A prefeita Suéllen Rosim (PSD) foi reeleita no primeiro turno na eleição 2024 em Bauru, com apoio de 94.314 pessoas nas urnas, 53,3% dos votos válidos. Favorita na disputa, a jovem de 36 anos estende mandato por mais quatro anos com um governo concentrado, sobretudo, em zeladoria. Mesmo com a crise no abastecimento de água e filas sem fim nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) – problema crônico que se repete em mais de um mandato na saúde -, Suéllen foi competente nas redes sociais e conseguiu convencer 1/3 dos eleitores votantes de que os investimentos que fez em recape, asfalto novo, sinalização e alguns equipamentos de esporte e lazer – em locais há anos abandonados – eram a chave para mais um mandato.
Da Nova Câmara, entenda abaixo por que políticos experientes arriscaram errado em legendas sem expressão e chapas fracas – apostando em boa votação individual. O diferente no preenchimento das vagas foi eleger várias cadeiras em partidos com boa votação média, mesmo abaixo do quociente eleitoral.
Veja quadro de como vagas foram preenchidas e explicação no final (bancadas):
Antes, na eleição majoritária, a prefeita soube falar com seu público, fez dinâmica de campanha dirigida, nas redes sociais, e planejou a reeleição desde antes – com preparação de farto material de obras, serviços, investimentos. E, ainda, deixou programado exatamente para os três meses mais perto das urnas um robusto programa de recape. Destacamos isso, em manchete (O trunfo de Suéllen), com a destinação de mais de 600 quadras de pavimentação em recape, ou mais de R$ 54 milhões em contratos, exatamente na hora de maior visibilidade. A arrecadação da prefeitura foi sempre acima da média, nos quatro anos de governo, dando a Suéllen uma oportunidade de vitrine que nenhum outro mandatário teve na história – dinheiro em caixa, sem precisar recorrer a financiamentos.
Mas não foi somente isso. Suéllen soube se fortalecer na periferia, através do asfalto ou das portas abertas entre boa parte dos evangélicos – segmento cada vez com maior peso na eleição, cujos inúmeros líderes (e denominações) se engajam, se envolvem com política. Isto é fato.
Mas os adversários ajudaram. Cada um de um jeito. Vários demoraram para entrar na disputa ou titubearam em suas estratégias. O médico Raul Gonçalves (Podemos), que disputou o segundo turno com a mesma Suéllen (até então uma outsider na política) em 2020 obteve apenas 15,85% dos votos, ou 21.815. Teve programa de TV ruim, na mensagem e na plástica e dificuldade, como em 2020, em dialogar com a periferia.
A vereadora Chiara Ranieri (União Brasil) foi melhor e, em segundo lugar neste 2024, recebeu 31.075 (17,70%). Produto de sua oposição mais crítica. Se aproximou mais do que Raul dos descontentes. Coronel Meira ajudou bem neste quesito. Mas não teve campanha de rua forte, oscilou em ações.
Suéllen teve foco. Se preparou para o embate em torno do “eu fiz e vamos continuar avançando” contra as críticas de que ou gastou mal o caixa cheio ou não resolveu os principais problemas estruturais da cidade. Deu certo! A eleição 2024 em Bauru na verdade não discutiu plano de ação para o que teremos pela frente em função dos desafios pendentes. Este prejuízo é de todos!
Entre os demais adversários, Clodoaldo Gazzetta (pelo PV, na chapa com PT e PC do B) é quem gerou o tom de “gerar dúvida” na opção pelo voto para Suéllen, ao confrontar anúncios da prefeita com o que ele, ex-prefeito, realizou entre 2017 e 2020. Mas Gazzetta entrou tardiamente na disputa. Há 20 dias das urnas. Ficou em quarto lugar com 4,74% dos votos válidos (8.320).
Centrado mais em educação, o professor Marcos Chagas obteve 3,45% dos votos, com 6.058. O ex-prefeito Izzo Filho teve apenas 2,51% de votos (4,414). Anote ai: como dissemos, os votos de Izzo sequer foram contados. Ele sabia desde sempre que estava inelegível, impugnado, com condenações a cumprir até 2031, mesmo com recurso pendente). José Xaides foi ainda pior, com 1,95% (3.415 votos). Monotemático. O PDT ao menos elegeu um vereador, mas sem identidade com o grupo, e o PV de Gazzetta ficou fora da Câmara, assim como legendas como o PSB de Rodrigo Agostinho, o Solidariedade de Caio Santos, ex-pres. estadual da OAB, e o desidratado PSDB. Paulo Lago (PCO) teve 130 votos, com uma candidatura que bate, há anos, na tecla, de apenas participar para demarcar posição contra o sistema.
O PT e suas divisões internas quase fez 2 cadeiras. A legenda de amplitude nacional continua com pouco peso eleitoral em Bauru.
OS AUSENTES
Ainda antes da campanha em Bauru ser deflagrada, o CONTRAPONTO registrou que Suéllen estava favorita, desde a origem, não só pela caneta e máquina pública na mão, mas também pelo distanciamento de lideranças locais em torno do debate por um projeto político para a cidade.
