Contratado em 2013, o Plano Diretor de Águas (PDA) é lei em Bauru desde 2019. Nele está descrito cada uma das etapas (e prazos de execução) para que o abastecimento de água seja solucionado. Falta o que? APLICA-LO! Nesta segunda-feira, em sessão legislativa, foi aprovado a depuração do conteúdo do PDA, através de Comissão Especial de Inquérito (CEI). O levantamento permitirá a convocação de especialistas no setor para que a cidade discuta a atualização e eventuais ajustes no plano e, enfim, estabeleça calendário, ações e custeio para sua execução.
Ao longo dos anos, até aqui, alguns pontos estão claros: a quantidade de água produzida pelo sistema ETA e 35 poços existentes em Bauru é suficiente para atender à demanda atual de consumo dos bauruenses. Mas, para tanto, é preciso combater as perdas físicas. Do jeito que está, a perfuração de poços é como jogar mais água em um balde com vários furos. E, claro, a resolução não se resume a este exemplo. Mas tem estudo!
Bom! O fato é que Bauru tem Plano Diretor, contratado por licitação e realizado pela empresa Hidrosan e assinado, entre outros, pelo especialista Di Bernardo, um dos mais concorridos no setor no País.
O CONTRAPONTO já levantou, aqui, os principais pontos do PDA. Mas como falta d´água continua sendo tema (e ainda o será) por algum tempo, vamos relembrar:
Não há ação isolada que resolva, por si, a deficiência no desabastecimento de água na cidade a curto prazo. Mas Bauru sabe, desde 2014, o que já deveria ter sido feito. Está tudo escrito no Plano Diretor de Águas (PDA).
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Chamado de PDA, o estudo descreve, passo a passo, a estrutura operacional, tecnológica e até ambiental-hidrológica do sistema para a cidade. Transformado em lei em 2019, o PDA traça desde medidas específicas (como manutenção preventiva e corretiva) até as obras mais complexas (setorização da cidade, com automação e construção de reservatórios e poços profundos).
Na época, o plano foi montado para solucionar os problemas em 20 anos (2014 a 2034). A premissa, portanto, sempre foi de que cada prefeito (a) tem de cumprir sua parte no cronograma. Aliás este é o problema principal: contratado em 2014, o PDA não foi cumprido no segundo mandato de Rodrigo Agostinho. E também não o foi na gestão Gazzetta.
O Plano é longo, enorme. É um estudo técnico. A reportagem a seguir traz alguns dos pontos do estudo.
POR QUE SÓ PERFURAR POÇO NÃO RESOLVE?
Porque, segundo o diagnóstico no Plano de Águas, a cidade desperdiça 47,8% do que produz, seja em não faturamento (hidrômetros velhos), seja por vazamentos nas ruas, nos imóveis (perda física).
Ou seja, construir poço sem resolver este ponto é desperdiçar duas vezes: o DAE perde receitas porque não fatura tudo o que é consumido nas casas e tira cada vez mais água do subsolo (ou do rio Batalha) para perder uma boa parte em vazamentos na rede.
Veja no gráfico a seguir a relação entre as perdas e o consumo em Bauru, do estudo. De baixo pra cima, o desenho mostra a linha 1 (estável) com o DAE tendo pouco aumento de consumo medido nos hidrômetros. Sem trocar hidrômetros a cada 5 anos, o aumento da população amplia, proporcionalmente, as perdas de receita.
Já o tracejado com destaque em amarelo mostra a evolução do percentual de perdas. E a última linha o volume de água produzido. Mas produzir com “o balde furado” é fria!
AS AÇÕES
São várias ações a serem realizadas. Entre elas, o PDA lista: o DAE assumir a troca de hidrômetros, com programação ano a ano, investir na setorização do sistema (interligação de redes entre diferentes bairros), com CONTROLE DE PRESSÃO e automação (por tecnologia para controlar o sistema).
Por que a troca de hidrômetros é importante? Porque os investimentos são elevados e o equilíbrio entre cobrar o consumo correto e reduzir os vazamentos é a fórmula fundamental para AJUSTAR A RECEITA, PAGAR OS INVESTIMENTOS E AUMENTAR A OFERTA DE ÁGUA NAS TORNEIRAS DOS BAURUENSES. Ou a Prefeitura contrata projeto (executivo) e busca dinheiro fora, pra começar.
Veja um exemplo: pensa com a gente: se você retira 100 litros de água (do poço ou do rio), mas quase a metade (47,8%) ou não consegue faturar (hidrômetros velhos) ou desperdiça em vazamentos, o que significa? Significa que seu serviço é muito ruim! E quanto mais poço você perfura – sem resolver a origem – mais despesa você gasta e mais dinheiro e ÁGUA você joga fora!
