Na CEI, depoentes “apontam para Damaris” e abusam do “não me lembro”. Ex-assessora entrega comprovante de PIX da campanha de 2022

Secretária da prefeita, Elisangela prestou depoimento à CEI das doações. Ela presidiu o Fundo por um período e atacou Damaris

Os depoimentos à Comissão Especial de Inquérito (CEI) das doações ao Fundo Social de Solidariedade, entre 2021 e 2023, nesta terça-feira, foram marcados, no geral, por afirmações no caminho de descredibilizar a ex-assessora da prefeita, Damaris Pavan, ou apontar contra ela em ações que seriam irregulares na coordenação do grupo. Mesmo os funcionários que ajudaram nas funções de motorista e carregador de bens para entregas pelo Fundo “apontaram o dedo”. Contudo, em outra face, os depoentes abusaram do “não me lembro” quando as questões pareciam mais inconvenientes.

No final da tarde,  o advogado de Damaris, Olavo Pelegrina, protocolou à CEI documento com depósito de R$ 2.900,00 onde sua cliente, em seu primeiro depoimento à Comissão, afirma que em 2022 foi contratada por Lúcia Rosim para trabalhar na campanha a deputada da então presidente do Fundo Social (hoje secretária de Assistência Social). Damaris afirmou que recebeu, entretanto, o valor através de Ana Beatriz Pereira. A prestação de contas eleitoral de Lúcia apresenta “despesa com pessoal” em nome de Beatriz.

Indagamos a ex-assessora sobre a triangulação para que recebesse, como afirma, para pedir votos para Lúcia. Damaris estava no Fundo Social, onde atuava na condução de recebimento e entregas de doações, sobretudo cestas básicas. Segundo ela, a intermediação foi a forma utilizada pela campanha de Lúcia Rosim para receber o pagamento. A secretária e mãe da prefeita não explicou essa questão até o momento.

Damaris Pavan indica, mais uma vez, manter uma estratégia para suas declarações. Hoje, por exemplo, após depoimentos que questionaram sua conduta no Fundo Social, ela apresentou o comprovante do PIX, em mais uma etapa, aos poucos, de liberar conteúdos que armazena a respeito de sua confissão. Em entrevista, Damaris também afirma que o pagamento foi mediado pelo tesoureiro da campanha dos Rosim, Walmir Vitorelli Braga, ex-assessor do deputado Paulo Correa. A ex-assessora indica que tenha conteúdos de mensagens em áudio e de conversas ao celular para abastecer essa afirmação.

DEPOIMENTOS À CEI

Elisangela Cardoso do Prado Pereira, assessora de Gabinete da prefeita

Atualmente assessora da prefeita, a segunda depoente da manhã atuou como presidente interina do Fundo Social de Solidariedade em 2022, período que abrange as denúncias de Damaris Pavan. Elisangela Cardoso do Prado Pereira afirmou desconhecer irregularidades no Fundo, desvio de itens doados ou doações específicas a igrejas. Ela também tentou blindar Lúcia Rosim.

Elisangela se valeu do “não me lembro” e “desconheço” para várias indagações. Também citou que os pedidos por cestas chegavam ao órgão de todas as formas possíveis, inclusive com pessoas indo diretamente ao Fundo, e que o critério de recebimento era informar o documento, no sentido de que “o credo religioso não importava”. Evitou informar igrejas, nomes.

De outro lado, Elisangela afirmou que integrantes de sua família receberam cestas. Não lhe foi perguntado quantas, em que ocasiões e para quem. Ela também não foi questionada sobre a afirmação de Damaris de que levou a sua casa cestas básicas, para serem distribuídas.