As urnas trazem que, na prática, quase 1/3 dos que escolheram alguém anotou Suéllen. Outro tanto perto de 1/3 escolheram outros candidatos. Mas pouco mais de 1/3 não quis ninguém. 106 mil não votaram, somando ausentes, brancos e nulos. É muita gente!
Rodrigo Agostinho, prefeito duas vezes, deputado federal, desapareceu. Ele era considerado, por quase todos do espectro de centro à esquerda, como o único em condições de disputar votos em massa com a prefeita. Nem mesmo o PSB, seu partido, contou com sua ação. Estava na cidade, nos últimos dias, se revezando em gravar vídeos para candidatos de outras legendas… de pouca visibilidade. Não ajudou nem eles, nem a si próprio.
Mas o bauruense também esteve ainda mais ausente. Não só por não votar, mas, desde o princípio, ainda mais distante da participação e debate em torno dos desafios que um município com 282.186 cidadãos aptos a votar. Mais de 106.645 não exerceram o direito (e a missão) de escolher alguém para ser governado.
Os números reforçam o distanciamento da sociedade, seu povo, com seu próprio futuro – como se leis, regras de desenvolvimento, investimentos, cobrança de impostos ou taxas, concessões, contratos, não fossem decididos por políticos. 85.913 não foram votar (30,45%). Desses, 10,56% anularam o voto – com 8.797 em branco e 11.935 nulos.
AS BANCADAS
Partidos com boa média de votos, mesmo sem atingir total necessário para ter vereador na primeira regra (quociente de 8 mil votos), fizeram vários vereadores.
Vários políticos experientes erraram ao se arriscar em legendas fracas, com chapa sem outros nomes com votação intermediária.
PRD, PRTB, entre outros, foi assim. Manfrinato teve mais votos que alguns dos eleitos. Mas sua chapa era fraca. Mariano foi mais bem votado que vários. Mas na disputa entre os partidos com melhor média – ficou de fora.
Muitos não entenderam que a regra primeiro esgota quociente (total de votos válidos que garante cadeira direto) e depois esgota melhores médias, no 80/20. Para grupos que obteram 80% dos votos do quociente, filtrando candidatos com ao menos 20% do quociente.
Esta segunda peneira privilegia chapas fortes, como PSD, MDB, PP, PL. Fabiano Mariano, Manfrinato, Kabelo e outros entrariam se estivessem em legendas com boa votação, ao invés de votação individual.
Natalino da Pousada foi o único que entrou após esgotar o corte 2, nas sobras livres – onde o único filtro era o candidato ter 10% do quociente para disputar vaga: depois de esgotadas as vagas da regra das médias.
Das bancadas:
Suéllen Rosim tende a ter uma Câmara mais próxima, em sua maioria, do que a atual. Com 21 cadeiras, no papel (resultado das urnas), a prefeita tem 12 eleitos de “seu lado” e 9 “entre partidos adversários”. Mas, entre os que se elegeram de legendas adversárias, vários têm perfil de atuação próximo de governos.
A nova Câmara tem poucos novatos (aqueles que se elegeram pela primeira vez). Na verdade, apenas quatro nomes nunca foram eleitos a vereador. Outro dado: somente uma cadeira foi preenchida com sobra livre (Natalino, PDT) – após o preenchimento de quem obteve quociente (total de votos válidos necessários a garantir 1 cadeira).
Muitas vagas foram obtidas pela boa média partidária (80% do quociente e o candidato com pelo menos 20% dessa referência).
Entre os novatos, André Maldonado (PP) teve campanha com estrutura e apoio de segmento evangélico representativo, Arnaldinho Ribeiro foi secretário da prefeita. Deixou o Cidadania para montar uma chapa com pessoas com votos intermediários (entre 500 e 1.000), para fazer uma cadeira. E conseguiu média suficiente.
Dario é do partido de Suéllen, PSD. E Márcio Teixeira (atuante na recuperação do rio Batalha) e Cabo Helinho (policial militar) estão no PL, teoricamente de oposição (nas urnas). Mas não é possível definir se assim vão permanecer. Entre os demais, vários da atual Câmara conseguiram se reeleger. E outros estão retornando.
Estela Almagro (PT) tem não somente a maior votação entre mulheres, como uma das mais expressivas da história, com 7.586 votos. Já adiantou, desde este domingo, que vai fiscalizar ainda mais. Júnior Rodrigues, ex-líder da prefeita e presidente da Câmara, conseguiu 6.433 votos, boa parte no Núcleo Nova Esperança. Teve campanha com forte estrutura e recursos.
Na oposição, Eduardo Borgo tem novo mandato pelo Novo. Ocupou parte do espaço bolsonarista na cidade. O PP também fez Júlio César (causa animal) – da base da prefeita. O União Brasil elegeu novamente José Roberto Segalla. Tem boa penetração nas classes A e B. Já o MDB foi feliz na montagem de chapa com boa média de votos, emplacando a reeleição de Manoel Losila, Markinhos Souza e, de volta, Sandro Bussola.