Por isso é que é “furado” esperar resolver o problema perfurando mais poços!
No estudo realizado pela Hidrosan, ainda de 2014, há levantamento de como a REDUÇÃO DE PERDAS (faturamento+vazamentos) financia o plano de investimentos no tempo.
O custo de produção do metro cúbico de água produzido pelo DAE, com perdas de 48,7%, na época, foi apontado em R$ 1,52. Com a redução das perdas para 25%, a mesma produção daquele ano teria custo final do m3 para R$ 1,10.
Essa projeção real de financiamento INTERNO da modernização do sistema de abastecimento foi realizada em cima da mesma tarifa. De lá para cá, a receita com tarifa de água teve aumento. Foi reduzido o percentual destinado para o Fundo de Tratamento de Esgoto (de 25% para 5%) .
Outra medida, o controle de pressão é fundamental para “ajustar” a água na rede sem “arrebentar” a tubulação. Sem essa medida e com muitos vazamentos, o desperdício é ainda maior.
Outra medida é a gestão do DAE parar de só “correr atrás do prejuízo”. Realizar busca ativa dos vazamentos. Até porque os não aparentes demoram para aflorar. E, conforme o PDA, se não há ação (por equipamentos) para localizar vazamentos “escondidos” debaixo da terra e asfalto, quando estoura a “tubulação” as perdas são ainda maiores.
ONDE O CONTROLE DE PERDAS FUNCIONOU?
Limeira! Ainda em 2014, quando a Hidrosan entregou o diagnóstico de Bauru, os engenheiros contaram que o plano foi realizado com sucesso em Limeira. As perdas lá chegaram a 15,5% (medição de 2016).
Mas a gestão envolve várias ações. Mas o essencial aplicado lá, segundo o PDA, é o mesmo que Bauru precisa fazer: Limeira conta com setorização de 70 zonas de macromedição onde são controladas e medidas as vazões e pressões de abastecimento, além da manutenção de um parque de hidrômetros de menos de 5 anos de idade.
Mas lá o prefeito da época foi ousado, contou o engenheiro Luiz Di Benardo, da Hidrosan. Trocou hidrômetros e, com isso, gerou receita para pagar a substituição (ano a ano) das tubulações e tecnologia. E também criou um programa de incentivo a redução do consumo amarrado com doação de caixas d´água (para o povo aumentar a reserva de água no período de mais calor e consumo) e valores escalonados da conta. Quem fez a lição de casa conseguiu, mesmo com o hidrômetro novo medindo mais, equilibrar a conta.
Outra lógica equivocada é de aumento do consumo para ampliar faturamento, argumentou, na época, o especialista Di Bernardo. A lógica é inversa: tirar menos água do sistema (rios e poços) e, com isso, dar mais tempo para que a natureza reponha os “estoques” (recarga de aquífero).
Ou seja, em Bauru o DAE retira muito mais do que o Batalha suporta, por exemplo, e deixa jorrar boa parte no sistema. Está errado! É como usar a mangueira de casa como vassoura, para “empurrar” a sujeira da calçada. Desperdiça e suja a rua mais à frente.
35 POÇOS
Bauru: os 35 poços funcionam 24 horas! Não tem bomba que aguente tanto tempo e nem reservatório (da natureza) que consiga repor água! Queima bomba mais rápido (e a população fica com raiva).
Você sabia que Bauru tem licença ambiental vencida desde 2019 e que só autoriza retirar 317,4 litros por segundo do rio Batalha, mas nós sugamos com bombas até 550 litros por segundo no auge do consumo, para que 140 mil pessoas tenham água na torneira?
PLANO DE ÁGUA para 20 anos
Se o Plano Diretor de Água |(PDA) tivesse sido implantado, desde 2014 (quando foi entregue), Bauru já estaria na etapa de menor investimento por ano de sua execução. E alguns dos problemas maiores, da origem, estariam bem encaminhados.
Se o PDA tivesse sido executado, como está no papel, as ações (de 2014 para cá) são as que você vai conhecer abaixo. Mesmo sem a atualização do PDA para esta data, veja as ações a partir do primeiro ano que foram elencadas desde a origem:
- Cronograma para o primeiro ano de vigência deste Plano Diretor de Água trouxe a instalação dos poços UP55 e UP57, o início da campanha de substituição dos hidrômetros a desativação da UP16 e a instalação da adutora ADT_P57R37.
- A partir do segundo ano, foi previsto o início dos monitoramentos da qualidade da água no Ribeirão Água Parada e no Rio Batalha que deverá ser realizado quinzenalmente ao longo da vigência do Plano Diretor.
