COLUNA CANDEEIRO 25092020 NELSON ITABERÁ

N. 550 PL da concessão do lixo é inconstitucional para procurador da Câmara. Apuração de serviços irregulares do MP na Acaê põe em xeque fiscalização da Secretaria de Assistência Social

SERVIDORES

Como adiantamos na semana passada, servidores de diferentes setores do Município reagem a medida adotada pela prefeita Suéllen de determinar a adoção das medidas que tornam mais difícil a aposentadoria junto à Funprev. Servidores foram ao Legislativo hoje para registrar rejeição à proposta.

A vereadora Estela Almagro retomou que realizou diversas audiências públicas e iniciou 2025 com o tema. Mas o Executivo não apresentou alternativas. “Estamos no final do ano e esse assunto vai ser debatido com calma e no tempo adequado”, alertou.

Assim, ao apresentar, de novo, projetos de porte, aos 45 minutos do segundo tema, o governo municipal pode ter vários deles esperando fevereiro chegar.

No bastidor, contudo, o governo claramente quer (ou está de olho) no financiamento e na concessão de lixo … Plano Diretor, lei de zoneamento, previdência… é pauta dura. Mas …

CONCESSÃO do LIXO

O relator do projeto de lei do pedido de autorização da prefeita para realizar a concessão do lixo, André Maldonado, recebeu o tal pen drive da secretária municipal Cilene Bordezan, com o que diz ser o estudo técnico, jurídico e econômico do projeto (que ela diz que fez e a Fipe só assinou).

Maldonado também recebeu parecer da consultoria jurídica do Legislativo sobre o PL. E, de cara, o governo já tem o primeiro embate sobre a proposta. Para o procurador Renato Chinali Canarin, o PL é inconstitucional por misturar “alhos com bugalhos”. Vamos lá ao teor técnico:

O primeiro ponto é que, no parecer, está que o “Projeto de Lei autorizativo de parceria público-privada incorre em uma incoerência lógica, já que prevê, como fonte de custeio, a instituição de uma tarifa, que seria cobrada pelo Executivo, para fazer frente às despesas, o que acaba por mesclar os institutos da concessão patrocinada e da concessão administrativa (duas formas distintas para esse tipo de contrato)”.
Afinal, a concessão patrocinada é aquela em que o parceiro público remunera o concessionário através de contraprestação pecuniária (valor definido em contato), além de instituir tarifa a ser cobrada dos usuários do serviço concedido. E a concessão administrativa é aquela em que a própria Administração Pública é a usuária direta ou indireta da prestação dos serviços. “A instituição de tarifa, como mecanismo de remuneração de uma concessão administrativa, gera o risco de se entender que se trabalha, em verdade, com um terceiro tipo de parceria público-privada, inexistente no regramento geral, e que, por consequência, não seria juridicamente admissível”.

MISTURA

O governo municipal já tinha ouvido sobre o risco de se incluir “jabuti” (como se fala no meio político) na PPP. A proposta, como revelamos, cria tarifa de lixo para pagar pelos serviços da coleta domiciliar, mas também gera obrigações no Orçamento Anual (LOA) e PPA para custear serviços adicionais: desde desentupir boca de lobo a lavar monumentos públicos.

O parecer jurídico lembra a definição das duas formas de “remunerar” contratos pelo setor público. “Importa destacar que a tarifa para a remuneração de serviços públicos é o preço público cobrado do usuário pela prestação de um serviço, diferenciando-se da taxa por ser de natureza contratual e voluntária, enquanto a taxa é tributo, vinculado e obrigatório, em face de serviço público divisível, efetivamente prestado ou colocado à disposição”. Dito isso, o procurador aponta o erro no projeto, em sua visão:

“Juridicamente não parece adequada a previsão conjunta, no âmbito deste Projeto de Lei, de instituição de tarifa pelo Poder Executivo, que servirá para a remuneração do parceiro privado, embora não seja por ele cobrada. E tarifa essa que não está automaticamente instituída com a aprovação do presente Projeto, parecendo ser, em verdade, uma forma indireta de instituir-se uma parceria público privada híbrida, ilegal, em que se pretende criar uma concessão administrativa, remunerada pelo Poder Público, mas que se efetivará principalmente com a criação de uma tarifa, o que configuraria, pelas suas características, uma concessão patrocinada”, opina.

