Suéllen Rosim: comunicação não supre falta de apresentação de soluções

Suéllen Rosim, em entrevista na TV Record, também esteve na sabatina JC Rádio 96 FM

 

Suéllen Silva Rosim, candidata a prefeita pela primeira vez (em sua curta trajetória em eleições), 32 anos, é quem passa pelo crivo do CONTRAPONTO na cobertura de conteúdo da eleição 2020 em Bauru.

Ela aposta em renovação e participação popular para conquistar o eleitorado. “Cara nova” no meio político, mas com imagem difundida por alguns anos na cidade em razão de ter atuado como apresentadora (TV TEM), a candidata tenta preencher o espaço entre a novidade e e seus dotes em comunicação.

O desafio da candidata será mostrar consistência, alternativas, em relação aos desafios da cidade, para fugir do raciocínio raso ou de frases de diagnóstico.

Segue, abaixo, as respostas dadas por Suéllen a perguntas formuladas na sabatina da Rádio 96 FM e Jornal da Cidade, que utilizamos para pontuar se as abordagens têm sentido, são vazias, apontam para solução coerente, ou não, na eleição 2020.

Nossa contribuição ao debate traz quadro com três níveis na avaliação, o mesmo utilizado em outras avaliações:

. Desenvolvimento econômico

Suéllen Rosim: “Temos que abrir a cidade para o desenvolvimento. As pessoas terão acesso no meu governo, estamos em uma região bem localizada e o povo tem vontade de trabalhar, vamos desburocratizar a abertura de empresas, para a geração de emprego. Já tínhamos problemas graves, o que se ampliou na pandemia, então precisamos criar formas de fazer a crise ir embora antes aqui. Os distritos industriais precisam de mais estrutura, e vamos fazer, porque as empresas querem um local adequado”.

CONTRAPONTO (2): Se o recorte for na direção de que os Distritos Industriais precisam ser recuperados e o processo municipal de desburocratização para abertura de empresas é necessidade, a resposta da candidata se encaixaria no nível 1. Mas a resposta fica nisso e é muito pouco para considerar que isso alavancaria o desenvolvimento econômico da cidade. Tão genérico quanto outros candidatos é lançar a frase “Temos que abrir a cidade para o desenvolvimento”.

Todos os candidatos, até aqui avaliados, ou caem no raciocínio raso, reducionista, ou na estratégia improdutiva de dar diagnóstico. O eleitor quer saber quais são as principais propostas para cada questão, as saídas. De preferência com alta dose de sinceridade indicando ações para curto, médio e longo prazo. E, nesse sentido, Suéllen também não saiu do lugar comum.

. Atração de empresas e empregos 

Suéllen: “Vamos ter um governo aberto para a população. Nenhuma empresa vem para Bauru do nada. Então precisa ter uma redução de impostos, dentro do possível, com um sistema informatizado. Mostrar para as empresas os nossos pontos favoráveis, e resolver os que ainda estão faltando, como a conclusão da ETE. Sem tratar o esgoto, é muito difícil atrair investidores. Me coloquei como candidata a prefeita porque vejo que as pessoas têm pressa em se desenvolver, estive no papel de cobrar quando estava na mídia, agora tenho a oportunidade de fazer”

CONTRAPONTO (2): Mais uma resposta que vai de pontuações com nexo (“sem tratar esgoto é muito difícil atrair investidores”) a afirmações sem congruência (“Então precisa ter um redução de impostos, dentro do possível”). Então vamos lá: A cidade que não alicerçar seu plano de desenvolvimento em frentes transversas (de IDH a indicadores de saneamento, abastecimento, educação, saúde, segurança, mobilidade…) a evolução na governança, gestão, com plano dirigido a vocações consolidadas (comércio, serviços) ou potenciais (cadeia da saúde e da inovação, por exemplo), não sai do lugar. E se isso tudo estiver desconectado da visão regionalista, dos entornos e seus movimentos… fica ainda mais difícil.

Se o Executivo der horizonte pra isso e, ainda, atuar em desburocratização, serviços públicos rápidos e eficientes, com produtividade) seria como Moisés afastando as águas do mar.

Mas a repetida frase na direção de reduzir imposto para atração empresarial: IPTU? ISSQN? ITBI? Como? E o controle fiscal, que já beira abismo, como fica?

. Governo participativo

Suéllen:A gente tem que governar para a população, as pessoas devem ter acesso ao prefeito. Vamos ter um Gabinete aberto, vou dedicar quatro anos da minha vida por Bauru. Os secretários e eu vamos para as ruas, é mais do que obrigação escutar o que os moradores têm para falar. Também vamos dar muita atenção para a Câmara, os vereadores estão lá para fiscalizar e pensar nas leis. Eu não vou discutir com partidos, mas com os vereadores eleitos, acho muito importante que o prefeito tenha uma conversa aberta, e eu sou uma pessoa com facilidade em receber a população e os vereadores, porque o interesse de todos é desenvolver o município. Não vejo dificuldade nisso”.

