ao Fundo de Tratamento de Esgoto (FTE).

Leia detalhes do Plano de Combate a Estiagem neste link: https://contraponto.digital/bauruense-ja-pagou-mais-de-r-160-milhoes-para-dae-resolver-falta-dagua-em-6-anos/ .

 No final de 2024, o CONTRAPONTO antecipou o projeto de instalação de 4 poços pulmão para socorrer a deficiência de produção na Captação da Lagoa do Batalha. As 4 unidades estão definidas para a região do Val de Palmas (alto da rua São Sebastião), com necessidade de interligação por adutora com o reservatório do Alto Paraíso. Leia sobre o projeto aqui: https://contraponto.digital/veja-por-que-a-zona-oeste-e-saida-para-mudar-o-plano-de-estiagem-e-socorrer-batalha/

O esgoto, por sinal, continua sem ser tratado. O fundo criado em meados de 2006, no governo Tuga Angerami, arrecadou centenas de milhões de Reais, desde então para realizar as obras necessárias. Mas o governo Rodrigo Agostinho, seguinte, contratou um projeto executivo ruim para a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) no Distrito Industrial. A obra está paralisada desde setembro de 2021, no governo Suéllen,

Entramos em 2025 com a prefeita reeleita apostando em um edital de concorrência (por notas e preço) para transferir a obrigação de concluir a ETE, fazer obras complementares no segmento, tratar e operar o sistema de esgoto por 30 anos. O edital também exige a construção de piscinões para drenagem de parte da bacia da Avenida Nações Unidas, instalar uma nova Estação de Tratamento de Água (ETE) e, ainda, custear o DAE em valor correspondente ao desconto que as empreiteiras interessadas venham a dar na tarifa de concessão.

Orçado em R$ 3,6 bilhões por estudo contratado junto a Fundação do Instituto de de Pesquisas Econômicas (Fipe), o edital vai ao crivo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ao Judiciário, em ações já anunciadas por mais de uma frente. 

O risco? A concorrência emperrar, a cidade não retomar a obra da ETE, atrasar ainda mais a urgente necessidade de tratar o esgoto e responder pela devolução de cerca de R$ 60 milhões ao Governo Federal. Sim! Bauru é a única cidade do País onde o cidadão paga por um serviço que não é entregue e ainda conta com a destinação de R$ 118 milhões, desde 2013 (governo Dilma Rousseff) e a fundo perdido (gratuita), para fazer a ETE principal.

A iluminação pública é o único dos três temas estruturantes pagos pelo cidadão em que há “luz”: o edital da concessão por PPP (Parceria Público Privada) está publicado e avança. O processo segue para o crivo das concorrentes, do mercado. Mas o fato é que o bauruense pode, ainda neste ano, ver mais de 58.444 pontos de iluminação de ruas, avenidas, praças e outros dispositivos urbanos receberem LED, com eficiência de luminosidade muito melhor e consumo cerca de 50% menor do que as obsoletas lâmpadas da CPFL (que também é concessionária).

A redução no consumo deve pagar a conta do investimento, em 25 anos. Ou seja, o projeto aposta que a arrecadação atual da Contribuição de Iluminação Pública (CIP) resolve. Leia detalhes do projeto da PPP da iluminação neste link: https://contraponto.digital/ppp-de-r-511-milhoes-para-iluminacao-propoe-telegestao-sistema-de-creditos-para-novas-instalacoes-e-projetos-especiais-em-3-avenidas/   

Asfalto – com galerias: demanda sempre prioritária. Quem anda na terra cobra. E dá voto. A prefeita disse a interlocutores que quer “fechar as ruas que faltam nos bairros”. Coerente a ação. Deixar “buracos” no meio de ruas pavimentadas destrói o que já tem. 

Mas precisa recurso. E o DAE arrumar a rede antes. Senão estoura tudo. Dinheiro? A prefeita já disse no Gabinete que não quer esperar. O plano é assinar financiamento. (leia mais abaixo).

ESQUELETOS URBANOS

Como toda cidade com quase 400 mil habitantes, segundo população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Bauru tem inúmeros esqueletos urbanos. Nome dado pelo CONTRAPONTO a obras inacabadas, prédios abandonados, equipamentos que não funcionam ou estão precários.

O desafio que se impõe neste item é que não é somente os criadouros de mosquitos transmissores da dengue, escorpiões, ratos, baratas e outros animais que se multiplicam nesses locais. Os anos geram novos esqueletos. Vamos ilustrar alguns exemplos que levantamos, por meses, na Série Esqueletos Urbanos: a Usina de Leite de Tibiriçá está instalada há anos, desde o governo Nilson Costa. Sem uso. A Usina de Resíduos da Construção ficou parada anos se uso, instalada também com verba federal. Agora (diz o termo assinado pelo Município em 2024) foi para a área da Cava (Jardim Chapadão) – para ser utilizada pela Associação dos Caçambeiros (Asten).

