Por Gustavo Cândido
O objetivo desse artigo não é oferecer uma fórmula para quem quer ser eleito. Essa receita mágica não existe no mundo real. Se alguém estiver vendendo essa solução, desconfie.
Meu objetivo hoje é gerar reflexão ao apontar algumas semelhanças entre a corrida eleitoral e o processo de venda tradicional. Guiados por estratégias de marketing, ambos os casos estão centrados na persuasão e na conquista de confiança. Assim como em uma venda, onde o objetivo é convencer o consumidor a adquirir um produto ou serviço, em uma campanha eleitoral, a meta é conquistar o voto do eleitor.
De modo geral, pensando rápido, é possível elencar cinco pontos principais que servem os dois cenários. Vai disputar as próximas eleições? Confira o texto e pense sobre isso antes de decidir onde vai investir sua verba de campanha.
1) Identifique quem é o público-alvo
Na venda tradicional, identificar o público-alvo é crucial para direcionar esforços de marketing de forma eficaz. Nenhum planejamento pode ser feito sem que se saiba antes quem deve ser atingido.
Da mesma forma, em uma campanha eleitoral, é essencial conhecer o perfil dos eleitores: suas necessidades, desejos, preocupações e comportamentos. Para isso existem técnicas de segmentação que dividem o eleitorado em grupos específicos, baseando-se em critérios demográficos, psicográficos e comportamentais.
Isso permite a criação de mensagens personalizadas e estratégias direcionadas para cada segmento. Assim como não existe um produto que seja vendido para todo mundo – nem a Coca-Cola – ninguém consegue o voto de toda uma população.
2) Construa uma “marca” e a posicione no “mercado”
No mercado tradicional, o produto deve ser desenvolvido e posicionado de maneira a atender às necessidades do consumidor. Em uma campanha eleitoral, o “produto” é o candidato. Construir uma marca pessoal forte e uma imagem positiva é fundamental para atrair eleitores.
Assim como um produto ou serviço precisa de uma proposta de valor clara para se destacar no mercado, o candidato deve apresentar propostas e planos de ação que agreguem valor à vida dos eleitores. A mensagem deve ser clara, consistente e relevante.
Um alerta importante: mentir e criar uma imagem que não condiz com a realidade – como acontece com alguns produtos no mercado – pode até gerar uma venda, mas a rejeição vem em seguida e com ela a crítica e até a ojeriza total. Inventar valores que não existem para ganhar uma eleição é uma prática comum no mundo todo, mas uma hora a tática para de funcionar.
“Pode-se enganar alguns homens, ou enganar a todos em determinados lugares e por algum tempo; mas não se pode enganar todos os homens em todos os lugares e em todos os séculos”, como diz o teólogo francês Jacques Abbadie. A lição escrita no século XVII segue valendo.
3) Encontre seu alvo usando o canal correto (aquele onde ele está)
Não adianta expor um produto ou uma ideia em um lugar onde ninguém vê, concorda? Candidatos devem utilizar uma abordagem multicanal para alcançar o eleitorado. Isso pode incluir mídias tradicionais (TV, rádio, jornais) e mídias digitais (redes sociais, e-mails, aplicativos de mensagem). Uma comunicação integrada garante que a mensagem chegue a todos os segmentos do público.
Decidir onde investir está relacionado a conhecer o público-alvo. Se o seu eleitor ainda lê jornais, então vale a pena tentar falar com ele nessa mídia. Se está majoritariamente nas redes sociais, é preciso saber qual e criar conteúdos que sejam adequados ao canal.
No marketing, contar histórias envolventes ajuda a conectar emocionalmente com o consumidor. No marketing político, o storytelling pode humanizar o candidato, criando uma narrativa que ressoe com as experiências e aspirações dos eleitores. Mais uma vez vem o alerta: o que conecta deve ser verdadeiro.
4) Capture leads e mantenha-os interessados
No processo de vendas, capturar leads qualificados (consumidores com grandes chances de efetivar a compra) é essencial para a conversão (a conclusão da transação comercial, no caso de uma eleição, o voto no candidato).
Em uma campanha eleitoral, isso se traduz em engajar e mobilizar potenciais eleitores. Utilizar estratégias de inbound marketing, como conteúdos relevantes e interação nas redes sociais, pode ajudar a atrair e converter eleitores indecisos.
Manter o eleitor engajado é similar a manter um cliente interessado. Interações constantes, seja por meio de eventos, debates ou redes sociais, ajudam a construir um relacionamento duradouro e de confiança. Isso leva tempo e dedicação.
Em vendas, um call to action (uma chamada para a ação) claro é essencial para a conversão. No contexto eleitoral, a mesma lógica é fundamental para incentivar os eleitores a votarem. Isso pode ser feito através de mensagens diretas, campanhas de mobilização e ações que facilitem o acesso às urnas.
Utilizar provas sociais, como endossos de figuras influentes e depoimentos de eleitores realmente satisfeitos, pode aumentar a credibilidade do candidato. Isso é equivalente a avaliações positivas de clientes em um processo de venda.
5) Analise os dados coletados desde o primeiro dia de campanha
No marketing tradicional, a análise de dados é essencial para ajustar estratégias. Da mesma forma, em uma campanha política, monitorar o desempenho e coletar feedback dos eleitores permite ajustes rápidos e eficazes na abordagem.
Estar preparado para adaptar a campanha com base em novas informações é crucial. Isso pode incluir mudanças na comunicação, novos enfoques nas propostas e ajustes na segmentação do público.
O processo eleitoral é dinâmico e acontecimentos durante o período de campanha, mesmo que com outros candidatos, podem mudar totalmente a percepção do eleitor. Monitorar o que as pessoas estão pensando sobre o que acontece é fundamental.
Essa lista foi uma surpresa?
Assim como no processo de venda tradicional, onde o sucesso depende de uma combinação de identificação do público-alvo, desenvolvimento de produto, comunicação eficaz e engajamento contínuo, vencer uma eleição exige uma abordagem estratégica e bem planejada.
A chave está em entender as necessidades do público, comunicar uma proposta de valor clara e manter um relacionamento próximo e engajado com os eleitores ao longo de toda a campanha.
Não, não é uma fórmula. Mas o conhecimento está aí e quem souber usá-lo tem grandes chances de ser bem-sucedido.