Pontos iniciais para começar a entender a concessão de R$ 1 bilhão para ETEs e drenagem da Nações Unidas

A primeira concessão da história de Bauru, ao valor de R$ 1 bilhão e que resulta em operação privada proposta por 30 anos, merece a contribuição de todos os bauruenses. O CONTRAPONTO iniciou o debate. Não falte! Participe! A cidade é de todos!!

Abaixo, atualizamos os apontamentos iniciais, a partir da apresentação sintetizada realizada pela Fundação do Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), na sexta-feira.

A prefeita Suéllen Rosim apresentou aos vereadores as informações preliminares, resumidas, de conteúdo jurídico e econômic0 para proposta de concessão das 3 Estações de Esgoto (ETE) e todos os serviços complementares e drenagem da Nações Unidas para combater enchentes, com previsão inicial de custo R$ 969 milhões. A ideia de antecipar informações preliminares aos vereadores é positiva, mas destoa (e confronta) com a pressa solicitada pela prefeita para aprovar autorização em lei para a concessão (apenas 60 dias). O Executivo deve enviar projeto de lei para autorizar a concessão nesta segunda-feira (05/06/2023).

Vamos começar esta longa e necessária discussão?

 CUSTO das ETEs – A proposta indica R$ 502 milhões para concluir a ETE Distrito, reformar a do Gasparini, reconstruir a de Tibiriçá e realizar obras complementares no sistema de esgoto, inclusive ramais novos nas ruas.

Na reunião preliminar, a FIPE se apresentou com profissional do jurídico (consultor contratado) e economia. Tudo bem! Mas não veio alguém de engenharia. O bauruense quer saber, antes da cifra bilionária para a concessão, se a ETE vai funcionar.

A FIPE, – nem o DAE e nem a Secretaria de Obras –  (presente na reunião), não explicou o que representa o valor das demais obras de esgoto.

 1. Ou seja, deduzidos os R$ 227 milhões dos R$ 502 milhões informados para a ETE Distrito, a que se referem os R$ 275 milhões restantes?

Detalhar a composição de custo para licitação é elementar. Entender cada item que compõe os R$ 502 milhões apresentados é obrigação do Executivo e da empresa contratada, a FIPE.

Tão importante como saber (e entender) o custo de R$ 227 milhões para a ETE principal é decifrar os R$ 275 milhões restantes. E saber estimativa para as duas ETEs incluídas na concessão: Gasparini eTibiriçá. É muito dinheiro a mais para o item esgoto… E não explicaram nada na reunião, reclamaram vários vereadores!!!!

Salta aos olhos esta diferença e a não explicação sobre a composição. 

2. Como  se chegou ao valor de R$ 227 milhões para concluir a ETE Distrito? E as duas adicionais (Gasparini e Tibiriçá?

É preciso, por óbvio, detalhar a composição de cálculo de cada unidade. A do Distrito tem mais de 700 fissuras, quase 70 bombas, inúmeros sopradores, precisa de usina para tratar e destinar o lodo final do esgoto e de outra usina para receber energia de alta tensão (essencial para redução do custo de manutenção na operação).

A proposta terceiriza boa parte do DAE. Sem juízo preliminar sobre esta decisão, o governo Suéllen não enfrentou esta discussão até agora. E tem de faze-lo. Como adiantamos no CONTRAPONTO, isso inclui retirar todas as atribuições de esgoto do DAE, que cuidaria do abastecimento de àgua – poços, redes, reservatórios e ETA.

Veja. A ETE Distrito foi licitada  R$ 129,9 milhões em 2015. Mesmo sem contabilizar os inúmeros prejuízos por atrasos e “devaneios” na obra, o Executivo traz que foram utilizados pouco mais de R$ 105 milhões (sem correção) nas instalações (até setembro de 2021, quando o contrato com a COM Engenharia foi rescindido).

Assim, elementar – como ponto de partida para o debate da pretendida concessão – informar a composição informada para a concessão, por unidade.

3. O cronograma para a discussão e aprovação da lei que autorize concessão desse porte tem de ser compatível com a complexidade, prazo e valor da operação. Bauru nunca fez concessão. Muito menos de R$ 1 bilhão! O prazo de 60 dias (já contado junho) indicado pela prefeita é completamente incompatível com o tamanho do negócio, a responsabilidade envolvida, o prazo de 30 anos para o contrato e seus efeitos.

A aprovação da concessão antecede a definição das regras principais da maior e primeira concessão da história. A prefeita terá de ser muito, mas muito clara, na eliminação de dúvidas naturais para ação desse porte e por 30 anos, detalhar valores, regras jurídicas e de solução de engenharia.

Senão não avança. Em 60 dias, como dito na reunião de sexta-feira, nem pensar! Não é opinião nossa. É da cidade.

Argumentamos com a prefeita que ela assumiu em 1 de janeiro de 2021. Naquele mesmo janeiro, afoita, anunciou que concluiria a obra até outubro do primeiro ano de gestão. Sem qualquer embasamento para o anunciado. Em setembro de 2021, rescindiu o contrato com a empreiteira COM Engenharia.

