Gravidez na adolescência: Jaraguá, Pousada e Edwirges têm o dobro de casos de outros bairros

 

Enquanto no Estado de São Paulo os registros de gravidez entre crianças e adolescentes, de 10 a 14 anos, caíram 62,3% de 1998 a 2020, em Bauru as estatísticas mantiveram a média elevada de mais de 340 casos por ano, até 2020. Como em outros municípios, a incidência está concentrada em bairros mais populosos da periferia da cidade.

Em Bauru, o Parque Jaraguá lidera assustadoramente o número de casos, seguido da Pousada da Esperança e Parque Santa Edwirges. Apenas nestas três localidades que integram as “bordas urbanas” ao Norte e Oeste, o número de adolescentes que geraram filhos é mais do dobro do que em outros bairros.

O diagnóstico foi apresentado e discutido em audiência pública comandada pela vereadora Chiara Ranieri, nesta quarta-feira (11/05), no plenário do Legislativo. Mãe de duas meninas e com atuação em instituição de ensino, a parlamentar já havia alertado para a elevada incidência de casos na cidade, sobretudo no comparativo estadual.

A coordenadora do Programa de Saúde para o Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde, a especialista Albertina Duarte, ratificou que a existência de integração e atualização das ações dirigidas no setor foram essenciais para que o número de registros caísse 62,3%, de 1998 a 2020 em São Paulo.

Em Bauru, os dados robustos, tabulados pela assessoria parlamentar de Chiara Ranieri a partir de informações oficiais, indicam tendência de queda em 2021. Mas, dada a dimensão da problemática que envolve a vida de meninas e meninos, pais e filhos precoces sem suporte multissetorial, o “diagnóstico” da audiência pública é de que temos muito mais a fazer do que considerar que estamos no caminho certo.

Longe disso. Infelizmente, profissionais que atuam em serviços públicos nas áreas de Saúde, Assistência Social e Educação do Município indicam que os esforços esbarram na falta de ações integradas, ausência de comunicação setorial e distanciamento intragovernamental, da prevenção ao acompanhamento falho às mães-meninas e filhos. Além disso, faltam equipes.

Não fosse essa realidade suficiente para reforçar o alerta pela urgência na política pública para adolescentes, descendentes e familiares na periferia, a participação da Educação (do Município e do Estado) ainda persiste na limitação da abordagem “biológica e de informação básica sobre prevenção”, no currículo de ensino.

“CAMISINHA FURADA”

Como escreveu a especialista Albertina Duarte, em nível de doutorado sobre o tema, “a ação da prevenção ao acompanhamento é multissetorial e, na essência, exige considerar que o profissional que atua neste desafio da gravidez na adolescência consiga tocar na ansiedade e medos do adolescente para que a prevenção tenha êxito”. 

As repetidas abordagens em torno das inseguranças e vulnerabilidades emocionais próprias da adolescência precisam romper o simplismo das necessárias mais limitadas orientações sobre métodos contraceptivos e avançar na compreensão dos desafios da busca da autoestima e autoimagem entre os jovens.

“Conhecer e usar métodos que evitem a gravidez é óbvio, mas a distância está em não ter ações especializadas que alcancem eficácia na perspectiva de como agir com a insegurança desse público. O menino tem receio de pedir e medo de usar a camisinha. E a menina medo de não satisfazer, de frustrar. Um tem medo de falhar e o outro medo de não agradar na experiência sexual. E uma palestra ou orientação do método não resolvem este desafio essencial”, avança Albertina, doutora e autora de livro ao atuar por anos nesta questão.

O Estado acena com a criação da Casa do Adolescente em Bauru. Se for para as portas integrarem meninas, meninos, filhos e filhas, pais e profissionais das diferentes secretarias ligadas ao tema, que as paredes sejam levantadas para “abrigar”…

NÃO SE CONVERSAM

Chiara Ranieri abordou que a audiência pública explicitou que “os setores da ação pública não se conversam sobre o tema. É um duplo obstáculo, porque sem as ações integradas e dirigidas é ainda maior a distância em relação ao segundo e fundamental desafio: atuar com políticas públicas que consigam mergulhar no problema antes da ocorrência e depois que a gravidez é conhecida. Temos gerações desassistidas e a reunião ratificou que estamos muito longe de conseguir atender a este grave problema de saúde pública, educacional, cultural, social e econômico”.

