Caso Cohab, a AGENDA: secretária afirma ter pago passagens a políticos a mando de Gasparini

Entre os materiais apreendidos pelo Gaeco estão computadores, celular e agenda com anotações

Depoimento de secretária de Gasparini sobre anotações em agenda apreendida pelo Gaeco aponta pagamentos de viagens a agentes políticos

 

A apuração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Bauru chega à fase de depuração de documentos apreendidos ainda no final de 2019, na sede da Cohab-Bauru e nas residências dos investigados. Na lista – que tem arquivos de computador, e-mails, documentos, gravações e materiais de trabalho – está a AGENDA da secretária da presidência no período Gasparini.

Nela estão anotações de próprio punho de Olga Maria de Oliveira Mattosinho. Ela foi secretária da presidência, atuando na companhia de 1987 a março de 2020. Na AGENDA de trabalho, apreendida na Operação João de Barro, constam valores e nomes de agentes políticos.

Olga afirma que, indagada pelo Ministério Público (MP) a respeito deste conteúdo, “foram compras de passagens que o Gasparini na época pedia que eu fizesse. Essas são anotações em minha agenda. Não sabia a finalidade. Foi o que declarei ao Gaeco”.

Olga comenta que não quer e não tem envolvimento com o meio político e que prestou as informações, na condição de testemunha, por consciência. “Estavam anotadas em minha agenda e não sei a finalidade e porque foram compradas essas passagens. Foram compradas na agência Angela Aiello por determinação do Gasparini. Informei de consciência. Cumpri minha função como secretária e informei das anotações ao Gaeco”, complementa.

ATUALIZAÇÃO DOS NOMES:

O CONTRAPONTO apurou os demais nomes citados em depoimento da então secretária da Gasparini Júnior na Cohab Bauru ao MP. Olga Mattosinho informa sobre nomes da já revelada AGENDA (quatro nomes) e um quinto nome de agente político que está mencionado em email (cujo material também é objeto da apreensão pelo Gaeco).

RENATO PURINI: então líder do prefeito Rodrigo na Câmara, o nome do vereador aparece em email apresentado em depoimento de Olga Maria de Oliveira Mattosinho, relativo a viagem  paga por determinação de Gasparini Jr.

Purini disse que, em 2014, foi a Brasília, a convite de Gasparini, e o acompanhou em reunião de trabalho na Superintendência da Caixa Federal, no Jurídico. Participou, com o ex-presidente da Cohab, de reunião a respeito da situação das dívidas da Cohab e, no mesmo dia, retornou a Bauru.

WANDERLEI RODRIGUES JÚNIOR: assessor de Gabinete de Sandro Bussola, Júnior também está nas anotações realizadas por Olga Mattosinho, na Cohab, relativo a pagamento de viagem a pedido de Gasparini.

O assessor informa que se recorda de viagem em 2018 a Brasília, para encaminhar ações do parlamentar Sandro Bussola, para quem trabalha. Segundo Júnior, Sandro também iria, mas não pode comparecer. Ele menciona que, então, realizou a viagem e cumpriu os encaminhamentos de serviço parlamentar agendados. O assessor diz que recebeu as passagens via agência, mas não sabe quem pagou pela despesa.

PAULO: este nome está nas anotações. Mas não foi identificado, até este momento, de quem se trata.

DOCUMENTOS 

Nesta fase, enquanto a apuração central (o destino dos desvios dos R$ 54,7 milhões na boca do caixa por mais de 12 anos) caminha, a investigação tende a abrir anexos com informações relativas a agentes políticos.

A AGENDA é apenas um desses focos. O material, com milhares de documentos e itens apreendidos, caminha ponto a ponto. E-mails, gravações, imagens e conversas por celular estão, desde a origem, entre os conteúdos apreendidos.

Conforme o depoimento de Olga, ex-secretária de Gasparini, as anotações foram para pagar a compra de passagens aéreas em nome de Fábio Manfrinato e Sandro Bussola.

Sandro Bussola afirma que nunca viajou com dinheiro pago sob qualquer intermediação da Cohab-Bauru, ou Gasparini. O vereador disse que vai requisitar as passagens, datas e destino, para demonstrar que a informação prestada por Olga não  procede.

Manfrinato informa que fez duas viagens para Brasília para atuar em temas de seu mandato, como em agenda no Ministério da Saúde, causa animal. Em uma viagem, conta, o custeio da passagem foi realizado pelo governo atual, onde foi atendido.

“Algumas poucas vezes que estive em Brasília tive a felicidade de conseguir retorno político positivo pra Bauru. Solicitei a passagem ao governo atual e também ao meu deputado (Izar), pois era de extrema importância pública os assuntos tratados. Fui atendido”, informa Manfrinato, em nota.

Ele menciona que esteve em reuniões no Ministério da Saúde, “na eterna luta por leitos, verba pra mutirão de catarata, verba pra castramóvel e demandas necessárias pra Bauru, todas documentadas”.

Informado pela reportagem sobre os fatos e as afirmações prestadas, o prefeito Clodoaldo Gazzetta disse que “a Prefeitura não paga passagens de vereadores, pois são poderes distintos”. O prefeito adianta que vai tomar providências judiciais a respeito.

O ex-presidente Gasparini Júnior foi informado das declarações através de seus familiares. Se retornar, o conteúdo será incluído nesta reportagem de pronto.

EVOLUÇÃO DO CASO

O Contraponto apurou que a frente de investigações afunila, como era esperado, para a elucidação de informações envolvendo o destino dos R$ 54,7 milhões desviados por Gasparini Júnior, desde 2007, conforme revelamos no início deste ano, com exclusividade.

Apuramos que, após completar uma sequência de dezenas de depoimentos, os promotores atuam desdobrando o episódio entre os 4 acordos firmados com construtoras e o núcleo central (o desvio multimilionário e sequencial, com retiradas na boca do caixa que somaram, em média, R$ 400 mil mensais).

Após esta etapa, a apuração passou a buscar eventuais evidências para o destino do dinheiro. Conforme levantamos, também em reportagem exclusiva, foram obtidas novas apreensões, tanto de familiares dos Gasparini quanto através de informações prestadas, na última fase, por pessoas que trabalharam em propriedades rurais, incluindo arrendamentos, conforme ex-administrador rural.

Na fase final, conversas telefônicas entre agentes públicos e o cruzamento com datas, sequências de registros, fatos e movimentações do poder, passam a ser objeto específico de aprofundamento.

 

3 comentários em “Caso Cohab, a AGENDA: secretária afirma ter pago passagens a políticos a mando de Gasparini”

  1. Quem segurou o Gasparini lá, o fez por muito tempo e mostrou a força que tinha sobre os antecessores de Gazeta e sobre o próprio, aliás, este último mencionou forças ocultas, mas, não deu nome aos bois. Acho que passou da hora de abrir o BICO. Aguardaremos os próximos capítulos.

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