Aliás, depois disso, indagada pelo CONTRAPONTO sobre a necessidade da conclusão da ETE atrair investidor apenas por concessão, Suéllen Rosim rejeitou a alternativa. Além disso, o governo municipal demorou 1 ano para contratar a FIPE para consultoria.

Ou seja, decisões do porte desejado, de fato, demandam muito diálogo, estudo…

4. A proposta de concessão transfere a gestão da receita do DAE também para futuro concessionário. Quais as bases, projeções, dessa medida para o aumento de receita para o investidor?

Ou seja, a proposta desenhada pela Fipe na sexta-feira vai além: transfere a gestão do recebimento de receitas do DAE, incluindo leitura, troca de hidrômetros, para o futuro concessionário.

O raciocínio é de que o investidor quer ter garantia de que receberá pelo investimento. Esperado este raciocínio. O presidente do DAE, Leandro Joaquim, não foi claro ao ser indagado sobre isso. Precisar informar, detalhar.

Abaixo tratamos do efeito do índice de perdas sobre o faturamento.

5. Sustentar os estudos de inadimplência e aumento de receitas diante da concessão? 

O acréscimo de receita de R$ 15 milhões/ano indicado pela FIPE na reunião é frágil. A fundação projeta queda de inadimplência para 4%, em alguns anos. Mas o histórico de inadimplência do DAE, até a pandemia, já girou entre 3 a 4%. A elevação para algo em torno de 13% de não pagadores se deu porque, na Covid, a autarquia deixou de realizar cortes nas ligações de água.

Será fundamental, de outro lado, apresentar simulação de acréscimo de receita capaz de sustentar as despesas previstas na concessão (de R$ 1 bilhão) no tempo.

A troca de hidrômetros, gestão comercial, e leitura dos consumos (informada que passam para o concessionário) projetam aumento de receita de quanto por ano? São 100 mil hidrômetros, com sistema eletrônico de leitura. A R$ 200,00 cada dispositivo, um investimento de R$ 20 milhões.

O DAE já está obtendo aumento de receita com troca de hidrômetros. Terá muito mais com essa medida.

O DAE fechou maio de 2023 com 150.906 ligações de água (ativas e inativas), das quais 130.679 são residenciais, 15.328 são comerciais, 1.148 são comerciais e 2.962 mistas. A troca projetada de 100 mil hidrômetros vai resultar em qual aumento de receita?

6 – Como fica o cronograma-físico financeiro assinado o ano passado entre o DAE e a Promotoria para custear os investimentos do Plano Diretor de Águas (PDA)?

O plano de concessão tem de ser sustentável para os compromissos igualmente essenciais já firmados, como o Termo de Compromisso (TAC) anunciado o ano passado pelo DAE junto à Promotoria. A conta fecha?

7 – Antecipar no debate quais serão as receitas acessórias oferecidas ao concessionário (e sob quais referenciais) é básico. 

Sem calcular, esmiuçar, as despesas para as obras que faltam será ainda mais difícil adentrar na discussão sobre as receitas acessórias que a concessionária poderá obter. O subproduto do tratamento do lodo (adubo) poderá ser vendido pela empresa?

Quais outras receitas (por isso acessórias) poderão advir da concessão?

DETALHAMENTO

Além do detalhamento de valores e regras para a maior concessão da história, o governo de Bauru tem a obrigação de ser claro (e técnico) em todos os pontos. A prefeita se dispôs a abrir todas as informações. Na sexta-feira, foi uma prévia. Importante, mas com dados superficiais.

O CONTRAPONTO, mesmo no final de uma reunião de 4 horas, iniciou sua contribuição ao diálogo.

8. O sucesso do custeio da concessão depende da eficiência do DAE na redução dos vazamentos. Como isso se dará?

Nesta fórmula trazida pela Fipe o concessionário dependerá da eficiência do DAE em reduzir vazamentos. Ou seja: a conta da Fipe é incerta também neste item porque está atrelada apenas à diferença entre o que o DAE emite de cobrança e o que fatura, mas sem considerar o alto índice de vazamentos na rede. Questionamos isso na reunião.

Ou seja, o dado considerado de perdas físicas (de 16,34%) não inclui as perdas operacionais (vazamentos e etc). Segundo Tadeu Alves, economista da FIPE, isso pode mudar. Este item impacta de forma significativa nos dados!!

Pedimos à FIPE que na apresentação formal da concessão revise o índice de perdas (que entre os vazamentos e não faturamento supera a absurdos 47%) e traga comparativo de custo de tarifa e consumo de Bauru com cidades do mesmo porte, como Piracicaba e Franca.

Também sugerimos que a planilha simule comparação para consumo mensal de água de 20m3 – que representa mais da metade dos consumos em Bauru.

A proposta da FIPE é que a tarifa de esgoto passe a 90% do valor do consumo de água a partir do quarto ano (ou seja, com a ETE concluída).