- Ainda no anos 2: a perfuração de mais dois poços, a contratação do projeto executivo de recuperação e de modernização da ETA do Rio Batalha e do sistema de tratamento dos resíduos gerados na ETA, a certificação do laboratório, a continuação da campanha de substituição dos hidrômetros, a implantação de reservatórios e de estação elevatória de água tratada, e a contratação do projeto executivo da rede, reservatórios e elevatórias de água tratada. Foi previsto o levantamento topográfico da área de captação complementar e da extensão de adutora complementar, dados geotécnicos e sondagens.
- Ano 3: implantação da ETR, a contratação do projeto executivo de automação do sistema de abastecimento, a contratação do projeto executivo da captação complementar e adutora complementar, a perfuração de novos poços, a implantação de reservatórios, adutoras e elevatórias de água tratada e a continuação da campanha de substituição dos hidrômetros. Considerou-se o início da reforma e modernização da ETA Batalha e da readequação geral dos reservatórios no ano de 2016.
- Ano 4: perfuração de um novo poço, a implantação de reservatórios, adutoras e elevatórias de água tratada, o licenciamento ambiental da ETA, ETR, a continuação da campanha de substituição dos hidrômetros e da readequação geral dos reservatórios. Considerou-se o início da implantação da rede do LOTE 1 – Zona Norte e a conclusão da reforma e modernização da ETA Batalha no ano de 2017.
- Ano 5: implantação da captação, o início da implantação da adutora de água bruta complementar e a readequação de reservatórios. Considerou-se a conclusão da campanha de substituição dos hidrômetros no mesmo ano.
- Ano 6: reforma e modernização das EE Estoril e Falcão, a implantação de adutoras e elevatórias de água tratada, a continuação da campanha de substituição dos hidrômetros, a implantação da rede em Tibiriçá e readequação de reservatórios. Considerou-se a conclusão da implantação da rede do LOTE 1 – Zona Norte e o início da implantação da rede do LOTE 2 – Zona norte. Em 2020 foram previstos a recuperação química de três poços, a implantação de reservatórios e adutora de água tratada e a conclusão da readequação geral dos reservatórios.
- Ano 7:construir adutoras e Estações Elevatórias de Água tratada, desativar reservação (R 13), concluir rede do lote 2 – Zona Norte e iníciar o lote 3.
RELATÓRIO DOS EQUIPAMENTOS EM BAURU
http://www.daebauru.sp.gov.br/2014/agua/plano_diretor_aguas/Vol02-TomoIV.pdf
Lista de referência de ações informada em 2020
1) PERFURAÇÃO DE POÇOS
– MARY DOTA
Custo: R$ 2.500.000,00
Vazão: 220 m³/H
REGIÕES: MARY DOTA, BEIJA FLOR e IZAURA PITA GARMS
– DISTRITO INDUSTRIAL III
Custo: R$ 3.000.000,00
Vazão: 200 m³/H
REGIÕES: DISTRITO III, JARAGUA, PETROPOLIS, ROOSEVELT e FORTUNATO R. LIMA
– PRAÇA PORTUGAL
Custo: R$ 2.000.000,00
Vazão: 180 m³/H
REGIÕES: ALTOS DA CIDADE, CENTRO e ESTORIL I ,II, III
– POÇO BEIJA FLOR
Custo: R$ 2.500.000,00
Vazão: 250 m³/H
REGIÕES: MARY DOTA, BEIJA FLOR e IZAURA PITA GARMS
– POÇO VILLAGIO IV
Custo: R$ 2.500.000,00
Vazão: 200 m³/H
REGIÕES: VILLAGIOS, ALPHAVILE, SPAZIO VERDE e CIDADE JARDIM
– POÇO VILA FALCÃO
Custo: R$ 2.000.000,00
Vazão: em estudo
REGIÕES: ALTO PARAISO, PQ. VIADUTO, VILA FALCÃO e V. INDUSTRIAL
2) RESERVATÓRIOS
– RESERVATÓRIO APOIADO MANCHESTER
