Sérgio Fleury do jornal ‘Debate’ morre aos 64 anos

O jornalismo raiz perdeu hoje Sérgio Fleury Moraes, que faleceu aos 64 anos, em Jaú. Estava internado no Hospital Amaral Carvalho, lutando contra câncer.

Sérgio deixa os filhos Caio, André Hunnicutt Fleury Moraes e Sérgio Fleury Moraes Júnior e os irmãos Cibele, César, Neide e Neusa.

Nascido em 25 de outubro de 1959, em Santo Anastácio (SP), ele foi o fundador do Jornal Debate, com sede em Santa Cruz do Rio Pardo.

Acompanhei a elaboração do projeto do jornal regional, em Santa Cruz e demais cidades próximas de Ourinhos, ainda quando Sérgio defendia a ideia no curso de graduação da Faculdade de Jornalismo que gerou a Unesp, em 1989 (ano da primeira turma unespiana, da qual fiz parte).

Curioso, desbravador, perdigueiro da notícia, inconformado com injustiças e privilégios de castas sociais, Sérgio bebeu na fonte do jornalismo de pesquisa, de vigilância permanente.

Desde muito jovem Sérgio demonstrava curiosidade, aptidão para a comunicação. Consta que já aos cinco anos de idade criava e vendia para a própria família pequenas histórias em quadrinhos. Na escola fez “O Furinho”, uma edição que montava e rodava no mimiógrafo.

Já o jornal “Debate” foi instalado na garagem da família. Ele arrendou uma máquina de impressão de jornal partidário, “O Galo”. Depois da morte do proprietário da máquina, pretendia assumir de vez a produção de reportagens, sua paixão. Mas teve de seguir longa jornada para por o jornalismo na rua.

Sérgio Fleury incomodou! E sofreu os percalços injustos que recaem sobre todo repórter que prima pelo ofício.

Com o nascimento do “Debate”, a cidade de Santa Cruz do Rio Pardo soube o que é fazer notícia fora dos conchavos, muito além da coluna social, da cobertura de escândalos e bastidores que muito atormentam interesses políticos e econômicos e geram reações do poder e pelo poder.

Em um dos casos mais emblemáticos da imprensa regional do País, sofreu abuso de autoridade e censura, depois de seu periódico denunciar um juiz da cidade, que tinha aluguel da casa e do telefone pagos pela Prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo. O Tribunal de Contas soube do caso pelo “Debate” e determinou que a prefeitura deixasse de arcar com as despesas. O juiz processou o jornalista. A indenização judicial gerou reação no País.

Entre outras matérias, após publicar ações de político da cidade, mesmo sob ordem judicial contrária, Sérgio respondeu por desobediência. Em 1996, foi preso durante 19 dias na carceragem da Delegacia de Santa Cruz. Estive lá, na ocasião, em ato de solidariedade ao colega.

Sérgio Fleury não desistiu. O caso teve repercussão nacional e fomentou debate sobre a Lei de Imprensa, que estava em vigor desde 1967, no ápice da ditadura, e que não condizia com o período democrático.

A Lei da Imprensa caiu em 2009, mas Fleury manteve a chama da reportagem em pauta.

Sérgio Fleury Moraes cumpriu seu roteiro de passagem com inconformismo e sem amarras, em um momento onde ser peregrino diário da notícia é tarefa de poucos, por poucos. Sentimentos! Abraços aos familiares. 

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