CONTRATO em BRANCO

O parecer, que será submetido à Comissão de Justiça do Legislativo, traz outro ponto importante. O PL de Suéllen traz uma frase solta que, na prática, gera amplos poderes para estabelecer regras para a concessão e disciplinar medidas. E tudo o mais por decreto!

“O artigo 15, que dispõe que “Fica o Poder Executivo autorizado a praticar todos os atos necessários que se fizerem necessários para a efetivação do disposto nesta Lei“, ele tem senos indicativos de inconstitucionalidade material, pela desproporcionalidade da disposição, de caráter extremamente amplo, considerando-se que a Administração Pública é regida pelo princípio da estrita legalidade, apenas podendo agir na conformidade do quanto dispõe a Lei.
Em assim sendo, uma “carta em branco” ao Poder Executivo para efetivar tudo o quanto seja necessário, por autorização legislativa, viola o princípio da separação de poderes.

ENTIDADE ACAÊ

Os vereadores Arnaldo Ribeiro e Natalino da Pousada mostraram preocupação em relação a apuração aberta pelo Ministério Público Estadual sobre possíveis irregularidades na prestação dos serviços e fiscalização de cumprimento de contrato firmado entre a Prefeitura e a entidade Acaê. O tema foi manchete do Jornal da Cidade na edição do final de semana.

Em síntese, há contestações na qualidade dos serviços de convivência e fortalecimento de vínculos prestado pela Associação Comunidade em Ação Êxodo – da oferta de alimentos deficiente em nutrientes – ao controle e prestação de contas dos contratos. A entidade reage que só vai se pronunciar após a apuração e, de pronto, reclama que os valores pagos por pessoa assistida é defasado.

Crianças estariam recebendo refeições sem proteína. De outro lado, haveria divergência entre o número de atendidos informado em relatórios (aceitos pelo Município) e a presença real de pessoas nas atividades.

PRESTAÇÃO DE CONTAS 

A Secretaria de Assistência Social também está sob o foco do MP. O governo não tem contingente e rotina de fiscalização adequados ao número de contratos, serviços e atendidos – que tiveram crescimento vertiginoso nos últimos anos. Aliás, está anotado em manifestação do promotor de Justiça, Lucas Pimentel, na abertura do inquérito civil, que a Secretaria Municipal de Assistência admite fragilidade na inspeção. O inquérito foi instaurado ainda em junho deste ano.

Desde 2024, em seminário em Bauru, publicamos aqui que o Tribunal de Contas do Estado alertava aos Municípios que a “bola da vez” era o Terceiro Setor. Tanto pelo aumento de contratos e repasses, quanto pela fragilidade na fiscalização e controle. O Poder Público terceiriza em várias frentes, mas não mostra, em inúmeros casos, capacidade de gestão e fiscalização sobre o serviço realizado, na ponta.

A lei aprovada, neste ano, pelo vereador Arnaldo Ribeiro trata exatamente deste ponto. Exige prestação de contas em várias frentes, de folha de pagamento ao custeio. E várias entidades reagiram contra a iniciativa. Pareceu, para alguns, que a medida veio por causa do caso Apae. Não! Há descontrole, falta de informação, protocolos, monitoramento e prestação de contas ruim de vários contratos no segmento. Em Bauru e em outras cidades.

Hoje, na sessão de segunda-feira, Arnaldinho lembrou que a primeira prestação de contas sob a vigência da nova lei será em março de 2026. Vamos acompanhar! E ver o que foi entregue. Inclusive da folha de pagamento, pro labore, parentescos. É dinheiro público. Quem faz e presta contas com rigor (e são muitos), ótimo! A vigilância permanente é sempre para quem burla. Assim é a rotina… Infelizmente.

ABSURDO do ABSURDO

O vereador e promotor de Justiça, José Roberto Martins Segalla, classificou como “absurdo do absurdo” a secretária Cilene Bordezan enviar o estudo da concessão do lixo em envelope lacrado, e pen drive e querer que o conteúdo seja confidencial. “O que se discute aqui na Câmara é público e é do povo. A secretária que nem estará mais em Bauru depois que isso tudo passar quer esconder um estudo (que ela mesmo diz que fez) que pagamos à Fipe. Para uma concessão desse porte tudo tem que ser discutido e sem pressa”, lançou.

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