Filme manda alerta sobre Bauru dos rios empoçados e intensas ondas de calor

Nada é por acaso. Ou, no mínimo, há temas tão latentes em nosso desafio de retratar e compreender o mundo ao nosso redor que um filme traduz, acertadamente e sem coincidência, nossos desafios. Na semana em que Bauru (e o mundo do caldeirão urbano por ai) enfrenta uma onda de calor com temperaturas na estratosfera, tempo muito, muito seco, um filme (‘da hora’ e na hora) nos põe a pensar sobre a frigideira urbana em que nos metemos.

O curta-metragem documentário ‘Empoçados: os rios contam Bauru’ será exibido em dois festivais de cinema, em nível internacional e nacional. Dirigido por Liene Saddi e André Turtelli Poles, o filme oferece uma visão poética e educativa da história de Bauru, através da perspectiva de seus rios e córregos. O curta também explora os fatores que contribuíram para a crise hídrica na cidade e propõe reflexões e medidas de médio e longo prazo.

A estreia internacional está programada para este mês de setembro, durante o 5ª FICCTerra – Festival Itinerante de Cine Comunitario de la Tierra, e a estreia nacional ocorrerá em outubro próximo, no 31ª Ecocine – Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos.

O filme foi produzido pela Estúdio 2B, por meio do Edital Raízes do Cerrado, publicado em maio de 2022 pela Secretaria de Cultura de Bauru. A equipe técnica é composta inteiramente por profissionais locais, incluindo consultores históricos e ambientais.

A narrativa do documentário é conduzida pela performance da dançarina e coreógrafa Bel Droppa, com vozes das atrizes Andressa Francelino, Camila Oliveira, Juliana Ramos, Marina Fontanelli, Marisa Riso, Mariza Basso e Talita Neves dando voz aos rios e córregos de Bauru.

EXIBIÇÕES GRATUITAS
Ainda este semestre, o filme deverá circular no município, com exibições abertas e gratuitas à população em diversos espaços, incluindo parceria com o Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural de Bauru e Divisão de Museus e Memória. Para saber onde assistir, acompanhe a página do Plano Conjunto – Coletivo Audiovisual de Bauru (instagram.com/filmabauru).

 

NOSSA HISTÓRIA E ALERTA PELOS RIOS

‘Empoçados: os rios contam Bauru’ retrata o impacto ambiental da ocupação humana no território bauruense. A partir do ponto de vista dos rios, córregos e cursos d’água da região, são apresentadas as mudanças geológicas ocorridas desde a chegada dos homens brancos, incluindo a dizimação dos povos Kaingang e a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, o maior entroncamento ferroviário da América Latina.

RECORTES DA PRODUÇÃO

Os primeiros habitantes da região serviam-se das águas do Ribeirão Bauru e do Córrego das Flores – hoje canalizad sob a Avenida Nações Unidas.
Os primeiros habitantes do então povoado de Bauru, na época conhecido como município de Espírito Santo de Fortaleza, localizado na Serra dos Agudos, serviam-se, a partir de 1850, das águas do Ribeirão Bauru e do Córrego das Flores, que por sua vez foi canalizado posteriormente sob a atual Avenida Nações Unidas.
No início da década de 1920, objetivando melhorias no fornecimento de água em Bauru, os serviços foram concedidos pelo então prefeito Octávio Pinheiro Brisola à uma firma privada denominada “Barros, Oliva & Co. Ltd.” de São Paulo, para o aproveitamento do córrego da Vargem Limpa. Os serviços de abastecimento de água na cidade retornaram à municipalidade na ocasião de Getúlio Vargas na presidência devido às várias turbulências políticas da época (Revolução Constitucionalista de 1932).
Durante a gestão do prefeito Ernesto Monte (1938-1947) o abastecimento foi expandido no município, com novas ligações e encanamentos, além da utilização de poços artesianos da Companhia Antarctica Paulista e de caminhões-pipas nos momentos críticos de falta de água. Em 1942 o serviço de Captação de água da Vargem Limpa foi desativado, dando lugar à Captação do Rio Batalha e à Estação de Tratamento de Água, que atualmente produz aproximadamente 520 litros de água por segundo (DAE 2022).
Desde a da Lei nº 1.006, de 24 de dezembro de 1962, regulamentada pelo prefeito Irineu Bastos, a autarquia denominada Departamento de Água e Esgoto de Bauru (DAE) passou a ser o órgão municipal responsável por gerir, administrar e desenvolver os serviços públicos de água e esgoto na cidade. A primeira perfuração pública de poço profundo na cidade ocorreu em 1969, no mandato do prefeito Alcides Franciscato (1969- 1973), na Alameda do
Ipê, no Parque Vista Alegre, chamado de “Poço Garrafa”.

No ano seguinte (1970), foram inauguradas as novas Estações de Captação do Rio Batalha e de Tratamento de Água (ETA), em funcionamento até os nossos dias.

ILHAS DE CALOR

E as ilhas de calor e este caldeirão “infernal” que estamos enfrentando, exatamente nesta semana? Tudo a ver com o tema do Documentário.!

As ilhas de calor são um fenômeno causado pela intensa modificação do meio natural pela ação antrópica. Elas provocam o aumento da temperatura nas zonas centrais das cidades. Esse processo ocorre principalmente nos grandes centros, cujas áreas principais são marcadas pelo grande adensamento urbano e com poucas áreas verdes.

Suas causas estão relacionadas à modificação do meio natural, como a retirada da vegetação nativa e a impermeabilização do solo. A ocorrência das ilhas de calor acontece devido ao aumento das temperaturas das áreas centrais quando comparado às demais zonas das cidades.
Esse fenômeno gera consequências atreladas, sobretudo, à alteração do microclima. Em Bauru, alguns estudos apontam que o bauruense já convive com os efeitos do fenômeno das Ilhas de Calor. Em um estudo de Betachhi e Faria (2003), já apontava para os efeitos danosos das Ilhas de Calor em Bauru. No artigo em questão os autores revelam existir uma distribuição desigual da temperatura na cidade de Bauru, especialmente entre as periferias, mais frias, e as áreas centrais e mais urbanizadas, mais quentes.

O estudo deixa claro a existência destes fenômenos na cidade e reforça mais uma vez a importância das áreas urbanas verdes no controle da variação diurna da temperatura do ar na camada intraurbana.

Mas existem soluções para a crise hídrica de Bauru? A manutenção de remanescentes de cerrado, consideradas áreas de recarga de aquífero (Resolução SMA 07/2007) e a implantação maciça de áreas verdes e Parques Lineares poderiam ajudar a reduzir os danos da crise hídrica, indicam especialistas.
Apesar disso, Bauru sofre com Loteamentos que vem sendo implantados na região sul da cidade, aumentando tanto a demanda pelo uso da água, e contraditoriamente, aumentarão a impermeabilização e o aumento de fenômenos como as Ilhas de Calor e enchentes.

Cabe lembrar que é na região Sul da cidade de Bauru que encontra-se uma das suas principais áreas de mananciais. Não menos grave é o processo de ocupação por loteamentos nas demais regiões, especialmente leste e norte da cidade, com corte de vegetação e densa ocupação urbana.

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