CAPACIDADE DE RESERVAÇÃO: 200 M3
Custo: R$ 2.800.000,00
REGIÕES: MANCHESTER, TANGARÁS, V. SANTA TEREZINHA, AIMORES e DISTRITO III
– RESERVATÓRIO ELEVADO JD. AMÉRICA
CAPACIDADE DE RESERVAÇÃO: 350 m³
Custo: R$ 1.400.000,00
REGIÕES: JD. AMÉRICA, JD. AEROPORTO/AV.GETULIO VARGAS
– RESERVATÓRIO ELEVADO VILA DUTRA
CAPACIDADE DE RESERVAÇÃO: 350 m³
Custo: R$ 1.400.000,00
REGIÕES: VILA DUTRA, SANTAS CÂNDIDA, LEÃO XIII e VAL PALMAS
– RESERVATÓRIO APOIADO VILA DUTRA
CAPACIDADE DE RESERVAÇÃO: 680 m³
Custo: R$ 1.600.000,00
REGIÕES: VILA DUTRA, SANTA CÂNDIDA, LEÃO XIII e VAL DE PALMAS
-RESERVATÓRIO APOIADO JD. IMPERIAL
CAPACIDADE DE RESERVAÇÃO: 3500 m³
Custo: R$ 3.500.000,00
REGIÕES: P. NAÇÕES, TAMBORÉ, VILLA LOBOS, TIVOLI I/ II, V SERRÃO
–RESERVATÓRIO APOIADO JD. TV
CAPACIDADE DE RESERVAÇÃO: 2000 m³
Custo: R$ 2.500.000,00
REGIÕES: J. TV, VILA GARCIA, JD. MARILIA e FLORATA NAÇÕES
3) PROJETO BÁSICO SISTEMA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA ETA
R$ 1.100.000,00
Para regularizar lançamento do resíduo sólido e cumprimento da legislação ambiental
4) EXECUÇÃO SISTEMA DE TRATAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ETA
R$ 15.000.000,00
Executar o projeto básico para regularizar com a legislação ambiental
5) CONTRATAÇÃO PROJETO BÁSICO PARA CAPTAÇÃO COMPLEMENTAR DO RIO BATALHA
R$ 3.500.000,00
Para regularizar vazão de captação do Rio Batalha
6) CONTRATAÇÃO ESTUDO DE CONCEPÇÃO E PROJETO BÁSICO PARA NOVA ETA
R$ 2.000.000,00
7) CONTRATAÇÃO DE OBRA COM PROJETO EXECUTIVO DA NOVA ETA
R$ 40.000.000,00
8) CONCLUIR SETORIZAÇÃO BELA VISTA
R$ 500.000,00
QUANTIDADE EXECUTADA: 1.385,00 m
REGIÕES: BELA VISTA, VILA QUAGGIO e PQ. UNIÃO
9) SETORIZAÇÃO – REDES
– SETORIZAÇÃO SABIÁ / ANDORINHAS
R$ 3 .500.000,00
REGIÕES: SABIÁ / ANDORINHAS, JD. JUSSARA, N. JOAQUIM GUILHERME, VILA CELINA e VILA ROCHA
– SETORIZAÇÃO VILA SÃO PAULO / JD. IVONE
R$ 1.000.000,00
REGIÕES: VILA SÃO PAULO, POUSADA I E II, NOVA BAURU e Jd IVONE
–SETORIZAÇÃO MANCHETER / TANGARÁS
R$ 1.500.000,00
REGIÕES: MANCHESTER, TANGARAS e STA TEREZINHA
-SETORIZAÇÃO GEISEL
R$ 3 .000.000,00
REGIÕES: GEISEL, N. JOSÉ REGINO, PQ. HIPODROMO, PQ. BAURU e JD. OLÍMPICO
-SETORIZAÇÃO VILA DUTRA
R$ 3 .000.000,00
REGIÕES: VILA DUTRA, VILA INDUSTRIAL, PQ. VIADUTO, CHACARAS CORNÉLIAS e SANTA CÂNDIDA
–SETORIZAÇÃO IX DE JULHO
R$ 7.000.000,00
REGIÕES: JARAGUÁ, FORTUNATO ROCHA LIMA, ROOSEVELT e PETRÓPOLIS
10) Contratação de Projeto Básico diversas Estações Elevatórias de Esgoto
R$ 1.000.000,00
REGIÕES: Fortunato Rocha Lima, Jardim Vitória, Parque Santa Cândida, Parque Real e Chácaras Cornelias
11) Construção de nova Estação de Tratamento de Esgotos em Tibiriçá
R$ 2.000.000,00
12) Contratação Projeto Básico para Ampliação e modernização da ETE Candeia
R$ 700.000,00
13) EXECUÇÃO DAS OBRAS DE ACESSO ETE VARGEM LIMPA
R$ 7.000.000,00
14) ENERGIA ETE VARGEM LIMPA
R$ 8.000.000,00
15) FINALIZAÇÃO DAS OBRAS DA ETE VARGEM LIMPA
R$ 18.700.000,00
RESUMO:
PRODUÇÃO, RESERVAÇÃO, TRATAR ÁGUA
R$ 89,3 milhões
ABASTECIMENTO
R$ 19,5 milhões
ESGOTO
R$ 18,7 milhões
TOTAL: R$ 127,5 milhões
Excelente artigo, uma demonstração da falta de interesse do poder público, que utiliza o desespero da população como palanque político, esquecendo de que a conservação ambiental, inclusive tema dos dois últimos prefeitos, é o foco principal.