YouTube é a nova televisão! E agora?

Por Gustavo Cândido

Pela primeira vez na história, o YouTube está sendo mais assistido nas tevês do que nos smartphones e computadores nos Estados Unidos. Quem trouxe a informação foi o CEO da empresa, Neal Mohan, em sua declaração anual divulgada no dia 11/2. Segundo o texto, os espectadores americanos estão passando mais de 1 bilhão de horas por dia assistindo algo do YouTube na televisão.
A plataforma, que em 2025 completa 20 anos, também é – segundo a Nielsen – a primeira no streaming norte-americano, ficando à frente da Netflix nos últimos dois anos, o que, para o executivo, mostra que estamos diante da “nova televisão”.
“Mas a ‘nova’ televisão não se parece com a ‘velha’ televisão. Ela é interativa e inclui coisas como o Shorts (sim, as pessoas assistem em TVs), podcasts e transmissões ao vivo, junto com esportes, seriados e talk shows que as pessoas já amam”, disse Mohan.
“À medida que mais criadores produzem conteúdo para a tela grande, estamos trazendo o melhor do YouTube para as TVs, incluindo uma experiência de segunda tela que permite que você use seu telefone para interagir com o vídeo que está assistindo na TV — por exemplo, para deixar um comentário ou fazer uma compra”, completou o executivo.
Fenômeno deve se repetir em outros países
Embora estejamos falando do público nos Estados Unidos, é bastante provável que o mesmo aconteça em breve em outros países, inclusive no Brasil. Por aqui o YouTube já era em 2024 o terceiro aplicativo mais utilizado pelo público, atrás apenas do TikTok e do WhatsApp, segundo o relatório Digital 2024 da We Are Social.
O fato é que depois que os aparelhos de televisão se tornaram inteligentes e conectados à internet as opções dos usuários se tornaram infinitas. O que falta é mudança de hábito (e para os mais velhos, às vezes, aprender a lidar com os comandos), mas é uma questão de tempo.
Segundo o The News, por exemplo, no dia 12, o jogo entre Corinthians e Santos foi assistido por mais de 3 milhões de pessoas ao vivo na Cazé TV, um canal que compete diretamente com as emissoras tradicionais que transmitem eventos esportivos e hoje conta com 17,8 milhões de inscritos.
Ainda de acordo com o portal de notícias, na semana passada, a waffle TV inaugurou seu estúdio na Faria Lima com o programa diário Estamos em Outra que está virando febre entre os jovens.

Mas afinal, o que isso significa?
É um erro acreditar que basta surgir uma tecnologia nova para tudo mudar. Não é assim que funciona. As coisas só mudam quando as pessoas adotam a tecnologia.
O crescimento do YouTube – assim como dos serviços de streaming de modo geral – acontece porque a cada ano, a geração que viveu acostumada a ver novela e assistir o jornal à noite diminui, assim como a cada ano uma nova geração consumidora de conteúdo online desde a infância ganha espaço no mercado. É a vida.
Em alguns anos, a programação de TV como conhecemos não vai poder ser a mesma simplesmente porque não vai atrair atenção de uma grande fatia do público e um mídia de massa não pode sobreviver para atender apenas um nicho.

Algumas emissoras já entenderam que estar no YouTube é importante para a conexão e fixação da marca com outras gerações. Outras, anda patinam acreditando que estão competindo sem perceber que hoje investir em seu aplicativo próprio de streaming não basta porque o YouTube oferece uma quantidade infinita de conteúdo de graça – do tutorial para qualquer coisa ao documentário sobre o tema mais específico.
O meu consumo de vídeos no YouTube há alguns anos é maior do que o meu consumo de conteúdo no streaming e na TV paga. É na plataforma que eu crio a minha programação personalizada para assistir na hora que eu desejo. O que pode ser melhor que isso?
As emissoras tradicionais precisam ser rápidas e os produtores de conteúdo tem ainda mais razão para trabalhar. As possibilidades são infinitas!

1 comentário em “YouTube é a nova televisão! E agora?”

  1. No início de 2002, publiquei um artigo intitulado “A internet na TV ou a TV na internet?”.

    Naquele momento, eu já acumulava mais de dois anos de experiências com a transmissão de áudio e vídeo pela internet, utilizando as tecnologias disponíveis. Com esse conhecimento, criamos a FAAC WebTV, uma plataforma de transmissão de programas via internet, que segue em atividade na Unesp até hoje.

    A trilha que levaria a sociedade às atuais formas de consumo de TV já estava desenhada. Ao longo dos anos, surgiram plataformas como YouTube, Netflix e muitas outras, consolidando a internet como um meio essencial para a difusão de entretenimento e informação.

    Grandes programadoras, como TNT, BBC e Universal, passaram a entregar seus filmes e séries diretamente ao consumidor final, criando seus próprios serviços OTT (Over The Top) — uma nova forma de distribuição de conteúdo audiovisual que dispensa operadoras de TV por assinatura.

    Nos anos 2000, a TV aberta brasileira concentrava cerca de 70% do investimento publicitário no país, enquanto os demais 30% eram distribuídos entre rádio, jornais, revistas, TV por assinatura e mídias externas. Com a mudança no comportamento do público, essa divisão sofreu um impacto drástico. Em 2024, a TV aberta passou a representar apenas 38% do bolo publicitário, enquanto a internet, que há 24 anos detinha menos de 2% desse mercado, saltou para 36%.

    Ficou cada vez mais evidente que as novas tecnologias não apenas diversificaram os geradores de conteúdo (tanto de entretenimento quanto de informação), mas também possibilitaram o surgimento de novas linguagens e formatos de comunicação. A facilidade de montar nossa própria programação — tanto de áudio quanto de vídeo — tornou-se um hábito. A questão da qualidade do conteúdo e da veracidade das informações compartilhadas, no entanto, é um tema à parte.

    Em 2018, a Netflix ultrapassou o número de assinantes da TV por assinatura nos Estados Unidos, um marco nessa transformação. A possibilidade de publicar ideias no YouTube na forma de vídeo se tornou parte fundamental dessa evolução tecnológica e social.

    Vivemos um ciclo evolutivo no qual tecnologia e sociedade se influenciam mutuamente, transformando constantemente costumes e comportamentos.

    Pesquisas de 2023 ainda indicam que um grande percentual da população segue consumindo informação e entretenimento pela TV aberta, mas, ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas afirmam que passaram a utilizar também a internet para esse fim.

    É evidente que essa mudança de comportamento da sociedade exigirá transformações estratégicas fundamentais nos meios de comunicação tradicionais.

    Concordando com o autor: “É a vida”.

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