Por Claudia Zogheib
Nada mais importante para um ser humano do que o sentimento de estar cercado por alguém que o faça se sentir amparado.
O desamparo nasce com o nascimento, e para conseguirmos seguir adiante nas experiências emocionais e ao mesmo tempo corpóreas, precisamos de alguém que nos assegure a própria existência.
Wilfred Bion foi um psicanalista inglês que falava de continente e conteúdo como uma díade que pode ser entendida como o primeiro par de cuidador e bebê ou paciente e psicanalista, e se refere a capacidade de aprender com a experiência e na transformação do pensamento em um aparato para pensar.
O continente é o cuidador ou psicanalista que deve ser capaz de rêverie para promover o desenvolvimento do aparato psíquico, enquanto que o conteúdo é o bebê ou paciente que cresce junto com o cuidador na capacidade de tolerar a dúvida até que algum significado seja atribuído às emoções não processadas.
A rêverie para Bion pode ser descrita como um estado mental que permite a recepção de conteúdos e na capacidade de receber as identificações projetivas do bebê ou paciente, estando junto e permitindo que o continente receba, aceite, transforme e devolva ao bebê ou paciente a experiência emocional que ele ainda não consegue processar.
Para Bion, a identificação projetiva é uma maneira de comunicação tanto entre a mãe e o bebê quanto nas relações interpessoais, sendo um processo psíquico em que uma pessoa projeta aspectos de si mesma para dentro de outra pessoa passando a vivenciar o outro como se fosse parte de si, usada como forma de comunicação e defesa que estabelece uma relação primitiva capaz de promover mudança psíquica.
Bion construiu uma teoria do pensar considerando qualquer atividade como algo que é aprendido nas relações intersubjetivas e que depende da dinâmica de introjeção e projeção das representações mentais.
As nuances do trabalho de um psicanalista na experiência de um não saber, compreende um estado mental que o faz ser capaz de estar com seu paciente em sua própria existência, proporcionando a partir deste vínculo uma experiência emocional que será capaz de propiciar conhecimento e transformação.
Falar da teoria pode parecer simples e de fácil compreensão, mas na psicanálise precisamos entender que somente a teoria não é suficiente se não formos capazes de proporcionar ao paciente um espaço que seja suficiente para que ele consiga aprender a pensar sua própria vida a partir de suas associações e experiência emocional.
E para estar preparado, um psicanalista precisa de muitos, muitos anos de análise com um também psicanalista mais experiente que permita a travessia de seu próprio ego, alguns anos de supervisão, e eternos anos de estudo.
A autora
É psicóloga Clínica, psicanalista, especialista pela USP- SP
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