Educação especial: atendidos em entidades são mais do dobro da rede municipal; Estado é ausente!

A Rede Municipal de Ensino em Bauru atende 726 alunos no programa de Educação Especial e Inclusiva. A cobertura é menos da metade do total de assistidos por entidades sociais, como APAE, Sorri, Lar Santa Luzia, Apiece. As entidades assumem 1.677 inscritos. E o governo do Estado? Negligência, descaso, há anos, muitos anos.

Conforme debate em audiência pública realizada ontem, no plenário do Legislativo, somente agora o Estado sinaliza com 400 vagas. O encontro presidido pelo vereador Júlio César não contou com representante da rede estadual. Na semana passada, em outra audiência, o CONTRAPONTO levantou que, além da ausência do Estado, as pessoas com deficiência estão desamparadas em outros estágios. A União dá cobertura (financiamento) somente até a pessoa completar 29 anos e 11 meses. Centenas de bauruenses estão ou à mercê de alguma condição familiar ou sob a abnegação de entidades que vivem de bingos e doações para manterem os assistidos adultos, após completarem 30 anos.

Entre os matriculados na rede municipal para o ano letivo 2023, o autismo predomina. Estudantes com transtorno de desenvolvimento ou espectro de autismo (TEA) somam 290 matriculados no ensino infantil e 156 na fase seguinte, fundamental. Do quadro em Bauru, a deficiência intelectual predomina no fundamental com 59 inscritos e 26 no Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

Os 726 matriculados, entretanto, são poucos diante da presença em entidades do Terceiro Setor. Não fossem a Apae (852 alunos), Sorri (650), Apiece (110) e Lar Santa Luzia para Cegos (65), não haveria condição de superação de inúmeros desafios (da socialização ao aprendizado) e possibilidade de inclusão para o público.

Conforme os participantes da audiência pública, o Estado indica a abertura de 400 vagas somente neste ano. A rede estadual, como se sabe, é expressiva. A oferta é infinitamente menor do que a necessidade. E vem com atraso, apesar da educação especial e inclusiva ser direito.

Gestores, representantes de entidades e mães de alunos especiais relataram onde conseguiram avançar e os enormes desafios pela frente.

A educação especial em Bauru conta com 158 professores no ensino fundamental e adulto (Eja) e 87 no infantil, para 55 cuidadores no fundamental e 97 no infantil. Na visão de mães e integrantes de grupos que atuam no segmento, é preciso revisar a capacitação de cuidadores e ações essenciais na relação de vínculos, dentro e fora da sala de aula.

Para a mãe Luana Amorim, “o ambiente escolar e cuidadores não estão preparados para atender. Meu filho está lá por estar, mas sinto que não haja nenhum preparo e para ações básicas com a presença dele no ambiente e na dinâmica escolar. Demos sim um grande passo em criar o serviço, mas as escolas também carecem da presença de profissionais de saúde, o que resolveria boa parte dos casos de suporte básicos, inclusive na alimentação especial para pessoas especiais”, comenta.

Para a mãe, acidentes comuns ao meio, quedas naturais da criança seriam resolvidos. “O cuidador tem de ter vínculo, compreender as especificidades de cada aluno especial e interagir, atuar. As escolas também não contam com psicólogos e o sentido de socializar com os demais e alfabetização alternativa, especial, também está disperso”, amplia.

Para Renata Ferregutti, que atua com associação com 258 mães de autistas, “falta interação das escolas com os pais. Cada autista é único e a falta de conversa com as mães que lidam com as particularidades de cada um de seus filhos gera ruídos que podem ser eliminados. Precisa ser construído este caminho”, posiciona.

 

LEIA MAIS em: Ausência de programa público põe sob risco pessoas com deficiência a partir dos 30 anos – CONTRAPONTO

 

 

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