Diretor de Saúde Coletiva no Município, Ezequiel Santos, apontou as ações permanentes em educação e orientação e serviços de acompanhamento da gestão às demais fases. Mas, a exemplo da apresentação da diretora da Sebes, Rose Orlato, mencionou os desafios por ações integradas e carência de equipes.

Os Conselhos Tutelares referendaram o abismo no segmento. Casemiro Pinto apontou deficiências em notificações, acompanhamento e ações desde os registros. Kelly Correia, também coordenadora tutelar, definiu “que os programas são dispersos e não funcionam. Além disso, crianças de 12 a 14 anos dão ainda mais dramaticidade à realidade”.

E a despeito de qualquer outro encaminhamento, alertam: “abrir mais Conselhos Tutelares não resolve e será somente o sintoma e não a solução. As equipes e ações desde a prevenção são poucas e é preciso agir nesta origem”, finalizam.

Ezequiel Santos fala das ações da Saúde Municipal na audiência presidida por Chiara Ranieri, acompanhada da assessoria e por Estela Almagro

POR BAIRRO

Veja no quadro a seguir que reuniu dados consolidados pela assessoria de Chiara Ranieri que – além do recorte da linha férrea, a partir da Vila Falcão – Parque Jaraguá e Santa Edwirges disparam em número de casos do histórico dos últimos 4 anos, mesmo com a redução verificada no ano passado.

Da mesma forma, na outra borda da cidade, Pousada da Esperança e Mary Dota também apresentam números bem acima de outros bairros, entre os 15 maiores identificados abaixo.

A gravidez na adolescência não recua a partir da maior ou menor presença, por exemplo, de templos religiosos ou não nos bairros. E eles são muitos, de várias denominações.

A incidência também não arrefece a partir da existência ou não de CREA ou CRAS (unidades da Assistência Social) ou de programas esparsos ou físicos da Saúde (como Unidades de Saúde da Família – que são poucas em Bauru).

A distribuição de registros pode até suscitar apontamento na direção de prevalência relacionada ao Carnaval, em fevereiro, mas a manutenção da média de ocorrências durante vários meses do ano indica, conforme especialistas, que a gravidez na adolescência suplanta rótulos (de natureza religiosa ou conservadora) e impõe desafios.

SETORIZAÇÃO

A setorização contribui para demonstrar que a adoção de ações permanentes e integradas, intragovernamentais, terão de destacar o setor 5 da cidade, região que inclui do Jaraguá à Nova Esperança, do Edwirges aos bairros próximos da Av. Elias Miguel Maluf e rodovia Bauru-Marília. 29.89% dos registros estão nesta região de Bauru.

Os setores, conforme o mapa acima, correspondem às 12 regiões administrativas da cidade definidas na lei do Plano Diretor em vigência.

2 comentários em “Gravidez na adolescência: Jaraguá, Pousada e Edwirges têm o dobro de casos de outros bairros”

  1. precisa de educação familiar, de casa, de berço, onde estão os pais que não orientam esse meninos e meninas ? no mínimo esses pais estão escutando funk com letras do tipo “senta senta senta” ou “eu tô viciada em mexer a raba”, pra não falar besteiras cabeludas, GERAÇÃO ANITTA, está ai o resultado ! BEM FEITO ! agora, será que o estado é responsável pela gravidez ?

  2. Nilza Aparecida Godoy Bueno

    Eu tive meus filhos precocemente, a primeira aos dezesseis anos e o caçula aos dezenove. Só que a 40 anos atrás, onde se era tabu falar em camisinha ou outras coisas. Hoje está tudo explícito demais. Os pais já não têm controle sobre os filhos, nas escolas, professores não têm mais autoridade. Fui criada só por minha mãe, sem a presença de um pai, mas eram épocas diferentes. Hoje criança de dez anos mandam nos adultos e o conselho tutelar , em alguns casos, da autoridade para as crianças e desautoriza os pais.

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