CONTRAPONTO (1): Respondeu o que se esperava para uma questão simples. Aproveitou e deu seu recado em cima de seu próprio mote de campanha: governo participativo, aberto. Se fosse candidato, faria o mesmo.

. Abastecimento de água

Suéllen: “O Rio Batalha é um tesouro para nós, mas se 140 mil pessoas estão sem água é porque o rio não teve o tratamento merecido nos últimos anos. Precisa ter uma parceria com os municípios da região. Perfurar novos poços é uma possibilidade, mas não dá pra fazer isso só quando fica sem chover. Tem que ter planejamento, é isso que sinto falta. O DAE é nosso e tem bons funcionários, precisa de valorização e um trabalho mais técnico. O povo está cansado e quer água na torneira, mas para isso precisa ter organização, a gente já sabe que neste período falta água, então tem que se preparar”.

CONTRAPONTO (2): A resposta pontuou, corretamente, a importância do rio Batalha para 38% dos consumidores locais, hoje, e “duas” peças para o sistema avançar: planejamento e atuação técnica do DAE. Porém, seguindo o mesmo parâmetro adotado para os demais candidatos, chama a atenção a não citação do Plano Diretor de Águas (PDA), o estudo completo do setor, que está entre nós desde 2014.

E nosso sistema é sem controle de pressão, envolve 35 poços funcionando 24h, com deficiência em reservação, manutenção, interligação e perdas absurdas (47,8% entre faturamento e vazamentos).

Ah… um pitaco adicional: o rio Batalha é importante, claro, mas se não houver ação conjunta de recuperação e regulação do manancial com Piratininga e Agudos (da captação até a nascente, 22 km na direção da Serra da Jacutinga, em Agudos) – além dos afluentes – , não faz sentido.

. Resoluções na Saúde

Suéllen: “As pessoas tiveram que readequar seus gastos na pandemia. Então se você organiza uma casa, consegue ver os problemas, é o que vamos fazer na saúde. O meu vice Orlando Costa Dias é médico e tem uma experiência na gestão hospitalar, e vai nos ajudar muito. Bauru tem uma demanda reprimida na saúde, com consulta e exames, o que aumentou neste ano. Vamos ter que dar atenção para as pessoas nas ações da pandemia, mas também em outras áreas. Para isso, vamos cortar gastos desnecessários, melhorar a informatização, e isso não apenas na saúde. Se for necessário, dá para fazer parcerias com a iniciativa privada para reduzir a fila de espera, e atualizar o cadastro de pacientes através da tecnologia. Temos que dar a Bauru o que ela merece, as pessoas não podem esperar, vamos cobrar muito o Estado por leitos de UTI, e não queremos perder vagas de internação e leitos. Mais do que novas obras, o mais importante é fazer funcionar o que já existe aqui”

CONTRAPONTO (2): Embora as citações façam sentido, tanto em deficiências por serviços locais quanto para os de responsabilidade do Estado (internações de média e alta complexidade, por exemplo), o crivo do CONTRAPONTO sugere contribuir optando por não deixar de citar que, vários candidatos, não se posicionam em relação a estruturação da Atenção Básica (obrigação primeira do município) e ações preventivas de saúde, além de serviços de suporte importantes, como o programa de Saúde da Família (cuja rede é tímida diante da demanda/alcance).

A questão é que são ações que “não aparecem” agora… velho paradoxo da política na hora de abordar decisões, ações de governo.

Assim, a resposta veio fragmentada, embora de acordo com parte da realidade, além de aproveitar, inclusive, a valorização da presença do vice que é medico e tem experiência em gestão no setor privado (Orlando Costa Dias). Resposta incompleta para tema com vários vetores.

“A Emdurb presta um trabalho muito importante. Mas precisa melhorar os serviços e ter os funcionários junto com a gente, vamos ter que readequar, com equipe técnica. Eu quero ter liberdade de escolher as pessoas que vão trabalhar comigo. Haverá uma atenção grande para melhorar”.

CONTRAPONTO (2): Resposta econômica para duas áreas fundamentais. Cohab: liquidar a empesa e fazer gestão limpa é obrigação. O problema é que a candidata, como fizeram outros, não aborda o vácuo em ação para habitação em Bauru. Com o fim da faixa para os sem renda (federal), a extinção da CDHU (que já era inoperante na cidade), como a demanda será tratada?

Emdurb: é a maior prestadora de serviços públicos da região, embora tenha perdido setores como chorume, serviços ambientais (cata galho, capinação) e lixo saúde. Como ficará o contrato da coleta de lixo diante do estudo de PPP em curso? E gestão? A Emdurb tem vantagem competitiva com benefícios fiscais, em relação ao privado, mas tem estrutura que coloca seu centro de custo em condições difíceis de superar a concorrência (déficit de 10% do orçamento de R$ 65 milhões em 2020). Quais os caminhos, soluções, para essas questões?

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