Por Gustavo Candido
Essa semana, o governo chinês publicou um projeto com regras para limitar o uso de celulares por crianças e adolescentes. O país quer reduzir o vício em internet entre os mais jovens e para isso vai exigir que as empresas criem métodos de controle de acesso para os usuários.
Pelo projeto, usuários de 16 a 18 anos teriam permissão para usar a rede duas horas por dia, crianças de 8 a 16 anos teriam apenas uma hora e crianças menores de 8 anos, só oito minutos.
Ok, neste momento alguém pode pensar que a China quer controlar demais (ou ainda mais) a vida dos seus cidadãos, blá, blá, blá… Esse não é o ponto.
O vício em internet é um problema real e atinge não só chineses, mas pessoas no mundo. Basta olhar a sua volta (para não dizer o espelho) e perceber como o smartphone rouba a atenção e, consequentemente, o tempo das pessoas em todos dos lugares.
O levantamento anual realizado no mundo todo pela We Are Social sobre consumo da internet, mostra que o internauta brasileiro com idade entre 16 e 64 anos fica conectado, em média, 9h32 por dia! É a segunda maior média do mundo, atrás apenas da África do Sul (que é de um minuto a mais). Para se ter uma ideia, a média mundial é de 6h37.
Outro fato é que as crianças estão realmente sendo afetadas pelo excesso de tempo na frente de telas e para isso eu sugiro a leitura de “A fábrica de cretinos digitais” (Vestígio) do pesquisador francês Michel Desmurget. Amplamente embasada em estudos científicos, a obra mostra como o desenvolvimento físico e intelectual das crianças está sendo afetado pelo excesso de tempo online.
Ah, mas para o marketing digital isso é bom, não é? Alguns podem achar que sim, até porque quem não sai da internet tende a se tornar um consumidor sem controle, uma vez que comprar online é fácil e rápido e o excesso de anúncios é incontrolável.
Eu penso que não e a razão para esse ponto de vista é o fato de que – ao contrário do que se imaginou no passado – ter acesso à uma quantidade gigantesca de informação online não fez das pessoas mais cultas, inteligentes, sociáveis ou saudáveis. Ao contrário. Que tipo de consumidores estão se formando?
Geralmente, quem fica muito tempo conectado deixa de conviver de forma natural com as pessoas ao seu redor, conversa menos, busca menos opiniões e fontes de informação. Isso sem falar nos males para saúde: sedentarismo, obesidade, problemas na visão e na capacidade de concentração e – talvez os piores de todos – a ansiedade e a depressão.
A velocidade da internet mudou a maneira como interpretamos o mundo e quem não busca ter controle sobre isso sofre. Não ter uma resposta rápida no WhatsApp, irrita; não receber o e-mail esperado irrita; não conseguir postar algo na rede social enquanto todos estão postando, irrita. E por aí vai.
O controle é possível. É preciso começar.
O cientista da computação americano Jaron Lanier, autor de “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais” (Intrínseca) faz uma analogia que eu gosto. Ele lembra de quando se descobriu que a tinta usada para pintar as casas nos Estados Unidos continha chumbo e isso é prejudicial à saúde. “Ninguém declarou que as casas nunca mais deveriam ser pintadas”, diz. A solução inteligente foi buscar uma nova tinta sem chumbo (que a indústria tratou de desenvolver rapidamente).
Não vamos viver mais sem internet, que é uma das invenções mais geniais de todos os tempos. Sua existência facilita a vida de tantas maneiras que não como imaginar os anos que virão sem sua presença no nosso dia a dia. Mas é preciso “tirar o chumbo” da sua fórmula.
Não posso falar como especialista na área da saúde, mas posso opinar como usuário que trabalha online tenta controlar o uso da internet em outros momentos do dia.
Minhas sugestões:
– Retire as notificações dos aplicativos que não forem importantes – Notificações são um veneno! Você não precisa saber de tudo o tempo todo. NÃO PRECISA! Ninguém é importante a esse ponto, desculpe informar. As sinalizações emitidas pelo seu telefone são as grandes responsáveis por manter você conectado o tempo todo a ele.
– Determine um horário para parar de olhar para o seu smartphone – A não ser que você seja um médico, responsável direto pela vida de alguém ou sua profissão determine, você não precisa ficar conectado 24 horas olhando para o smartphone. Responder mensagens 3 da manhã não é sinal de eficiência e nem que você está “on, enquanto a concorrência dorme” (rs), é apenas sinal de que você está com problemas e não tem controle da sua vida.
– Exercite ficar longe do seu smartphone – Você não é obrigado (a) a fazer postagens na academia, no restaurante, no supermercado, no meio de uma festa, etc. Eu sei, todo mundo faz isso e você sente a pressão para fazer o mesmo. Tente deixar o smartphone em casa (ou simplesmente no bolso) às vezes e você vai ver que consegue viver sem ele o tempo todo.
– Eduque seus clientes, amigos e usuários em geral – De novo, a não ser um caso de vida ou morte ou que o seu trabalho exija, não se sinta obrigado (a) a responder tudo imediatamente. Ensine quem convive com você que existem regras, horários e procedimentos para tratar com você.
– Só siga o que te faz bem – Não perca tempo acompanhando online pessoas, marcas, programas e produtos que não fazem bem para você. Use a internet para ser feliz, para melhorar a sua vida, para reproduzir coisas boas para as outras pessoas (no fundo é isso que as avós querem quando mandam figurinhas floridas com mensagens de “bom dia”, elas só não aprenderam ainda a controlar a dose, rs). Transforme o tempo que você está online em um momento útil e prazeroso e não em um processo que oprime e incomoda.
A lista poderia ser maior. O importante é que cada um encontre o seu equilíbrio e assuma o controle da sua vida.
Não canso de dizer que o problema não é a tecnologia, a internet ou a rede social, é a forma como você utiliza isso tudo. Reflita sobre isso!
O autor é consultor de marketing digital, fundador da Conten Comunicação Digital. Também é jornalista e autor de livros sobre Trade Marketing, Atendimento e Multicanalidade e Gestão de Marcas que você pode encontrar na Amazon.
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