Em 100 dias de 2021, Covid é 3 vezes mais letal e falta mão de obra para UTI

Esta matéria é híbrida. Se você prefere em vídeo, veja a seguir entrevista de 9 minutos com o presidente da Famesp, médico Antonio Rugolo Jr., com avaliação sobre a pandemia, as projeções para a estabilização de casos e mortes e a dificuldade na contratação de médicos neste etapa: https://www.youtube.com/watch?v=_eSHuj7sggE

 

Mas se você quiser ver a entrevista e tem tempo para mais detalhes, trazemos, em texto, outras avaliações e dados. Tem informações sobre os serviços no Hospital Estadual (HE), com a diretora Deborah Cavalcanti, tem dados atualizados pelo infectologista e médico Fernando Monti para os 100 dias da Covid em Bauru e comparativo com 2020 e tem, ainda, informações complementares com o presidente da Famesp.

Vamos lá! Tem muita informação importante apurada pra você:

O oitavo andar do Hospital das Clínicas (HC) de Bauru, no Predião do campus da USP, enfim está com os equipamentos e instalações prontos para começar a atender pacientes graves de Covid-19. Contudo, depois de tanto tempo de espera por novos leitos durante os 100 dias deste ano sob lotação (colapso), o maior desafio para “por as UTIs” pra funcionar é com falta de mão de obra.

A Famesp, fundação contratada pelo Estado que administra os hospitais públicos em Bauru, abriu edital. “Para técnicos de enfermagem há dificuldade, mas ainda temos currículos pra avaliar. Mas para médicos nós tivemos que buscar profissionais de fora. Os que estão no mercado estão muito cansados e outros não querem atuar em UTI Covid pelo risco”, conta o presidente da gestora, Antonio Rugolo Jr.

A diretora do Hospital Estadual (HE), Deborah Cavalcanti, comenta que “vamos treinar as equipes e utilizar profissionais já capacitados que têm muita experiência com Covid para multiplicar o conhecimento sobre o protocolo”. Entre os insumos, os hospitais estão adotando novos protocolos (substituições de drogas) para suprir estoques baixos e contar com a aplicação que garanta funções como a de bloqueadores, por exemplo. Sedativos e bloqueadores preocupam mais, em razão da alta demanda.

Mas o HC, com os 10 leitos UTI Covid iniciais (que precisam começar a atender nesta semana – até 15/4 – por força de ordem judicial), não receberá casos complexos. “O laboratório é externo, a tomografia é externa. Vamos trazer pra cá pacientes que não precisem ou já contam com esses serviços”, completa. A partir desta etapa, a Prefeitura aguarda posição favorável do promotor Enilson Komono (Saúde) para mais 10 UTIs na outra ala do oitavo andar do HC. Mas, conforme a prefeita Suéllen Rosim, “fizemos este pedido mas para utilizar o recurso bloqueado judicialmente (R$ 17 milhões) para pagar as diárias. A Prefeitura vai pagar por 90 dias, ou enquanto durar a pandemia, essas 10 UTIs iniciais”.

Por enquanto, a energia está concentrada em evitar mortes, diante da letalidade que triplicou, na comparação com 2020 (veja abaixo). Em 100 dias de 2021, a estrutura da Famesp somente no Hospital Estadual (HE) registrou 300 mortes, contra 250 em todo o ano de 2020 (março a dezembro).

E na região? As internações diárias para a cobertura de 38 municípios da microrregião mais que dobraram. “Internamos 250 pacientes Covid por dia em 2020 e agora temos mais de 600 internações na área da Diretoria Regional (DRS-6) em um único dia”, conta Rugolo Jr.

QUANDO PARA?

Médico, Antonio Rugolo Jr. diz que há duas posições entre especialistas. Uma de que a pandemia só atingirá estabilidade no início de 2022 e outra no sentido de que o número de casos (e mortes) será bem menor em setembro, outubro deste ano. Mas isso depende da vacinação. “Até setembro, outubro temos de vacinar pelo menos 70% da população. A partir disso, creio que virá a estabilidade. A segunda onda de contágios e mortes em massa assustou a população, apesar dos abusos de alguns com festas clandestinas. Estamos estabilizados a partir de abril, mas com números ainda muito elevados”, avança.

