Se não chover os cerca de 140 mil bauruenses atendidos pelo rio Batalha não terão água na torneira. O cenário de curto prazo não vai mudar se o chão não molhar, e de forma consistente. Falta chuva, mas não falta dinheiro em caixa para as obras de curto prazo, emergenciais. Mesmo após acumulado de longo período de crise econômica e sanitária, o Departamento de Água e Esgoto (DAE) chega a setembro de 2021 com saldo na conta bancária de expressivos R$ 71,5 milhões.
Com dois presidentes no comando em apenas 8 meses de governo Suéllen (Flávia Souza até o final de março e Marcos Saraiva desde então), o DAE mantém rodízio iniciado em abril deste ano, com regras mais severas desde a última sexta-feira. Porém, embora os membros das diretorias já tenham convivido com outras crises por redução ab rupta nos níveis na Lagoa do Batalha, como a de 2014, os técnicos da autarquia não calibraram bem as manobras operacionais nos últimos dias, aprofundando o desabastecimento nas residências e comércios.
Na segunda-feira, apenas através de “live” pela rede social da prefeita, o presidente do DAE Marcos Saraiva falou, de forma sucinta, que seria necessário alterar o início de fechamento e abertura do sistema, no início da noite. Em resumo: a água não chega em parte dos bairros afetados pela escassez da Lagoa do Batalha.
Sem controle de pressão (monitoramento essencial para ajuste na operação), a lógica de abrir e fechar tubulações gera problemas com “ar na rede” (consumidores aumentam as queixas de conta mais cara e sem água na torneira).
CAIXA ‘BOMBANDO’
A bomba nova do poço Portugal pifou, mas o caixa da autarquia continua “bombando”.
O DAE tem reserva para atuar contra a crise hídrica, pelo menos em parte, desde os últimos anos, quando foi modificada a legislação para aumentar a fatia das receitas sem vinculação com obras do esgoto, retirando um “pedaço” da arrecadação do Fundo de Esgoto. De lá para cá, mesmo sem repor a inflação no valor da tarifa, o saldo em caixa tem se mantido alto.
Hoje, conforme dados oficiais do próprio DAE, há R$ 245 milhões em caixa, com crescente nas aplicações financeiras pela autarquia. Deste valor, o saldo em conta bancária fechou agosto com expressivos R$ 71,5 milhões.
E a situação vai ser ainda melhor até o final do ano. A presidência do DAE informou que retomou os cortes por inadimplência. Os devedores eram 3%, na média, até antes da pandemia. Índice que subiu a 13 … 14%, conforme o DAE, na crise. A retomada representa o retorno, mensal, de mais R$ 1,5 milhão no caixa.
A diretoria financeira do DAE argumenta que, do saldo em caixa, há compromissos já empenhados (despesas autorizadas) até o final do ano. Ainda assim, a sobra é de dezenas de milhões no caixa. Mesmo porque boa parte desses empenhos refletem provisionamentos do ano todo, que devem ser fracionados pelos 12 meses do ano.
Além disso, o DAE trouxe superávit do ano passado, também sem ter utilizado todo o volume do saldo herdado.
E a tarifa? O que consta é que sem água nas torneiras, com ar na rede e reclamação em alta, a prefeita vai “segurar” a decisão do aumento de 35%…. dezembro tem chuva!
POÇOS FECHADOS
Ainda na live de segunda, de cerca de 15 minutos, o presidente Marcos Saraiva anunciou que partiria para a abertura de poços inativos para minimizar o desabastecimento. Não disse quais poços, como será feita essa medida, qual a vazão (produção de água adicional possível)…
A assessoria de imprensa do DAE, como manda a cartilha do jornalismo, foi acionada ainda no início da tarde de segunda-feira para que essas informações fossem apresentadas. (e também na manhã e tarde de terça e nesta quarta-feira (29/09). Nada!
O único dado foi de que os poços fechados a serem reativados seriam o Consolação e o Nova Esperança. Desses, o primeiro atende ao sistema Batalha. O segundo, durante o tempo em que funcionou, não.
A presidência disse, a outro veículo, que em 15 dias vai contratar a limpeza desses dois poços. A opção (jurídica e operacional) não foi explicada. O CONTRAPONTO registrou junto ao presidente a postura anti-profissional em relação ao trato de comunicação, pendente desde segunda-feira.
NOVO POÇO PORTUGAL
E o novo poço da Praça Portugal, inaugurado com ‘banho de água’ na solenidade, há 30 dias? Nada! Fechado! E qual previsão para funcionar? Nada!
O presidente alegou, outro dia, que a bomba reformada que pifou (estourou o mancal, segundo o DAE) está pronta. Mas o poço não poderia voltar a operar porque a fiação de isolamento da unidade apresentou comprometimento. O DAE, e os cerca de 140 mil habitantes abastecidos pelo Batalha, aguardam que o fornecedor substitua o tal cabeamento.
Ah! Segundo o DAE, o novo poço Dom Infante, em construção perto do Bauru Shopping, também foi contratado com bomba reformada.
Se o poço Portugal, inaugurado em tempo recorde (obras em 78 dias), estivesse operando teria fornecido 79 milhões e 200 mil litros de água para um sistema com enorme deficiência, em apenas 30 dias.
LAGOA DO BATALHA?
Já que a presidência do DAE não prestou informações sobre as medidas paliativas citadas em live, desde segunda-feira, o CONTRAPONTO ouviu técnicos do DAE e ex-gestores da autarquia.
Um dos pontos mais citados é que, novamente, como em outras gestões, o desassoreamento da Lagoa do Batalha ainda não foi realizado.
Resumo dos demais retornos que obtivemos:
a citação vem sem consistência técnica;
faltam informações operacionais seguras que deem sustentação a retomar poços fechados há um bom tempo;
se a saída para minimizar eram esses poços inativos, por que não foram retomados desde abril, quando iniciou o rodízio?;
é preciso filmar o poço antes de limpar (procedimento técnico), para ver como está a situação;
é um ajuste jurídico complicado porque a emergência está com rodízio desde abril;
a crise hídrica era esperada, conhecida desde o início do ano e depende dos novos poços para reduzir o impacto, mas sem chuva não tem resultado a curto prazo; quais são as ações de fiscalização contra desperdício no período de crise?
DAE e sua incompetência crônica. Gestores pífios e agora mais um na coleção.
Dois protocolos de meses sem resolução:
1- Buraco de esgoto aberto no passeio público na quadra 10 da Comendador da Silva Martha.
2- Buraco aberto para conserto de vazamento de água na quadra 1 da Rua Evandro Ruivo no Estoril 3.
E não é por falta de dinheiro, é incompetência mesmo.
Necessitamos de transparência das ações para minimizar as angústias dos abastecidos pelo Rio Batalha. Para haver compreensão e colaboração existe a necessidade de clareza do que será feito e do prazo com que as soluções serão entregues á população.
Em uma cidade que tem em seu subsolo o Aquífero Guarani, considerado como sendo o maior reservatório de água doce do planeta, com uma área de 1,2 milhões de km², não falta água.
Agora que, pelo que afirma a reportagem não faltam recursos, o que falta é um planejamento com visão de longo prazo.
o problema do DAE nunca foi dinheiro e sim gestão, não tem gerenciamento e por agravante existem diversos grupos políticos formados por funcionários que “puxam sardinha” para seu lado, o resultado é a ineficiência dessa empresa,