Em uma linha, Elis tentou apontar que se houveram irregularidades estas seriam atribuídas a Damaris. Observação: Elisangela foi chefe de Damaris, assim como Lúcia Rosim. Anota-se que este raciocínio (também falado por outros depoentes) estaria na trajetória de confirmar que ocorreram irregularidades, como confessa Damaris. A diferença é que “os chefes” agora teriam de demonstrar que não sabiam…

Sobre as mensagens de celular divulgadas à imprensa por Damaris Pavan, a depoente atribuiu as afirmações a “um contexto maior”. Em uma das mensagens, quando Elisangela fala em colocar itens de som (potência e mesa) em uma sacola (Damaris alega que ela os levou para sua igreja). Mas Elisangela diz que ““separar a sacola”, diria respeito à separação de itens de roupa de cama. Ela rejeita que teria levado equipamentos para sua igreja, ou outra.

Elisangela também se esquiva quando perguntada sobre a mensagem revelada por Damaris quando fala para a então subordinada que as coisas erradas que fez (Damaris) foi por que ela (Lúcia Rosim) mandou. Esta mensagem foi revelada pelo CONTRAPONTO e entregue a Polícia Civil;

Andrea Cristina Storolli, ex-assessora administrativa do Gabinete da prefeita

A primeira depoente convidada da manhã foi a ex-assessora administrativa do Gabinete da prefeita, Suéllen Rosim (PSD), Andrea Cristina Storolli. No Fundo Social, ela atuava na organização da parte administrativa, como arquivos e planilhas de entrada e saída de cestas básicas. Em resumo, Storolli confirmou as informações que fez à Polícia e que foram reveladas em exclusividade pelo CONTRAPONTO.

Ela falou da rotina de recebimento de doações de diversos itens oriundos de inúmeras empresas e instituições, mas afirmou não ter conhecimento sobre as entregas (que não participava). As declarações reforçam que o controle de bens no Fundo era frágil. E que em muitas ocorrências as “baixas” do estoque foram genéricas, sem identificação de destino, nomes.

Storolli foi mais ácida em relação a Damaris, apontou a então coordenadora como quem “falava muito” e mal das pessoas.

Daniel de Souza Almeida, ajudante geral da Prefeitura

Citado por Damaris como uma das pessoas que ajudou a carregar um caminhão com um freezer destinado à doação irregular, Daniel de Souza Almeida afirmou até ter visto o item no Fundo Social, mas que não o carregou para algum lugar. Ele também negou ter carregado itens eletrônicos com destino a MIPE – igreja da família Rosim. “Não me lembro”, “desconheço” estiveram presentes também em seu depoimento.

Leonardo Marcari, chefe de Gabinete da prefeita

Na sequência, o chefe de Gabinete da prefeita, Leonardo Marcari, retificou as informações já prestadas em depoimento à Polícia Civil, no qual alegou desconhecer irregularidades no Fundo Social. Ele negou ter ameaçado Damaris Pavan e reforçou acreditar que as denúncias feitas por ela foram motivadas por vingança.

Pedro Alves Ribeiro Neto, motorista da Prefeitura

A quinta e última oitiva da terça-feira foi de Pedro Alves Ribeiro Neto. Atualmente motorista na Secretaria de Assuntos Regionais (SEAR), no período relativo às denúncias prestava serviço à Damaris dirigindo para entregas de cestas e itens em residências, ONGs e igrejas. Ele disse que parou com o trabalho por divergências com a ex-assessora comissionada, entre outros motivos.

Também desfilou “não me lembro” e “desconheço”. Contudo, acusou que Damaris usava o órgão para fins particulares: “Ela implicava muito, porque eu questionava a razão de serem sempre os mesmos lugares. As mesmas pessoas recebiam sempre, eram pessoas conhecidas pela Damaris”, disse.

Pedro também disse que foram entregues cestas básicas para a mãe de Damaris. Indagamos a ex-assessora a respeito disso. Ela não comentou o assunto, até este momento.

Próxima reunião

A próxima reunião da “CEI do Fundo Social” está agendada para a terça-feira, dia 24 de junho, às 15h. Novas oitivas devem ser realizadas, com nomes ainda a serem definidos.

A relatoria da CEI, a cargo de André Maldonado, citou que Damaris Pavan terá de ser reconvocada. Ainda serão convidados Márcia Rosim (irmã de Lúcia) e a própria atual Secretária de Assistência.

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