OUTRAS DOENÇAS

Em 2020, em entrevista ao CONTRAPONTO, Rugolo Jr. advertiu que a demanda reprimida com o cancelamento de procedimentos especializados para socorrer a Covid, sobretudo cirurgias eletivas, ia dobrar a necessidade para este ano. Mas a pandemia não terminou, está pior, na verdade, nesta fase.

“No pós pandemia, com a segunda onda ainda pior que a primeira, as reduções de serviços e custeio, a demanda para outras patologias eletivas vai aumentar muito mais. Nesta fase, infelizmente, já haverão casos de óbitos pela falta de tratamento para doentes que tiveram de esperar. A fila que era de dois anos, agora vai para 4 anos. Muitas dessas pessoas não vão conseguir chegar até lá. A resolução no pós pandemia tem de passar urgente pela recuperação do financiamento do setor”, adverte.

LETALIDADE DA DOENÇA TRIPLICA EM BAURU  

O médico infectologista, ex-secretário de Saúde e professor universitário em São Carlos, Fernando Monti, apontou, aqui no CONTRAPONTO, que a Covid mata muito mais e com casos graves tomando conta do organismo humano em muito menor tempo.

No link a seguir, o infectologista atualizou a evolução dos casos (e de mortes). Veja, no comparativo mesmo com o período mais grave em 2020 (agosto em setembro), que a pandemia devastou vidas em apenas 100 dias deste ano. A taxa de letalidade da Covid saiu de algo em torno de 1,2 para 3,5 em Bauru. Basta verificar que, de março a dezembro de 2020 foram 299 óbitos registrados em razão da doença, e o total chegou a 646 mortes nesses primeiros 100 dias.

Os gráficos apresentados por Fernando Monti também mostram que em outubro de 2020 Bauru registrou 4.327 casos positivos, com 51 mortes, contra 4.701 casos em março deste ano, mas com 162 óbitos.

A última semana em Bauru foi a mais dura de toda a pandemia até aqui. Foram divulgados em boletim diário 57 mortes, do período entre 1 de abril (feriado) e a última sexta (9/4). A média de óbitos diários saltou para 6,3 registros neste início de abril.

VERBA DOS FUNDOS 

A prefeita Suéllen Rosim disse ao CONTRAPONTO, na entrega de equipamentos para as primeiras 10 UTIs Covid no HC, que não vai propor projeto de lei para utilizar recursos do Fundo de Esgoto (FTE) em ações da pandemia nesta fase.

Ela voltou a se reunir, há pouco tempo, com os promotores estaduais (Fernando Masseli Helene, Libório Nascimento e Luiz Eduardo Sciuli de Castro) e federal (Pedro Antonio de Oliveira Machado), para discutir a necessidade de utilizar verbas de fundos para despesas com a pandemia.

Em 2020, o governo Gazzetta recebeu R$ 42 milhões de socorro financeiro (só para recompor perda de receita) e mais cerca de R$ 24 milhões para bancar despesas específicas com assistência social e Saúde – Covid). “Neste ano não temos estes recursos e o Orçamento tem estimativas bem apertadas. E não havia a projeção de que a pandemia seria tão dura como agora, pior que o ano passado. Conversamos sobre a necessidade de utilizar verbas emergenciais para enfrentar a pandemia porque não existem outros recursos. Mas o Fundo do Esgoto não vou discutir agora. Seria uma última alternativa”, disse a prefeita.

O promotor Fernando Masseli Helene confirmou o encontro e resumiu: “os colegas da Promotoria fizeram várias ponderações e discutimos que a solicitação da prefeita exige a apresentação de estudo, com planilha de saldos disponíveis de todos os fundos, antes de entrar no FTE (esgoto). Ela ficou de fazer o levantamento e trazer”.

Pedro Machado, que também participa do grupo que acompanha os impasses nas obras da Estação de Tratamento de Esgoto (Distrito Industrial), posiciona que não vê chances de utilização de recursos depositados no fundo.

“A Prefeitura tem de antes de qualquer coisa concluir a obra da ETE, não deixar ela parar enquanto realiza nova licitação para o que falta e foi anunciado e, ainda, tem de garantir a operação e manutenção do sistema depois que ele for colocado em operação. Não terá esse tempo e nem essas ações resolvidas durante esta fase da pandemia”, resume Machado.

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