Mas o Sambódromo está deteriorado. A Estação Ferroviária (comprada por Rodrigo Agostinho) continua a espera de reforma (a prefeita Suéllen disse que vai fazer isso e levar algumas Secretarias para lá). O Palácio das Cerejeiras está caindo aos pedaços. O Predião do Hospital das Clínicas começou a ser utilizado (em parte, no campus da USP). Mas, entre os investimentos privados parados, o Predião Garagem continua em destaque, cravado no Centro. Enquanto que o esqueleto de cimento do mega projeto do Macksoud, ao menos, agora foi comprado pelo fundo inglês Rescue (que revelamos com exclusividade). O que não falta em Bauru é obra de vários andares inacabada.

OCIOSIDADE

A cidade também entra em 2025 com estudo na fase inicial custeado pelo Governo Federal (R$ 1,5 milhão) para apontar o que fazer com o pátio ferroviário. A prefeita aposta em trens leves sob trilhos (VLT).

Os galpões do antigo Instituto do Café (IBC) formam outro grupo de imóveis para o desafio potencial de investimento. Um grupo privado ocupa parcialmente o local como armazenamento, assim como alguns imóveis da ferrovia, no Centro. Mas a concessionária Rumo está com processo aberto para devolver vários imóveis à União (do contrato da Malha Oeste).

A Faculdade Anhanguera ofereceu à prefeita seu campus para abrigar a sede administrativa do governo (com aluguel de R$ 150 mil mensais). Suéllen Rosim recebeu o dono da faculdade. A Prefeitura ampliou o número de imóveis alugados, para várias Secretarias. E espalhou, ainda mais, o acesso do cidadão aos prédios.

O Prédio da ex-sede do INSS continua lá, no Centrão. As instalações do Centro Social Urbano da Bela Vista (CSU) não tem várias estruturas funcionando (como as piscinas).

PROJETOS DE PORTE

– A área com mais de 200 mil metros quadrados no Distrito Industrial II – que ficou parada nas mãos da Funcraf (fundação ligada a USP) por anos – pode, finalmente, abrigar investimento de ampliação industrial. Como adiantamos há semanas, a Mezzani (indústria de massa), Tilibra (papelaria) e Santisa (medicamentos) têm interesse lá.

– A Área do Distrito Industrial 5 (com mais de 2 milhões de metros quadrados) aguarda projeto. Zona de Processamento de Exportação (ZPE) ? – “sonhada” em Bauru por inúmeras gestões governamentais -, outro uso? O fato é que os Distritos Industriais aguardam investimentos.

– O Parque do Castelo tem projeto de instalação de Centro de Convenções na parede do titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Vai sair? A Sedecon, por sinal, foi abrigo de sete (7) secretários diferentes em apenas 4 anos…

– o Aeroclube (considerado por uma parte do mercado imobiliário a “joia da coroa”) continua sem ‘master plan’ para eventual concessão: atrair investidor privado para explorar a badalada faixa do aeroporto urbano que margeia a avenida Getúlio Vargas em troca de instalação de parque (de verdade) na parte com vegetação, pistas de caminhada e ciclismo…

– Saúde, Assistência Social, Emprego, Infraestrutura, Educação, Esportes, Cultura e Habitação Popular… são temas tratados em outra frente de reportagem.

FINANCIAMENTO

Por fim, especificamente em relação a investimentos físicos, ligados ou não a serviços, o Município de Bauru entra, no segundo mandato da prefeita Suéllen Rosim, sob a necessidade do governo buscar fonte externa de recursos para sustentar obras em recape, asfalto novo, microdrenagem e galerias de águas pluviais.

Apuramos que a prefeita Suéllen Rosim estuda a solicitação de financiamento (de porte) para uma segunda fase de investimentos nesta área. A discussão envolve expectativa de enviar proposta para aprovação do Legislativo logo no início do novo mandato, em fevereiro de 2025, com os 21 vereadores.

O ciclo de bonança na arrecadação se consolida sob os quatro anos do governo Suéllen Rosim. Mas os técnicos do governo não apostam que essa onda se manterá. De outro lado, o governo vai argumentar que a capacidade de endividamento diante da legislação tem folga (o que é fato).

Embora, de outro lado, a pressão seja significativa sobre rombos e despesas (a Emdurb está sucateada, a conta da previdência pública tem buraco mensal de R$ 5,3 milhões, a dívida da Cohab com o FGTS da Caixa em mais de R$ 470 milhões (neste momento) ainda não foi acertada e o funcionalismo tem na pirâmide salários baixos tanto na base operacional e quanto nas carreiras de especialistas).

Mas o caixa vai bem!

Nenhum outro governo municipal teve, seguidos, quatro anos de arrecadação bem acima do ano anterior. O ‘superávit’ somou R$ 114 milhões em 2021, R$ 252 milhões em 2022, R$ 45 milhões em 2023 e fecha 2024 com mais de R$ 150 milhões…

Acionamos Suéllen Rosim para dialogar sobre os desafios da cidade e do governo.  (foto divulgação)

 

 

 

4 comentários em “Bauru 2025: o novo governo e o desafio de projetos estruturantes”

  1. Eu incluiria outro item de suma importância para um cidade em crescimento, vias urbanas. Existem pontos de estrangulamento já evidentes que precisam de soluções. Por exemplo, o cruzamento das avenidas José Vicente Aiello e Comendador da Silva Marta

  2. José Xaides de Sampaio Alves

    Muito boa síntese. Não encontrei referência ainda sobre o andamento já contratado do Plano Diretor Participativo. Abç.

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