Efeito Trump: quem é de verdade e quem é de mentira?

Por Gustavo Cândido

A recente posse do presidente norte-americano Donald Trump para seu segundo mandato foi marcada pela assinatura de diversas ordens executivas que têm gerado debates intensos. Entre as medidas adotadas, quero focar neste texto na revogação de programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) no governo federal e nas críticas contundentes às políticas ambientais e de governança corporativa conhecidas como ESG (Ambiental, Social e Governança).
Essas ações têm provocado reações variadas no mundo corporativo, com algumas empresas tentando ajustar suas políticas internas para alinhar-se às novas diretrizes governamentais. Entre elas estão nomes de peso como Meta, McDonald´s, Amazon e Walmart, que começaram a revisar ou até mesmo descontinuar seus programas de DEI.
A ordem executiva de Trump não apenas encerra iniciativas de diversidade no governo, mas também sugere que empresas privadas podem ser incentivadas a seguir o mesmo caminho, especialmente aquelas que mantêm contratos com o governo federal. Isso tem levado algumas corporações a reconsiderar suas estratégias de inclusão para evitar possíveis retaliações ou perda de contratos governamentais.
Mas e como fica a relação dessas empresas com os clientes, internos e externos? Ao mudar de posicionamento elas estão assumindo que – na verdade – só estavam fazendo “tipo” para não ficarem mal diante do público? Quem é de verdade e quem é de mentira nessa história?

O risco de mudar o alinhamento
Embora alinhar-se às novas diretrizes do governo americano possa parecer uma estratégia prudente a curto prazo, as empresas enfrentam riscos significativos ao adotar essa postura. A administração Trump tem um mandato de apenas quatro anos e ele não pode ser reeleito segundo a constituição americana. Ou seja, mudanças políticas futuras podem reverter as atuais diretrizes.
Empresas que abandonam suas políticas de DEI e ESG podem enfrentar desafios como:
Reputação da marca

– Consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas sociais e ambientais das empresas. O abandono de iniciativas de diversidade e sustentabilidade pode resultar em percepções negativas, afetando a lealdade do cliente e a imagem da marca.

Atração e retenção de talentos

– Ambientes de trabalho inclusivos são valorizados por profissionais talentosos. A redução de políticas de diversidade pode dificultar a atração e retenção de funcionários qualificados, especialmente entre as gerações mais jovens que valorizam a inclusão.

Riscos legais e regulatórios

– Embora a administração atual possa estar revertendo certas políticas, futuras administrações podem restabelecê-las ou introduzir novas regulamentações que promovam a diversidade e a sustentabilidade. Empresas que descontinuam essas iniciativas agora podem enfrentar desafios de conformidade no futuro.

Desempenho financeiro

– Estudos indicam que práticas sérias de ESG estão associadas a um melhor desempenho financeiro a longo prazo. Abandonar essas práticas pode impactar negativamente a lucratividade e o valor para os acionistas.

Quem é de verdade resiste
– Apesar das pressões, algumas empresas permanecem comprometidas com suas políticas de DEI e ESG. Por exemplo, a Costco – uma das maiores redes de varejo dos Estados Unidos – recentemente teve 98% de seus acionistas rejeitando uma proposta para abandonar suas políticas de diversidade, igualdade e inclusão, demonstrando um forte compromisso com esses valores, mesmo diante das mudanças políticas, como aponta um artigo do El País da última semana.
Na contramão de outras big techs, a Apple também defende manter suas políticas de diversidade, mesmo que parte dos acionistas estejam fazendo pressão para encerrá-las. Segundo a Exame, em 25 de fevereiro a empresa fará uma assembleia para decidir sobre o tema.

É preciso pensar bem antes de tomar decisões precipitadas
A decisão de alinhar-se ou resistir às novas diretrizes da administração Trump apresenta um dilema complexo para as empresas americanas (que em um mundo globalizado acabam refletindo em todos os mercados).
Embora possa haver incentivos a curto prazo para ajustar políticas internas – e agradar a Casa Branca – os riscos associados a longo prazo são significativos. Manter um compromisso com a diversidade, equidade, inclusão e sustentabilidade não é apenas uma questão de conformidade regulatória, mas também uma estratégia essencial para a resiliência e sucesso empresarial em um ambiente global dinâmico e em constante evolução.

Resumindo, o mundo não vai mudar só porque alguém assinou um papel. As diferenças entre as pessoas vão continuar existindo, as relações entre elas vão continuar acontecendo e dessa dinâmica outras mudanças surgirão. A vida evolui dessa maneira e a história é uma prova disso. Tentar atrasar a evolução é possível, mas é uma perda de tempo.

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