Pelo Podemos, Júnior Lokadora se reelege bem, com atuação firme na saúde e região da Vila Dutra, assim como Pastor Bira (Otávio Rasi, servidores e uma cota de evangélicos). O novato Émerson da Construção se junta ao trio. Teve estrutura de campanha, investimento acima da média. Natalino da Pousada retorna ao Legislativo, pelo PDT. Se beneficia da soma de votos da chapa.
O PSD da prefeita fez quatro cadeiras. Mas muito pela expressiva votação de vários de seus candidatos e bem pouco pela votação em legenda, no partido.
Suéllen fez campanha muito mais com a mãe (candidata a deputada) do que com vereadores. Muitos reclamaram de rejeição à prefeita nas ruas.
Marcelo Afonso, Júnior Rodrigues e Milton Sardin continuam. Dario se juntou a eles (no time dos poucos em primeiro mandato).
O Republicanos fez 2, e continua a manter o histórico de colocar um representante na Câmara fruto, principalmente, do apoio de fieis da Igreja Universal do Reino de Deus. Assim foi com Pastor Luiz Barbosa no passado, assim foi com Edson Miguel neste domingo. Beto Móveis, que atua na região do Mary Dota e arredores, conseguiu permanecer com sua cadeira.
Esta é a Câmara que terá a responsabilidade de fiscalizar ações da prefeita, cobrar resolutividade na saúde, discutir se o prometido Hospital Dia é efeito eleitoral ou terá, na prática, condições de ajudar na redução de filas por atendimento de saúde na cidade (mesmo que de baixa complexidade), revisar e atualizar as regras do Plano Diretor (matéria repleta de interesses – dos donos da terra, da especulação imobiliária e dos grotões) e das normas para funcionar e se instalar empresa, indústria comércio, ou moradias (Lei de Zoneamento)…
Mas os próximos quatro anos têm outros desafios de porte: a concessão de esgoto com drenagem da Nações Unidas sai? Com o formato atual assinado por Suéllen ou outras condições? A cobrança dos serviços do lixo serão retomadas, com taxa nova? A iluminação pública terá tele gestão e LED, ou vai demorar ainda mais? Quanto o bauruense vai pagar, afinal, em sua conta de água pela nova configuração do DAE (sem esgoto)?
Acertos: demos pitaco de que a renovação efetiva (novatos) seria reduzida e que vários ex vereadores voltariam (o que de fato ocorreu). Também cravamos quociente de 8 mil votos para conquistar 1 cadeira.
A abstenção elevada ajudou a derrubar o número de votos válidos necessários para obter a vaga.
Mas erramos ao não apontar que a redução no numero total de candidatos aptos (349 agora para 21 vagas contra mais de 400 para 17 vagas em 2020) ajudaria a formar “bons de voto” (como aconteceu com Estela, Jr Rodrigues e vários outros com mais de 3 mil votos).
A NOVA CÂMARA
Estela Almagro (PT) – 7.586 votos
Júnior Rodrigues (PSD) – 6.433
Eduardo Borgo (Novo) – 4.398
Lokadora (Podemos) – 3.937
Edson Miguel (Republicanos) – 3.571
André Maldonado (PP) – 3.387
Segalla (União) – 2.992
Beto Móveis (Republicanos) – 2.785
Cabo Helinho (PL) – 2.770
Marcelo Afonso (PSD) – 2.770
Mané Losila (MDB) – 2.677
Julio Cesar (PP) – 2.637
Markinho Souza (MDB) – 2.464
Miltinho Sardin (PSD) –2.120
Sandro Bussola (MDB) – 2.090
Pastor Bira (Podemos) – 1.936
Dário Dudario (PSD)- 1.790
Emerson Construtor (Podemos) – 1.749
Marcio Teixeira (PL) –1.706
Arnaldinho Ribeiro (Avante) – 1.669
Natalino da Pousada (PDT) -1.364
Excelente análise.
Abrangente , realista.
Conhecedor da cidade e da política foi cirúrgico em sua análise dando uma visão de como poderão ser os próximos anos em nossa cidade.
Parabéns!
Os AUSENTES elegeram, SIMPLES ASSIM !
Se a prepotência era normalizada pela prefeita, agora reeleita em primeiro turno vai entrar com os dois pés no peito dos bauruenses. Parabéns a democracia, e os pêsames a população.
As coisas são assim, o choro é livre!
Perfeita análise política do atual cenário. Acredito que a zeladoria bem feira da atual prefeita tenha sido algo visto por todos seus eleitores e a oposição não conseguiu traduzir em votos as falhas de gestão em temas mais profundos. Enfim veremos o que será de Bauru nos próximos 4 anos, esperamos que chova bastante para resolver a crise de abastecimento, que saia do papel a ETA, que chova tbem empresários buscando se instalar aqui para gerar empregos e que os cursos de medicina/ enfermagem gerem mão de obra para a saúde. E que o trâmite fluente (prometido na campanha) com Governos Estadual e Federal se faça presente com verbas para educação, saúde e segurança: os 3 elos mais importantes para um bom governo.
Parabéns pela análise muito técnica, sem “lado”, mas o pior cenario é a ausência de eleitores nas urnas, que deixaram outros escolherem por eles