9. Qual o custo de operação – manutenção do sistema (Opex) pelo prazo de 30 anos?

Não foi realizada menção a respeito do custo operacional do sistema. Reiteramos: compreendemos que foi uma reunião inicial. E por isso mesmo anotamos mais este essencial detalhamento para a compreensão do vultoso projeto proposto.

10. Qual o custo e papel da agência reguladora na fixação da remuneração ao concessionária e controle dos índices de eficiência do sistema?

Outro ponto. Na concessão, o valor da tarifa exige a existência de uma agência reguladora. Ela é quem ditará as regras do valor a ser pago pelo contribuinte. Hoje, o DAE controla a tarifa e a Prefeitura decide.

11. O custo apresentado para a drenagem na Nações Unidas merece discussão em separado, dada sua especificidade (de engenharia, composição de custo e realização) e para não atrapalhar os inúmeros itens relacionados a esgoto.

Não compareceu engenheiro da FIPE à reunião de sexta-feira. Os valores, dados, foram informados com base no que o DAE disse, segundo a fundação. Curioso que o comando da Secretaria de Obras estava presente. Mas nenhuma frase foi dita. E drenagem é com a pasta. E não o DAE. Aliás, o contrato da ETE Distrito também…

Ou seja, segundo o informado, outros R$ 467 milhões custariam a drenagem da Nações Unidas, com piscinões e rede. Embora concluir a ETE seja prioridade, o custo da drenagem dado pela FIPE faz mais sentido. Porque tem projeto preliminar contratado pelo governo passado. A FIPE calculou em cima disso. Mas sem detalhar, também não dá.

12. Explicar o sistema de contrapartida. Ou seja, o valor que o Município quer cobrar do investidor no leilão. E qual a TIR considerada?

A proposta é de que quem vencer o leilão a ser ofertado na Bolsa de Valores (B3) conclua a ETE do Distrito em 3 anos e realize as obras de drenagem na Nações Unidas em até seis anos do início do contrato.

E o Município quer cobrar contrapartida. Pode ser (não foi explicado isso) que a proposta seja que o concessionário utilize os R$ 200 milhões no caixa do Fundo de Tratamento de Esgoto (FTE), desde o início, e depois pague um valor substancial para o Município (contrapartida).

Este item merece natural detalhamento. Ele compõe custo substancial no contrato. De outro lado, Bauru tem a seu favor o caixa do fundo. Quanto isso pesará na redução do custo ou na atração de investidor? Será… ?

Taxa Interna de Retorno (TIR) é quanto o concessionário projeta de lucro, independentemente dos ganhos com redução de despesa e receitas acessórias que possa conquistar.

DEBATE

O debate está apenas começando. E o governo, enfim, cumpre seu papel de por à mesa a proposta. Há inúmeros apontamentos a observar e fala de vereadores. Vamos detalhar em outra matéria.

Mas Suéllen defendeu, em entrevista, que a autorização para a concessão seja feita em apenas 60 dias.

Ah. O edital terá de ser robusto o suficiente para tentar evitar que uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) apareça de olho somente na oportunidade bilionária próxima da eleição de 2024.

Tem muita coisa pra detalhar. A reunião preliminar é um alento…

Até a próxima matéria detalhada.

 

 

6 comentários em “Pontos iniciais para começar a entender a concessão de R$ 1 bilhão para ETEs e drenagem da Nações Unidas”

  1. Coaracy Antonio Domingues

    Agência Reguladora ? Pelo Marco do Saneamento, TEM que ser uma EXISTENTE….Escolher entre as mais próximas, SAENJA-JAÚ ou DAEA-ARACATUBA. ou qual ? TUDO que começa errado….A FIPE não tem experiência comprovada em CONCESSÃO de ÁGUA E ESGOTO, E DE SISTEMAS DE DRENAGEM, O BNDES, TEM !

  2. O DAE é a ” agência reguladora do município” tem profissionais da área técnica para fiscalizar e gerenciar o serviço.
    Porque o DAE não pode fatiar essa concessão e ser o gestor dos contratos?
    Porque tem que acontecer tudo no gabinete como acontece em municípios com menos de 100 mil habitantes?
    Nosso município precisa aprender a delegar, fiscalizar, exigir e fazer bem feito.

  3. J.F.DA SILVA LOPES

    Finalmente uma pequena vela acessa no fim de um long…………..o e lastimável túnel. Apresentação, discussão elevada, seriedade, competência, transparência e espirito público coletivo são condições essenciais para superar os erros desastrosos cometidos irresponsavelmente por maus gestores públicos desde então. Pode publicar.

  4. Parabens pela materia, incio de uma discução de ideias e posicionametos, acho que as maiores preocupações deve ser analisadas, nas contrapartidas, na gestão e controle da arrecadação e ainda o saldo existente, tanto do FTE (caixa federal), bem como saldo existente no caixa do DAE. reflexão …

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